COLUNA DO LIVRO – L’ÉPILEPSIE E L’HYSTÉRIE
L’épilepsie e l’hystérie
Trata-se de rara obra sobre a epilepsia escrita por Désiré Bourneville (1840-1909), em 1876. Tem ilustrações.
Nessa época, os estudos sobre o morbus sacer estavam se desenvolvendo grandemente. Descobriram que a epilepsia essencial tinha como substrato anatomopatológico a assimetria entre os dois hemisférios cerebrais. Há, na obra em comento, curiosamente, uma prancha que mostra, talvez pela primeira vez na história, essa assimetria, cujo achado foi magistralmente explorado e aceito nas décadas subsequentes até hoje, resultando em uma das mais importantes descrições da patologia moderna, que é a chZantação do cérebro epiléptico ,por Octávio Perez Velasco, em 1950, conceito adotado e desenvolvido pelo magno Walter Edgard Maffei e seus seguidores. Porém, toda a maravilhosa descrição e caracterização do cérebro epiléptico, como substrato anatômico (inconsciente neural) da epilepsia, com a dominação da medicina americana, que somente pensa em farmacologia, acrescido da ausência de vocacionados para desvendar os mistérios da epilepsia (epi, o que está acima; lepsis, abater; epilepsis, abater por cima, pois acreditavam que o diabo vinha por cima e tomava o indivíduo), minguou. Minguou a ponto de a epilepsia ter saído da CID (Classificação Internacional de Doenças), do capítulo das doenças mentais.
Mas aqui, o que interessa são os livros e esse em comento é muito bom, considerando que Bourneville, o autor, juntamente com Sommer, Sollier, Kussmaul, Lasègue, Bouché, mais Esquirol, Bellod, Delasiauve, Falret, Ottolenghi, Mausdsley, Krafft-Ebing, Ardin-Delteil, para falar de alguns poucos seus contemporâneos, aí estão com suas obras estupendas, clássicas, para serem colocadas à face dos médicos contemporâneos, mostrando-lhes que, sim, epilepsia existe como doença mental, quer conste ou não da CID.
O livro tem 200 páginas, foi reencadernado na década de 1960, com lombada em chagrin, pela Editora Delahaye, Paris, algumas marcas de perfuração de cupim nas primeiras páginas, mas em ótimo estado de conservação. Deu entrada na Biblioteca da APM em 20 de outubro de 1979, comprado, provavelmente, por Duílio Crispim Farina, primeiro Diretor Cultural da APM.
Guido Arturo Palomba
Diretor Cultural da APM
*Observação: todos os livros comentados aqui pertencem à Biblioteca da APM. Aos que desejarem doar livros para esta coluna, fazer contato com Isabel, Biblioteca.