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Biografia

Michel Abu-Jamra

Michel Abu-Jamra nasceu na cidade de São Paulo, em 13 de agosto de 1916. Matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em 1934, graduando-se em 1940. 

Ainda enquanto acadêmico, mostrou-se interessado pela hematologia, iniciando, no Departamento de Histologia e Embriologia, sob a orientação do professor José Ória , estudos nessa área. Seu primeiro trabalho publicado em coautoria com seu mestre veio a lume em 1939, e intitulou-se “Contribuição para o Estudo das Células Sanguíneas e do Quadro Histológico-Hemopoético da Mononucleose Infecciosa, Febre Ganglionar de Pfeiffer-Glanzmann”. Seguiram-se outros trabalhos publicados, destacando-se: “Estudo Hematológico – Hemo e Mielograma de 13 Casos com Pênfigo Foliáceo” (1940, em coautoria com Ernesto Mendes e Emílio Mattar); e “Contribuição para o Estudo da Medula Óssea na Schistossomíase Mansoni, com Algumas Observações sobre o Esplenograma” (1940, em coautoria com João Alves Meira ). 

Abu-Jamra iniciou suas atividades clínicas na disciplina de terapêutica clínica do Hospital das Clínicas sob a orientação do professor Cantídio de Moura Campos. Posteriormente tornou-se assistente da clínica de moléstias infecciosas sob a chefia do professor Alves Meira. 

Abu-Jamra galgou todos os postos da carreira universitária. Defendeu tese de doutorado em 1946 e, em 1947, a de docência-livre, com trabalho que abrangia os aspectos clínicos e laboratoriais da anemia perniciosa, em sua época designada por anemia de Addison-Biermer. Finalmente, em 1977, tornou-se professor titular do Departamento de Clínica Médica e chefe da disciplina de hematologia e hemoterapia da FMUSP. 

Foi diretor até 1954 da Secção de Hematologia do laboratório central do Hospital das Clínicas , ocasião em que foi fundado o Serviço de Hematologia ligado à 1ª Clínica Médica regida pelo professor Antônio Barros de Ulhôa Cintra. O Serviço de Hematologia passou a contar com um laboratório próprio, especializado, e leitos para internação de pacientes com hemopatias. Ademais, tornou-se um importante centro de formação de muitos médicos e paramédicos não somente da capital e do interior, mas de outros estados e até mesmo de países vizinhos, tais como Argentina e Uruguai. Através da realização de cursos de graduação, de aperfeiçoamento e de extensão universitária, e após 1979, de cursos de pós-graduação, tem desempenhado um papel difusor do conhecimento na área. 

Dentre os primeiros discípulos de Abu-Jamra encontram-se: Domingos M. de Cillo, Victorio Maspes, Therezinha Verrastro, Eurico Coelho, Therezinha Ferreira Lorenzi , Norma Wollner, João Targino de Araújo, Orlando César de Oliveira Barreto e Waltraut Lay. 

Dentre outros que com ele estagiaram durante um a dois anos e, retornando a seus estados de origem, tornaram-se proeminentes hematologistas, têm-se: Romeu Ibrahim de Carvalho, Sidney de Morais Rêgo, Dilson José Fernandes, Meirione Costa e Silva, Romildo Lins, Estácio Gonzaga Filho, Gilson Saraiva de Mello, Linete Vasconcelos Rocha, Luiz Gonzaga dos Santos, Maria Helena Pitombeira e Jaime Asfora. 

O Serviço de Hematologia liderado por Michel Abu-Jamra tornou-se, paulatinamente, não somente um centro irradiador de conhecimentos, mas caracterizouse numa própria escola hematológica. Proporcionou a realização de diversos ensaios clínicos; a publicação de inúmeros trabalhos científicos quer de cunho estritamente clínico quer laboratorial, além do desenvolvimento de técnicas especializadas no estudo das anemias, coagulopatias e neoplasias hematológicas. O número crescente de estagiários, bolsistas e residentes, sobremodo a partir de 1971, propiciou a elaboração de várias teses de mestrado, doutorado e de docência-livre. 

O desdobramento da hematologia em disciplina de hematologia e hemoterapia, e a criação do Hemocentro de São Paulo, em 1982, coroaram de êxito toda uma saga que Abu-Jamra protagonizou desde os idos de 1950. 

