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Biografia

José Olegário de Almeida Moura

José Olegário de Almeida Moura , mais conhecido por Olegário de Moura, graduou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese Da Insuficiência Renal. Suas Complicações Mentais (1903). Durante seu curso foi contemporâneo e amigo de José Ayres Netto (1878-1969) . 

Logo após a sua formatura radicou-se na capital paulista, onde atuou na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo como médico interno, galgando grande reputação como clínico. 

Tornou-se também professor da Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade Livre de São Paulo . 

Médicos do corpo clínico da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em 26 de novembro de 1903. Identificação dos nomes da esquerda para a direita. 

Na primeira fila, sentados: João Sodine, Delfim Cintra, Affonso Régulo de Oliveira Fausto, Arnaldo Vieira de Carvalho, comendador Nuno de Andrade, Luiz Gonzaga de Amarante Cruz , João Alves de Lina e José Pires Neto. 

Na segunda fila: Alcino Braga, Marino Freire, José Egídio de Carvalho, Arthur Mendonça, comendador Alberto de Souza, mordomo do Hospital Central; Macedo de Castro, Aristides Seabra, Francisco Queiroz Matoso e João Fairbanks. 

Na terceira fila: Luiz do Rego; médico visitante italiano; Azurem Furtado, Roberto Gomes Caldas, Euzébio de Queiroz Matoso, Olegário de Moura, Arthur Fajado, Corte Real, Diogo de Faria e Valmor de Souza. 

Olegário de Moura, assim como outros intelectuais da época, era simpatizante da eugenia, teoria que buscava produzir uma seleção nas coletividades humanas baseada em leis genéticas, a fim de melhorar a raça humana. 

Foi um dos fundadores, em 15 de janeiro de 1918, da Sociedade Eugênica de São Paulo (Sesp), a primeira no gênero na América Latina. Contava com cerca de 140 associados, entre médicos e membros de diversos setores da sociedade que estavam dispostos a “discutir a nacionalidade a partir de questões biológicas e sociais”. 

A Sesp teve em sua diretoria figuras importantes como: Arnaldo Vieira de Carvalho, presidente e então diretor da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, cujo nome parece ter contribuído fundamentalmente para angariar o interesse da elite médica e da imprensa em torno dessa instituição; Olegário de Moura, Bernardo de Magalhães e Luiz Pereira Barreto (vice-presidentes); Renato Kehl (secretário-geral), médico e farmacêutico; T. H. Alvarenga e Xavier da Silveira (segundos secretários); Arthur Neiva, sanitarista; Franco da Rocha, fundador do Hospital Psiquiátrico do Juquery; e Rubião Meira (conselho consultivo). 

A Sesp era constituída em sua maior parte por médicos da capital. Suas reuniões eram amplamente divulgadas e festejadas pela imprensa, e seus membros publicavam suas ideias em periódicos de grande circulação como Jornal do Commercio, Correio Paulistano e O Estado de S. Paulo. 

Para o médico e eugenista Olegário de Moura, vice-presidente da Sesp, saneamento e eugenia deveriam ser compreendidos como sendo a mesma coisa. Dizia: “sanear é eugenizar”, e complementava: “saneamento-eugenia é ordem e progresso”. Ademais, argumentava que independentemente do nome ser eugenia ou saneamento, “ao Brasil, o que interessa, é que a questão caminhe; é que a questão se apresente a todos; é que a questão se vá derramando sobre a coletividade brasileira e se vá infiltrando na consciência nacional”. 

Em uma palestra sob a égide da Sesp, em 1918, Olegário de Moura disse: “Nacionalismo é querer um Brasil sempre unido e forte, progressista, saneado e eugenizado em caminho seguro para a civilização”. Dentre os artigos que escreveu salienta-se “Saneamento-Eugenia-Civilização”. 

Olegário de Moura foi membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (SMCSP), hoje, Academia de Medicina de São Paulo, tendo tido a honra de ser seu 17o presidente, exercendo um mandato anual entre 1914-1915. Em sua presidência foi realizado um acordo com a Policlínica17, celebrado em ata da reunião de 15 de dezembro de 1914, mediante o qual a Policlínica voltava para a Rua da Travessa da Sé com a SMCSP, a qual arcaria com parte de suas despesas. 

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

As fotos foram uma contribuição de Maria Nazarete de Barros Andrade, coordenadora do Museu Augusto Carlos Ferreira Velloso da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. 

José Olegário de Almeida Moura, médico, teve um homônimo que era formado em direito e foi major do Exército. 

