Arnaldo Amado Ferreira
Arnaldo Amado Ferreira nasceu na cidade de Teófilo Otoni (MG), em 20 de abril de 1896. Era filho de Júlio Amado Ferreira e de Elisa Claudia Marrey Ferreira.
Iniciou o curso primário em sua cidade natal, concluindo-o em São Paulo. Em 1911, aprovado no exame de admissão, ingressou no Ginásio do Estado na capital paulista, bacharelando-se em ciências e letras em 1916, como um dos primeiros alunos de sua turma, e, no mesmo ano, presidiu o Centro Acadêmico 16 de Setembro dessa escola.
Ingressou, em 1917, na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Durante o curso acadêmico foi interno do Laboratório Central da Santa Casa de São Paulo; da 2ª Clínica Cirúrgica; da Assistência Pública de São Paulo; e, por concurso, interno da Clínica Obstétrica e da Clínica Ginecológica. Graduou-se na quinta turma, em 1922, e, em 14 de março de 1923, defendeu sua tese de doutoramento intitulada Contribuição para o Estudo da Drenagem em Ginecologia, sendo aprovado com distinção.
Dedicou-se à carreira universitária e, no ano seguinte à sua formatura, precisamente em 11 de junho de 1923, foi nomeado assistente interino da cadeira de terapêutica clínica e arte de formular. Em 20 de dezembro desse mesmo ano passou a ser assistente efetivo da cadeira de medicina legal, sendo pouco tempo depois, por merecimento, nomeado 1º assistente e chefe de laboratório dessa disciplina. Aí galgou diversas posições, obtendo a livre-docência em 1926, e ministrando o curso teórico para os alunos do sexto ano, juntamente com o professor titular, além de chefiar as Secções de Técnica de Laboratório, Imunologia, Identificação Judiciária, Endocrinologia e Clínica da cadeira de medicina legal.
Com Flamínio Fávero realizou e publicou, em 1927, a primeira perícia de investigação de paternidade por tipo sanguíneo A-B-O no continente sul-americano.
Prosseguindo suas pesquisas no campo da hematologia forense, foi o introdutor no meio médico-legal e jurídico brasileiro da técnica da investigação da paternidade pelos tipos sanguíneos, utilizando os sistemas M-N, rH-Hr, Lutheran, Keel-Celano, Duffly e Lewis.
Em 1951, juntamente com os professores Zeferino Vaz e Jaime Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, integrou a comissão organizadora nomeada pelo Conselho Universitário da USP para a criação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.
Em 1955 prestou concurso para professor adjunto de medicina legal, tendo sido aprovado com distinção e voto de louvor pela comissão julgadora. Regeu, por nove vezes, a cadeira de medicina legal durante os impedimentos do titular, professor Flamínio Fávero, que, após a sua aposentadoria, foi designado pela congregação da FMUSP para ser o professor titular interino da cátedra. Afastou-se definitivamente em maio de 1956, por aposentadoria, após ter dedicado de 34 anos de sua vida a essa instituição de ensino. Ademais foi representante dos livre-docentes junto ao Conselho Universitário da FMUSP de 1941 a 1956.
Arnaldo Amado Ferreira dedicou-se intensamente ao ensino da deontologia médica, tendo publicado inúmeros trabalhos dos quais se destacam: “A Importância do Estudo da Deontologia Médica” e “Aspectos Interessantes da Responsabilidade Legal e Moral do Médico”.
Foi orientador e ou mentor de diversas teses de doutorado e de livre-docência.
Outrossim, participou de inúmeras bancas examinadoras em concursos de cátedra, livre-docência e doutorado, bem como ministrou cursos de extensão universitária em São Paulo e em outros estados.
Durante sua longa vida profissional foi autor de mais de 5.000 exames, perícias, laudos e pareceres, versando todos os campos da sua especialidade que se encontram reunidos, em ordem cronológica, num total de 30 volumes, na biblioteca do Instituto Oscar Freire da FMUSP.
Em 1957 foi convidado pela Faculdade de Direito do Vale do Paraíba, sediada em São José dos Campos, para organizar a disciplina de medicina legal, ocupando o cargo de professor titular. Ademais, nessa instituição de ensino foi, por três vezes sucessivas, eleito diretor, como também se tornou simultaneamente, no último mandato, presidente da Fundação Vale-Paraibana de Ensino, entidade que congregava 3.500 alunos de cinco estabelecimentos de ensino superior.
Arnaldo Amado Ferreira, em 1967, atendendo ao pedido da Fundação Lusíada, organizou a Faculdade de Ciências Médicas de Santos (SP), sendo o primeiro diretor e professor de deontologia médica e medicina legal.
Foi igualmente um dos fundadores da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (SP) e autor do estudo inicial para a instalação da Faculdade de Medicina do ABC nessa cidade.
