Fernando Proença de Gouvêa
Fernando Proença de Gouvêa nasceu em 8 de junho de 1929, na cidade de São Paulo. É casado e filho de Ignácio Proença de Gouvêa e de Etelvina Pedroso de Gouvêa, ambos médicos.
Fez seu curso primário no Grupo Escolar Rodrigues Alves (1937-1940); e o ginasial e colegial no Colégio Arquidiocesano de São Paulo (1940-1948). Após um ano preparatório no Curso Brigadeiro (1949), ingressou, em 1950, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), na 38a turma, graduando-se em 1955.
Durante seu curso médico participou da Liga de Combate à Sífilis; de programas itinerantes de educação em saúde no interior de São Paulo, Salvador e Mato Grosso. Participou como acadêmico estagiário no Hospital das Clínicas (HC – 1952-1955) da 1ª Clínica Médica (hematologia), da 2a Clínica Médica (cardiologia) e da clínica de pediatria e puericultura. Após a sua graduação, a partir de fevereiro de 1956, passou a trabalhar na clínica pediátrica como assistente médico voluntário, onde permaneceu vinculado até o ano de 1981. Durante esse período foi plantonista assistente (a partir de fevereiro de 1957) e coordenador (1966-1970) do pronto-socorro de pediatria. Acumulou a função de supervisor dos leitos de pediatria do Hospital de Convalescentes de Suzano e da enfermaria de pediatria da Rua Cotoxó (1964-1966). Em 1971 foi nomeado diretor executivo do Instituto da Criança, permanecendo na função até dezembro de 1980, quando se desligou definitivamente do Instituto da Criança. Foi também diretor do pronto-socorro geral do Instituto Central do HC (janeiro de 1981 a março de 1983).
Fernando Proença de Gouvêa fez o curso pós-graduação em administração hospitalar e saúde pública na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (1970-1972). Estagiou durante cinco meses na Grã-Bretanha, frequentando serviços de saúde em Londres, New Castle Upon Tyne, Glascow e Brighton, com ênfase na atenção primária e pediatria social (professor Frederick Miller). Em novembro e dezembro de 1980, participou de visita aos serviços de saúde do Japão, com curso de treinamento em Hachiochi, seguido de visitas monitoradas em Tokio, Nagoya e Yonago. Em dezembro de 1979 participou de seminário na Universidade de Falmer (Brighton), com visitas a Unidades de Londres e Manchester. Em 1983, a convite da Federação Internacional de Hospitais, participou de conferências e visitou hospitais e unidades básicas de saúde de Nova Iorque, Detroit, Cidade do México e de São José da Costa Rica. Em 1986, a convite dos Partners of America, visitou duas vezes Chicago e Washington para conhecer o sistema de resgate às emergências nos Estados Unidos da América.
Desde 1954 foi funcionário da Prefeitura de São Paulo, onde começou como extranumerário diarista, em 1954, e posteriormente colaborador no Pronto-Socorro Municipal do Ipiranga (PSMI, 1955), fazendo visitas domiciliares às crianças desnutridas que tinham alta do Abrigo Pediátrico, referência na época para internar crianças vítimas de desidratação aguda por gastrenterite. Em 1963 assumiu, por concurso público, a função de médico efetivo da Prefeitura de São Paulo, exercendo o cargo de pediatra plantonista no Abrigo Pediátrico do PSMI até 1968, quando assumiu a direção do Pronto-Socorro Municipal da Lapa, recém-inaugurado, aí permanecendo até 1970. Tornou-se assistente do Departamento Municipal de Higiene (1970-1973) e assessor chefe da Secretaria de Higiene e Saúde. Além de suas funções no HC e na Prefeitura de São Paulo, exerceu o cargo de plantonista do Samdu (Serviço de Assistência Médica e Domiciliar de Urgência), inicialmente em São Paulo, como acadêmico (1955), e depois como médico, em Santos (1957-1960), e finalmente em São Paulo, como médico plantonista na Rua Vergueiro (1960-1970).
Fernando Proença de Gouvêa atuou também como assessor médico do Laboratório Winthrop (1960-1966). Como pediatra teve consultório particular de 1957 a 1985, quando parou de clinicar.
Quando era coordenador do pronto-socorro de pediatria do HC (1966-1970), foi designado seu representante na Comissão de Controle de Desidratação, posteriormente denominada Crai – Comissão de Recursos Assistenciais da Infância. Credenciados pela Secretaria de Estado da Saúde, foram reguladas e otimizadas todas as unidades públicas ou filantrópicas que atendiam, sem cobrar, crianças com gastrenterite aguda no município de São Paulo. Em reuniões mensais com o secretário da Saúde, o grupo teve a oportunidade de transformar os serviços participantes numa rede integrada, além de participar da política de saúde da criança no estado de São Paulo.
Quando dirigiu o pronto-socorro do HC (1981-1983), com o apoio da Secretaria de Estado da Saúde, adotou a mesma estratégia em relação aos Serviços Públicos de Emergência, fixos e móveis de São Paulo, criando o Craps (Coordenação dos Recursos de Pronto-Socorro), que através de reuniões semanais, conseguiu integrar os serviços de emergência; o Corpo de Bombeiros; os prontos-socorros e órgãos de direção para reformular e aprimorar os cuidados com o acidentado ou vítima de mal súbito no seu socorro imediato, no seu transporte, na sua recepção e resolutividade nos hospitais de referência.