José Ayres Netto presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante dois mandatos anuais entre 1919-1920 e 1934-1935, e é o patrono da cadeira nº 105 desse sodalício. 

A Universidade Livre de São Paulo, instituição particular de ensino, foi primeira no gênero que surgiu no Brasil. Foi fundada pelos médicos Eduardo Augusto Ribeiro Guimarães (1860-1931), reitor; Luiz Pereira Barreto e Ulysses Paranhos, em 4 de dezembro de 1911. Começou a funcionar em março de 1912, num prédio da Rua Senador Queiroz. A entidade era apoiada por um grupo de advogados, engenheiros e farmacêuticos. Entretanto, a Universidade Livre de São Paulo desmoronou ante a negativa de seu reconhecimento pelo Conselho Nacional de Ensino por partidarismo político da época, sendo extinta em 1917. Antonio Carlos Pacheco e Silva, José Louzã e Paulo Raia dentre outros alunos, terminaram o curso médico no Rio de Janeiro ou na Bahia. In: “Médicos Italianos em São Paulo” de Carlos da Silva Lacaz. Gráfica Editora Aquarela S. A., 1989. 

Afonso Régulo de Oliveira Fausto presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante meio mandato anual entre 1905-1906 e um mandato anual entre 1916-1917, e é o patrono da cadeira nº 67 desse sodalício. 

Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho foi membro fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, tendo tido a honra de ser seu sétimo presidente, exercendo dois mandatos anuais entre 1901-1902 e 1906-1907, e é o patrono da cadeira nº 11 desse sodalício. 

Luiz Gonzaga de Amarante Cruz foi membro fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, e é o patrono da cadeira nº 97 desse sodalício. 

João Alves de Lima presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante dois mandatos anuais entre 1907-1908 e 1913-1914. 

Arthur Mendonça presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1903-1904. 

Diogo Teixeira de Faria presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1904-1905, e é o patrono da cadeira nº 58 desse sodalício.

A eugenia brasileira desse período se caracterizou por um modelo de “eugenia preventiva”. Os membros dessa instituição a proclamavam como uma “organização científica” de estudos e aplicação da eugenia no Brasil, tendo como finalidades as “questões da hereditariedade, descendência e evolução para a conservação e aperfeiçoamento da espécie humana”. Os estatutos da Sesp definiam como seus fins: o estudo da legislação, dos costumes e das influências do meio sobre as “aptidões físicas, morais e intelectuais das gerações futuras”; estudo da hereditariedade; a regulamentação do meretrício, do matrimônio, da obrigatoriedade do exame prénupcial, das técnicas de esterilização, além da divulgação da eugenia entre o público. 

Bernardo de Magalhães foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1900-1901. 

Luiz Pereira Barreto foi membro fundador e o primeiro presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1895- 1896, e é o patrono da cadeira nº 1 desse sodalício. 

Renato Kehl foi o grande mentor e propagandista da purificação da raça brasileira. Escreveu vários livros sobre o tema, tais como “A Cura da Fealdade” (1923), “Lições de Eugenia” (1929) e “Por Que Sou Eugenista” (1937). 

Domingos Rubião Alves Meira foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante meio mandato anual entre 1905-1906 e um mandato anual entre 1911-1912, e é o patrono da cadeira nº 51 desse sodalício. 

Anais de Eugenia da Sociedade Eugênica de São Paulo. Editora da Revista do Brasil, 1919, páginas 80-92. 

Em agosto de 1895, diversos membros da SMCSP decidiram organizar um posto médico no qual os sócios prestassem atendimento médico aos pobres, em suas respectivas especialidades. Em 1896, a sede da SMCSP foi transferida da Rua São Bento para o prédio da Rua da Travessa da Sé, no 15, onde cedeu uma de suas salas para a instalação de uma Policlínica. A Policlínica foi inaugurada em 7 de março de 1896 e, em 9 de agosto, iniciou seus serviços atendendo, gratuitamente, aqueles que a procuravam, tendo como diretor Mathias de Vilhena Valladão. 

Em seu primeiro ano de funcionamento atendeu a um grande número de pacientes (cerca de 2.000), sobretudo nos serviços de pediatria e de clínica médica. Sob a direção de Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho, em 1897, foi incorporado à policlínica um serviço de vacinação antivariólica, transformado em posto avançado do Instituto Vacinogênico. Em 1912, Mathias de Vilhena Valladão, diretor-presidente da Policlínica, e Nicolau de Moraes Barros, presidente da SMCSP, assentaram as bases de um acordo em que fossem reunidos os bens das duas associações para a construção de um prédio para a sede comum.