Michel Abu-Jamra ingressou em 19 de fevereiro de 1964 na Academia de Medicina de São Paulo, tendo tido a honra de exercer a presidência desse silogeu num mandato bienal entre 1969-1970. 

Dentre outras entidades nacionais e internacionais das quais participou, salientam-se: Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (sócio-fundador, 1950); Colégio Brasileiro de Hematologia (1965); International Society of Hematology; American Society of Hematology; International Society of Internal Medicine; American College of Physicians; Associação Médica Brasileira e Associação Paulista de Medicina. 

Graças ao seu prestígio no Brasil e no exterior; lucidez e grande capacidade de trabalho, exerceu diversos cargos eletivos em entidades e na FMUSP. Pertenceu a comissões editoriais de revistas nacionais e estrangeiras. Foi secretário da Revista do Hospital das Clínicas (1955-1967) e fundou a Revista Brasileira de Pesquisas Médicas e Biológicas, posteriormente denominada de Brazilian Journal of Medical and Biological Research. Nessa função exercida por 12 anos, manteve elevado padrão desse periódico, o que permitiu incluí-la no Current Contents ao lado de somente cinco revistas brasileiras médico-biológicas aí indexadas naquela ocasião. 

Abu-Jamra durante sua vida acadêmica, precisamente de 1951 a 1993, participou de 53 bancas examinadoras em concursos para médicos especialistas, mestrado, doutorado, livre-docência, professor associado e professor titular. Até 1998, um ano antes de seu falecimento, havia publicado cerca de 240 trabalhos científicos; 10 monografias; quatro livros, além de diversos capítulos em outras obras. 

Dentre as comendas e prêmios recebidos, destacam-se: Ordem do Mérito Médico – classe oficial, concedida pelo presidente da República – Ministério da Saúde (Brasília, 1967); Ordem do Ipiranga – grau de cavalheiro, concedida pelo governador do estado de São Paulo (1975); Prêmio Alfred Jurzykowski da Academia Nacional de Medicina (1979); e Prêmio Alfred Pavlowsky da International Society of Hematology, pelo seu empenho no desenvolvimento da hematologia na América Latina (Buenos Aires, 1984). 

Michel Abu-Jamra faleceu em 1999, com 83 anos incompletos. 

2º Congresso Brasileiro de Hematologia realizado em São Paulo, em 1969. Diretoria do CBH, da esquerda para a direita: Renato Pasqualin, Michel AbuJamra, Marcelo Pio da Silva, Therezinha Ferreira Lorenzi, Pedro Jannini e José Kerbany.
Grupo de hematologistas durante o 2º Congresso Brasileiro de Hematologia realizado em São Paulo, em 1969. Da esquerda para a direita: Jayme Asfora, Renato Fallace, João Targino de Araújo, Michel Abu-Jamra e Romildo Lins.  

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

José Ória é patrono da cadeira nº 125 da Academia de Medicina de São Paulo. 

João Alves Meira foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, por um mandado anual entre 1949-1950, e é o patrono da cadeira nº 32 desse silogeu.

Cantídio de Moura Campos foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, por um mandado anual entre 1928-1929, e é o patrono da cadeira nº 128 desse silogeu. 

A Seção de Hematologia do Hospital das Clínicas teve seu início em meio às dificuldades trazidas pela II Guerra Mundial. Havia escassez de material e a importação era necessária. Nessa fase muito contribuíram Fernando Teixeira Mendes e Günter Hoxter, assistentes diretos de Abu-Jamra. 

Antônio Barros de Ulhôa Cintra é o patrono da cadeira nº 33 da Academia de Medicina de São Paulo.

Em 1965 instalou-se a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Nesse Instituto de Hematologia destinado ao estudo da leucemia e doenças afins, Abu-Jamra exerceu a função de diretor científico até sua morte, em junho de 1999. 

Therezinha Ferreira Lorenzi é membro honorário da Academia de Medicina de São Paulo. 

João Targino de Araújo é membro honorário da Academia de Medicina de São Paulo. 

O Colégio Brasileiro de Hematologia (CBH) originou-se em 1965, de uma cisão ocorrida na Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, por ocasião de seu 9º congresso. Logo depois, em agosto do mesmo ano, houve, na cidade do Rio de Janeiro, uma reunião com diversos hematologistas que fundaram o CBH. 

Marcelo Pio da Silva é o patrono da cadeira nº 9 da Academia de Medicina de São Paulo.