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Biografia

Francisco Elias de Godoy Moreira

Francisco Elias de Godoy Moreira nasceu na cidade de Itatiba, no estado de São Paulo, em 11 de novembro de 1899. Fez seus estudos primários nessa região. Fato curioso que retrata o estudante disciplinado e aguerrido é que tinha de caminhar sozinho, vários quilômetros, praticamente no meio do mato, até chegar à escola. Concluída essa etapa, cursou o ginásio no Colégio Arquidiocesano de São Paulo e, em 1917, ingressou na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo completando o curso em 1922. 

De 1921 a 1922 frequentou, como acadêmico interno de clínica médica, o Serviço do professor A. C. Camargo e, em março de 1923, obteve o grau de doutor com a tese Contribuição ao Estudo das Perfurações Intestinais no Decurso da Febre Tifoide, considerado um tema de grande relevância para a época. 

Teve o seu currículo estudantil abrilhantado pela obtenção do primeiro lugar num concurso patrocinado pelo Instituto de Higiene da faculdade, sob a direção do professor Geraldo de Paula Souza. Esse prêmio seria o vaticínio de uma carreira notável, como de fato se concretizou. 

Uma vez concluído seus estudos, seguiu viagem para a Europa em direção a conceituados centros de ensino de ortopedia, obedecendo suas tendências vocacionais. Na Alemanha teve um proveitoso estágio com o professor Paulo Glaessner e, na Clínica Oskar-Helene-Heim, dirigida pelo professor Konrad Biesalski. Prosseguiu seus estudos como assistente interno no Instituto Ortopédico de Bolonha, Itália, sob orientação do professor Vittorio Putti, um dos mais famosos e importantes ortopedistas da época. 

De volta a São Paulo, a partir de 1926, começou a trabalhar na Santa Casa de São Paulo como assistente da 29a cadeira da clínica ortopédica e cirurgia infantil da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, serviço do professor Luiz Manoel Rezende Puech. Em 1938, após concurso de título e provas, obteve o título de livre-docente na mesma cadeira. Com o falecimento súbito, em 1939, do professor Rezende Puech, em memorável concurso, Godoy Moreira tornou-se o novo catedrático da disciplina de ortopedia e cirurgia infantil. Nessa ocasião a banca examinadora era composta pelos professores Benedito Montenegro, Edmundo Vasconcelos, Alfredo Alberto Pereira Monteiro, Francisco Castro Araújo e Achilles Ribeiro. A tese defendida por Godoy Moreira tinha o título Indicações dos Transplantes Ósseos em Ortopedia. 

Nesta ocasião a 29a cadeira funcionava no Pavilhão Fernandinho da Santa Casa de São Paulo, conforme convênio celebrado com o governo do estado de São Paulo e era chefiada pelo professor Domingos Define. Evitando conflitos, a direção da Faculdade de Medicina ofereceu ao professor Godoy Moreira o Serviço do professor Soares Hungria com 15 leitos numa enfermaria de homens. 

Com a construção da sede da Faculdade de Medicina pela Missão Rockfeller e, por força do acordo firmado, o governo de São Paulo obrigava-se a construir o Hospital das Clínicas, cujo início foi em 1938, durante a interventoria de Adhemar de Barros. Assim que terminou a construção do Hospital das Clínicas, na interventoria de Fernando Costa, em 1944, o professor Godoy Moreira foi indicado diretor clínico. De imediato, como há muito aguardava, o professor transferiu-se da Santa Casa e instalou seu serviço para atender os casos de acidentados, contando para isso com 80 leitos no novo hospital. 

Desde o início de sua gestão, o professor Godoy Moreira insistia junto à Congregação da Faculdade de Medicina, que o nome de sua cadeira passasse a ser denominada Clínica Ortopédica e Traumatológica (COT) que, uma vez aceita, foi adotada por todos os serviços universitários do país. 

Em 1946, num largo gesto de pioneirismo, fundou a revista do Hospital das Clínicas sob moldes atualizados e com proibição de propaganda inserida no corpo da revista. A partir de 2005 a Revista do Hospital das Clínicas teve seu nome modificado para Clinics, sendo editada no idioma inglês, o que aumentou sua abrangência e teve alto impacto científico, representando o lastro da tradicional instituição e clarividência do criador.

A edificação do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) deu-se sobre infausto acontecimento. A morte do filho do presidente Getúlio Vargas por conta de quadro de paralisia infantil do tipo ascendente, serviu de motivo para que o presidente, estimulado pelo professor Godoy Moreira, erguesse um hospital que contasse com recursos para atendimento de pacientes com poliomielite, sobretudo com pulmão de aço, imprescindível naquela ocasião no tratamento e que tanta falta fez para assistência ao filho de Getúlio. O IOT foi inaugurado em 1953, contando então com 300 leitos, equiparando-se aos principais centros de ortopedia, tornando-se um marco de excelência e referência do ensino, pesquisa e assistência. Aí, a partir de 1954, o ilustre professor criou grupos especializados dentro da própria ortopedia, o que concorreu para a formação de uma constelação de brilhantes livre-docentes, culminando, em 1970, com o estabelecimento de cursos de pós-graduação de altíssimo nível. Por tudo isso e com amparo do decreto-lei estadual 32.122, a partir de agosto de 1990, o Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo passou a se chamar Instituto de Ortopedia e Traumatologia “Professor F. E. Godoy Moreira”. Justa homenagem àquele que é considerado o fundador da especialidade de ortopedia e traumatologia em nosso país e em termos atuais. 

Godoy Moreira aposentou-se aos 67 anos, portanto, antes de sua aposentadoria compulsória, abrindo assim espaço para ascensão de outros à cátedra da ortopedia e traumatologia. Faleceu no dia 6 de janeiro de 1987, aos 87 anos, deixando o esboço de um monumento científico que vem sendo completado, pedra após pedra, por seus assistentes e discípulos. 

NOTAS

Esta biografia é uma autoria do Acad. Miguel Luiz Antonio Modolin, titular da cadeira nº 121 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Francisco Elias de Godoy Moreira.