Dentre outras das funções exercidas ressaltam-se: diretor do Instituto Oscar Freire da FMUSP; membro do Conselho Universitário da USP e de sua Comissão de Ensino e Regimento; membro do Conselho de Higiene e Segurança do Trabalho do Estado de São Paulo; secretário geral da 2ª Conferência Latino-Americana de Medicina Legal, Psiquiatría e Neurologia (São Paulo e Rio de Janeiro, 1931); representante da USP, da FMUSP e da Sociedade Paulista de História da Medicina no 1º Congresso Brasileiro de História da Medicina (Rio de Janeiro, 1951); presidente de honra do 1º Congresso do Nordeste Mineiro em comemoração à fundação de Teófilo Otoni (1953); organizador e secretário-geral do 1º Congresso Brasileiro de Medicina Legal comemorativo ao 4º Centenário de Fundação da Cidade de São Paulo (1954); membro da comissão organizadora das comemorações do 4º Centenário de Fundação da Cidade de São Paulo; membro da comissão de fundos universitários para pesquisa da USP; presidente do Conselho de Medalhas Pirajá da Silva, Rocha Lima e Vital Brazil; secretário do Conselho de Medalhas Nina Rodrigues e Oscar Freire; presidente da comissão organizadora das comemorações do Centenário de Nascimento de Vital Brazil; representante da USP na abertura do sarcófago do padre Diogo Antônio Feijó para estudos antropológicos; membro, juntamente com os professores Antonio Ferreira de Almeida Júnior e Joaquim Vieira Filho da comissão de deontologia da Associação Paulista de Medicina (APM) para a elaboração do projeto do Código de Ética Médica; membro do conselho deliberativo do Departamento de Previdência da APM; membro e relator oficial do Congresso de Higiene Mental de Otawa (Canadá, 1952); Conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo; redator dos Arquivos da Sociedade de Medicina Legal e Criminologia de São Paulo; e correspondente da Excepta Médica de Amsterdan, Holanda.
Arnaldo Amado Ferreira ingressou como membro titular da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, em 15 de julho de 1935. Galgou a condição de membro emérito, permanecendo nesse sodalício por 40 anos!
Dentre as entidades que participou salientam-se: Sociedade Paulista de História da Medicina (presidente); Sociedade de Medicina Legal Brasileira (secretário, presidente e sócio honorário); Academia Brasileira de Medicina Militar (honorário); Academia Nacional de Medicina (correspondente); International Society of Hematology (titular, EUA); Sociedade de Biotipologia e Eugenia da Argentina (honorário); Círculo dos Médicos Legistas de Rosário (honorário, Argentina); Instituto da Academia de Letras Mackenzie (SP); Associação dos Médicos Legistas do Estado de São Paulo (honorário); e Associação dos Médicos Legistas do Brasil.
Recebeu os títulos honoríficos universitários de professor emérito da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba e da Faculdade de Ciências Médicas de Santos. Arnaldo Amado Ferreira conquistou pelos seus trabalhos o Prêmio “Oscar Freire de Medicina Legal e Criminologia” – diploma e medalha de ouro – outorgado pela Sociedade de Medicina Legal e Criminologia de São Paulo, nos anos de 1940, 1946, 1950 e 1955; e o Prêmio “Arnaldo Vieira de Carvalho13” outorgado pela FMUSP, em 1949, pelo seu livro A Perícia Técnica em Medicina Legal e Criminologia (1946).
Participou de diversos congressos nacionais e internacionais, tendo escrito cinco livros e 150 trabalhos de investigação científica na sua especialidade em revistas do Brasil e do exterior. Muitas de suas técnicas originais de grande valor na investigação criminal fazem parte do 1º volume do seu livro Da Técnica Médico-Legal na Investigação Forense (1962 – dois volumes). Foram utilizadas, com sucesso, em outros países, tendo sido citadas inúmeras vezes por autores estrangeiros como John Glaister da Universidade de Glasgow, Escócia, em várias edições de seu “Compêndio de Medicina Legal”, e por Leopoldo Gomes da Universidade de Valencia, Espanha, no seu livro “Técnica Médico-Legal”.
Além de sua intensa atividade profissional foi um incansável cultor da história, tendo publicado vários trabalhos, tais como: “O Toque Real – A Imposição das Mãos”; “Salerno – Civitas Hipocrática”; “Montpellier e sua Escola de Medicina”; “Claudio Galeno – Médico do 2º Século da Era Cristã”; “O Barão Jean Dominique Larrey – Cirurgião de Napoleão Bonaparte”; “Um Fato Histórico Esclarecido – Considerações Acerca da Morte do Marechal Francisco Solano Lopes”; e “A Morte do Inconfidente Cláudio Manoel da Costa – Morte ou Suicídio” (publicação póstuma).