Em 1975, foi indicado pelo professor Walter Leser ao prefeito de São Paulo, engenheiro Olavo Setubal, para assumir a Secretaria de Higiene e Saúde do Município de São Paulo, da qual foi titular (1975-1979). Baseado na sua experiência anterior como servidor municipal da saúde, sua vivência no HC e o modelo que trouxe de estada nos serviços de saúde da Inglaterra, reestruturou a pasta, adequando-a para integrar-se operacionalmente com a Secretaria de Estado da Saúde. Foi um trabalho conjunto integrado, que permitiu vencer o desafio da epidemia de meningite meningocócica e a elevada incidência das gastrenterites agudas na infância e as emergências, sem esquecer-se da execução articulada das vacinações contra a meningite, a paralisia infantil e o sarampo, cuja incidência reduziu significativamente, próximo de zerar. Após esse mandato, dedicou-se ao Instituto da Criança até 1981, quando assumiu a chefia das assessorias da Secretaria de Higiene e Saúde (1981-1982), e depois a direção do Hospital Municipal do Tatuapé (1982) e do Hospital Municipal do Jabaquara (1983- 1986), idealizado e construído na época em que foi secretário municipal da administração Olavo Setubal.
Em 1986, após um breve período em que dirigiu a Superintendência Hospitalar e de Urgência, assumiu pela segunda vez a Secretaria de Higiene e Saúde de São Paulo (agosto a dezembro de 1986), no governo Jânio Quadros. Nessa curta permanência privilegiou a melhoria dos serviços de emergência de São Paulo, o plano de atenção primária à população mais carente. Foi nessa oportunidade que incrementou as atividades do Craps e contribuiu significativamente para que o Corpo de Bombeiros implantasse o resgate de acidentados através do 193.
Em 1987 assumiu a coordenação de Saúde da região metropolitana (CRS-1) e do Programa Metropolitano de Saúde (PMS), de cuja elaboração participara (1979-1981). Em 1989 assumiu a função de secretário adjunto da Secretaria de Estado da Saúde (1989-1990), na administração Pinotti . Em 1991 coordenou a Comissão Estadual de Combate a Aids ) e, em 1992, dirigiu a Divisão de Saúde Coletiva da Secretaria de Estado da Saúde. A partir de meados de 1991 foi transferido para o CRSMNADI – Centro de Referência da Saúde da Mulher, de Nutrição, Alimentação e Desenvolvimento Infantil, onde atuou como assessor responsável pelo controle de qualidade até 1997, quando se aposentou. Durante sua permanência no CRSMNADI, foi membro fundador do Centro de Estudos e Pesquisas “Dr João Amorim” (Cejam), do qual se tornou diretor-presidente em 1992, permanecendo nessa função até 2008, ocasião em que assumiu a superintendência, cargo no qual se encontra até hoje.
De 1995 a 1998, a convite do então ministro da Saúde, professo dr. Adib Jatene, exerceu a direção da Representação do Ministério da Saúde em São Paulo.
Além de suas atividades administrativas e acadêmicas, participou de diversas entidades representativas dentre as quais: o Centro Acadêmico Oswaldo Cruz do qual foi dirigente do Bisturí (1954) e do Show Medicina; a Associação dos Antigos Alunos da FMUSP da qual fez parte da diretoria por diversos mandatos, tendo sido seu presidente no biênio 1985-1986, ocasião em que foi criada a Fundação Faculdade de Medicina, por iniciativa da entidade; Academia de Medicina de São Paulo6 , desde 1979, tendo sido seu presidente no biênio 1989-1990; Sociedade Brasileira de História da Medicina (efetivo) e Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” (Cejam), do qual é membro fundador e foi seu diretor-presidente (1992-2008), sendo, atualmente, seu superintendente.
NOTAS:
Biografia e foto foram fornecidas pelo autor.
Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
Fernando Proença de Gouvêa faleceu no dia 22 de junho de 2019, aos 90 anos.
José Aristodemo Pinotti foi membro titular da Academia de Medicina de São Paulo, tornandose membro emérito e o primeiro ocupante da cadeira da cadeira nº 52, cujo patrono é Raul Carlos Briquet.
Aids: Acquired Immunodeficiency Syndrome.
Adib Domingos Jatene é membro titular da Academia de Medicina de São Paulo, tornando-se o primeiro ocupante da cadeira nº 29, cujo patrono é Euryclides de Jesus Zerbini.
Oswaldo Gonçalves Cruz é o patrono da cadeira nº 99 da Academia de Medicina de São Paulo.
Fernando Proença de Gouvêa ingressou como membro titular da academia de Medicina de São Paulo, em 13 de março de 1979, tornando-se membro emérito desse sodalício e o primeiro ocupante da cadeira no 36, cujo patrono é Ignácio Proença de Gouvêa, seu pai.