Afiz Sadi
Afiz Sadi nasceu 15 de agosto em 1924. Era descendente de família libanesa e natural de Jardinópolis (SP). Filho de vendedor ambulante, mudou-se para Belo Horizonte onde se graduou pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Lá conheceu Juscelino Kubistchek de Oliveira que, além de político era urologista e lhe forneceu inspiração para que seguisse a mesma especialidade. Após sua formatura, através de concurso, transferiu-se para a Escola Paulista de Medicina onde fez doutoramento e livre-docência em 1955. Sucedeu a Rodolpho de Freitas e foi o segundo professor de urologia da EPM, nela pontificando como titular por 30 anos (!) – (1964-1994) até sua aposentadoria compulsória, não deixando, contudo, de exercer a medicina em seu consultório.
Igualmente, colaborou com outras instituições de ensino em seus albores. Foi professor titular de urologia na Faculdade de Medicina de Santos (1967-1974) e paraninfo de sua 1º turma, em 1972; professor titular de urologia na Faculdade de Medicina do ABC (1972-1976) e diretor dessa escola de 1973-1974.
Na Escola Paulista de Medicina fundou a Residência Médica em 1962 e a Pós-Graduação em 1975.
Presidiu a Comissão de Ética Médica e Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) – sede nacional (1976-1977).
Contudo, sua influência e interação com seu pares tornaram-no também presidente do Departamento de Urologia da Associação Paulista de Medicina e presidente da seccional de São Paulo da SBU (1986-1987). Ingressou como membro titular da Academia de Medicina de São Paulo em 1956, escolhendo para patrono Rodolpho de Freitas, seu antecessor e primeiro professor de urologia da Escola Paulista de Medicina. Nesse sodalício permaneceu por 54 anos (!), galgando a condição de membro emérito.
Outrossim, teve o privilégio de ser membro honorário da Academia de Medicina de Minas Gerais e da Academia Nacional de Medicina. Desfrutou também a condição de membro emérito da Sociedade Brasileira de Urologia Afiz Sadi era dotado de grande cultura e notória habilidade em preparar discursos e panegíricos. Dedicou-se também à literatura, produzindo ensaios, trabalhos em historiografia e crônicas. Entretanto, sua sensibilidade e vivacidade tornaram-no, particularmente um notável poeta. Segue um espécimen de sua verve dentre inúmeros poemas que produziu, intitulado “Correr do Tempo”: Quanto mais o tempo passa / Sinto o passar dos anos. / Não sinto o passar do tempo / E com o tempo, os desenganos. / Quisera que nesta vida / O tempo jamais passasse / Quanto mais o tempo passa / A vida pára. Se o tempo parasse? / Será que a vida andaria?/ Será que fim não teria? / E ao tempo o que ofertaria? / Se tempo à vida daria? / Mas tempo e vida andam juntos / A vida luta com o tempo. / O tempo dá tempo à vida / E a vida é luta sem tempo.
Afiz Sadi ingressou na Academia Cristã de Letras em 1982, tendo escolhido para seu patrono Gibran Kalil Gibran. Nesse cenáculo literário teve o privilégio de enobrecer seus pares de profissão, tornando-se, ao longo de 43 anos, um dentre os três presidentes médicos desse silogeu, exercendo seus dois mandatos (1988-1989 e 1990-1991) com galhardia e denodo. Com a honra de presidente emérito, foi o fundador da cadeira no 40 e titular durante 28 anos!
Dentre suas 40 comendas recebidas, destacam-se: medalha da Marinha Brasileira e da Independência da República Árabe Síria; Gran Cruz de mérito nacional; menções honrosas em poesias da Câmara Municipal de São Paulo e medalha Anchieta da Assembleia Legislativa de São Paulo.
Afiz Sadi tinha como hobby o estudo da tapeçaria persa e o preparo de alguns quitutes gastronômicos. Era dotado de memória prodigiosa e grande lucidez, mesmo em idade provecta. Colaborava com artigos desde 1983 na secção “Tendências” da Folha de S. Paulo e, ultimamente, no jornal da Associação Paulista de Imprensa. Foi autor de 10 livros de urologia e 12 livros de poesia e prosa.
São de sua lavra dentre outras obras: Urologia Clínica e Cirúrgica (1965); Ritmos e Semitons (1970); Urgências em Urologia (1971); Poesias em Vários Tons (1971); Patologia Urogenital (2 volumes, 1975); O Tempo e a Vida (s/d); Ritmo e Poesia (1979) Prosa & Verso (1992); Hiperplasia da Próstata – Adenoma (1998); Academia Cristã de Letras – 38 Anos (2005) e Correr do Tempo (poesias, 2008).
Afiz Sadi, contrariando o tempo que parecia ter parado de correr, faleceu em 30 de junho de 2010, aos 85 anos, deixando, além da esposa, Sra. Leila, três filhos – um deles, Marcos Vinícius Sadi, afamado urologista –, cinco netos, e um apreciável somatório de serviços prestados à urologia, à ciência, à intelectualidade e à literatura.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.