Paulo de Almeida Toledo
Paulo de Almeida Toledo nasceu na cidade de Serra Negra (SP), em 15 de julho de 1909. Filho de destacado educador adquiriu apreço pela leitura, conhecendo a vida e a obra de grandes escritores e ensaístas, em particular, a do renomado representante do realismo e romancista português, José Maria Eça de Queiroz.
Graduou-se em 1932 pela Faculdade de Medicina de São Paulo, integrada, posteriormente, à Universidade de São Paulo (FMUSP). Dedicou-se ao estudo da eletrocardiologia clínica e, posteriormente, à radiologia.
Nas enfermarias da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Paulo de Almeida Toledo com sua privilegiada inteligência, esmerado raciocínio clínico e rigor científico dedicou-se a uma exitosa carreira científica na área do radiodiagnóstico. Sua tese inicial, que se intitulava Revelografia dos Cólons, foi galardoada com o prêmio Sérgio Meira de 1933.
Três pessoas, duas delas renomados filhos de Hipócrates, exerceram grande influência sobre Paulo de Almeida Toledo: seu pai, advogado e professor de história da Escola Normal Caetano de Campos da Praça da República, apaixonado pelo ensino, de grande dignidade, reconhecido e afamado dentre os educadores brasileiros; professor Jairo Ramos, homem que tinha o dom de escolher, orientar e moldar seus assistentes; e o professor Antônio de Almeida Prado, de irretocável formação moral, estupenda cultura, visão e sabedoria de vida que faziam dele uma pessoa encantadora.
Quis o destino que Paulo de Almeida Toledo se casasse, posteriormente, com Beatriz de Almeida Prado (1914-2006), tornando-se genro de seu estimado professor Antônio de Almeida Prado.
Paulo de Almeida Toledo galgou todos os degraus da carreira universitária, tornando, em 1966, após concurso de provas e títulos, professor titular da disciplina de radiologia, exercendo essa função durante 13 anos. Foi também diretor da FMUSP de 1970-1974.
Eis alguns excertos do seu discurso que proferiu por ocasião de sua posse como diretor da FMUSP, que retratam a sua personalidade: “Curiosa é a inversão total de valores culturais, literários, morais e de costumes do mundo, que se operam ou pelo menos chegaram a nós a partir da II Guerra Mundial.
“Onde havia respeito à experiência e à idade passou a haver revolta e desprezo por tudo, o que homens ou ideias, têm mais de 40 anos”.
(…) “Onde o aprendizado era estabelecido e fundado no princípio da complexidade progressiva, o ensino passou por uma transformação curiosa em que predomina a inovação a qualquer preço, tornando-se para nós ilógico e desordenado. A alfabetização é pobre e incompleta e a redação correta é descuidada, ultrapassada e ‘fora de moda’, o que irremediavelmente a estigmatiza”.
(…) “As ideias que parecem dominar a época dão-nos a impressão de que ‘se pudermos fazer tudo difícil e complexo, porque então fazê-lo simples e logicamente’. Uma coisa parece certa, é que a definição de ‘bom’ se confunde com a de inovação revolucionária. Isso se estende a todas as formas de atividade humana e atinge preferencialmente a administração, com a ascensão de jovens imaturos, para os quais a experiência é noção pejorativa”.
“Isso se estende também ao exercício da medicina, onde uma reforma funesta, mal concebida e mal-aplicada, tudo completa, tudo dificulta, tudo inverte, amputando e desmembrando a Faculdade da qual foi retirada a organização do ensino básico; da qual foi retirado o currículo dos últimos anos, o que condensa em escassos quatro semestres o ensino de uma medicina que constantemente se amplia”.
“Sei perfeitamente que inovar e estabelecer novos moldes que acompanhem a evolução de nossos conhecimentos é necessário e útil. Mas arrasar tudo o que foi feito pelos que nos antecederam apenas para aplicar às pressas e sem orientação, quase por ouvir dizer, medidas adotadas em outras terras, só porque são diferentes, sem atender às nossas características de desenvolvimento, é perfeitamente estúpido e prejudicial. Naturalmente alguma coisa de útil ficará de toda essa subversão. Mas a inovação foi excessivamente rápida e radical, provocando uma demolição total antes que se fundassem os alicerces da nova ordem”. (…).
Paulo de Almeida Toledo ao se tornar professor titular abdicou de sua enorme clínica e dedicou-se em tempo integral à docência e à pesquisa. Participou com entusiasmo de numerosas reuniões científicas do Hospital das Clínicas e esmerou-se de modo particular no curso curricular de radiologia, ministrando a maioria de suas aulas.
Incentivou a pesquisa científica nas áreas de radiologia, radioterapia e medicina nuclear, promovendo a realização de oito concursos de doutoramento; quatro de docência-livre e um de professor adjunto. Por outro lado, diversos trabalhos e teses de outras disciplinas foram realizados no Serviço de Radiologia em sua gestão.
Paulo de Almeida Toledo foi eleito presidente do Conselho Deliberativo do Hospital das Clínicas, ocupando o cargo durante quatro anos, numa época particularmente muito difícil. Lutou contra a transferência das cadeiras básicas para o campus universitário; preservou o edifício da faculdade de medicina e iniciou a instalação de laboratórios de investigação médica. Preocupou-se com a pós-graduação e com cursos de especialidade nos mais importantes ramos da medicina.
Mesmo afastado temporariamente do Hospital das Clínicas e da FMUSP organizou, juntamente com o professor José Maria Cabello Campos os Cursos de Patologia da Santa Casa de Misericórdia. Nesse hospital ele propiciou as bases da Escola de Especialização para que culminassem, posteriormente, com a criação da Faculdade de Ciências Médicas.
Paulo de Almeida Toledo teve a honra de presidir a Academia de Medicina de São Paulo num mandato anual entre 1955-1956. Presidiu também o Departamento de Cultura da Associação Paulista de Medicina, onde proferiu diversas aulas e conferências.
Ávido por conhecimentos e dotado de inteligência inquieta e eclética, projetouse com afinco na vida intelectual de São Paulo. Era provido de grande cultura humanística, escritor de amplos recursos e ensaísta.
Sucedeu-o na cátedra de radiologia o professor Álvaro de Almeida Magalhães, criador do Instituto de Radiologia e Radioterapia, o que deu grande impulso a essas especialidades.
Paulo de Almeida Toledo teve uma vida profícua e foi um dos mais ilustres mestres da medicina brasileira, aposentando-se em 1980. Teve em seu filho Marcelo, a continuação de sua trajetória, pois trabalhou como chefe do Serviço de Radiologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e prestou grandes serviços ao Museu de História da Medicina “Professor Carlos da Silva Lacaz” da FMUSP.
Paulo de Almeida Toledo faleceu de infarto agudo do miocárdio em 16 de março de 1990, aos 80 anos. Seu corpo foi velado no teatro da FMUSP, instituição que ele tanto enobreceu com seu trabalho, dedicação e projeção.
Publicou quatro livros: Eletro-Radiologia Clínica do Coração (Eletrocardiologia e Radiologia, 1940); Radiologia Clínica do Aparelho Digestivo (em dois volumes, 1948); Temas Avulsos; e Radiologia Básica (1978), publicado com a colaboração de membros do corpo clínico da radiologia do Hospital das Clínicas da FMUSP.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.