De acordo com Carlos da Silva Lacaz, seu biógrafo, Arnaldo Amado Ferreira foi um dos mais eminentes médicos legistas brasileiros, tendo sido galardoado com o título de professor honoris causa de medicina pelo National College of TorontoOntario do Canadá. Dentre outras honrarias recebidas, salientam-se as seguintes condecorações: grande oficial e posteriormente grã-cruz da Ordem do Mérito Médico do Brasil; cavaleiro das Palmas Acadêmicas da França; grã-cruz da Ordem de São Francisco pela Faculdade de Direito da USP; comendador da Ordem Infante D. Henrique; comendador da Ordem São Paulo Apóstolo; grande colar Marechal Rondon da Sociedade Geográfica Brasileira; grande colar do Instituto de Coimbra; colar D. Pedro I do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; colar da Academia Nacional de Medicina, da Sociedade Paulista de História da Medicina e da Academia de História de Farmácia e Química do Brasil; e medalhas Imperatriz Leopoldina, Pirajá da Silva, Universidade de Coimbra (Portugal); Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (titular e emérito); Instituto Brasileiro de História da Medicina (correspondente); Sociedade de História da Farmácia e Química do Brasil (honorário); Sociedade Geográfica Brasileira; The National Geographic Society of Washington (correspondente, EUA); Centro de Ciências e Letras de Campinas (correspondente); Marechal Rondon, General Couto Magalhães, Nina Rodrigues, Gaspar Vianna, Vital Brazil, Patriarca da Independência, Oswaldo Cruz15, Padre Anchieta, Padre Manoel da Nóbrega, José Bonifácio, Alexandre de Gusmão, Pedro Álvares Cabral, MMDC e Combatentes da Revolução Constitucionalista de 1932; e Arnaldo Vieira de Carvalho outorgada pela FMSUP por serviços prestados à medicina paulista e brasileira.
Arnaldo Amado Ferreira casou-se com Margarida Monteiro de Barros Ferreira e desse conúbio nasceram três filhos: Lygia Ferreira Gonçalves, casada com o dr. Pedro Silveira Gonçalves; Marina Eunice Ferreira Gandra, casada com o dr. Ygar Ribeiro Gandra; e Arnaldo Amado Ferreira Filho, casado com Vera Áurea Bohn Amado Ferreira.
Arnaldo Amado Ferreira faleceu em 26 de junho de 1975, aos 79 anos. Seu corpo foi velado no edifício central da FMUSP e sepultado no Cemitério Gethsemani. Seu nome é honrado como patrono da cadeira nº 76 da augusta Academia de Medicina de São Paulo e dá nome a duas ruas, respectivamente no bairro de Areia Branca, no município de Santos, e no bairro Vila Sonia, na capital paulista. Ademais, o governo do Estado de São Paulo através do Projeto de Lei no 651 de 1979, denominou a Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté de “Doutor Arnaldo Amado Ferreira”. Essa instituição constitui-se num dos mais importantes presídios do Estado de São Paulo, destinado principalmente à reclusão e tratamento de criminosos com desvios mentais.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
A foto e a maior parte dos dados aqui consignados foram gentilmente fornecidas pelo dr. Arnaldo Amado Ferreira Filho. Informações complementares foram obtidas no livro “Vultos da Medicina Brasileira” de Carlos da Silva Lacaz – Volume 4, página 43, 1963, e no jornal O Estado de S. Paulo – edição de 27 de junho de 1975 (sexta-feira), página 21.
Flamínio Fávero foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1937-1938, e é o patrono da cadeira nº 10 desse sodalício.
Zeferino Vaz é o patrono da cadeira nº 84 da Academia de Medicina de São Paulo.
De 1938 a 1964 foi membro de bancas examinadoras de biologia e de língua portuguesa nos exames vestibulares para ingresso na FMUSP.
Oscar Freire de Carvalho é o patrono da cadeira nº 93 da Academia de Medicina de São Paulo.
Vital Brazil Mineiro da Campanha é o patrono da cadeira nº 62 da Academia de Medicina de São Paulo.
Os resultados foram publicados pelo dr. Ricardo G. Daunt, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Antonio Ferreira de Almeida Júnior é o patrono da cadeira nº 35 da Academia de Medicina de São Paulo.
Em 1940 foi em decorrência do seu livro A Investigação Médico-Legal da Paternidade (Legislação, Doutrina e Perícia (1940).
Em 1946 foi em decorrência do seu livro A Perícia de Sangue e Armas de Fogo (1946).
Em 1950 foi em decorrência do seu livro Estudos de Técnica Médico-Legal (1950).
Em 1955 foi em decorrência do trabalho original “Reação de Flamínio Fávero para o Diagnóstico Precoce da Prenhez”.
Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho foi membro fundador e presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante dois mandatos anuais entre 1901-1902 e 1906-1907, e é o patrono da cadeira nº 11 desse silogeu.
Carlos da Silva Lacaz foi presidente da Academia de Medicina de São Paulo durante um mandato anual entre 1962-1963, e é o patrono da cadeira nº 53 desse sodalício.
Oswaldo Gonçalves Cruz é o patrono da cadeira nº 99 da Academia de Medicina de São Paulo.
MMDC é o acrônimo pelo qual se tornou conhecido o levante revolucionário paulista, em virtude das iniciais dos nomes dos manifestantes paulistas mortos: Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo.