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Notícias

Peripécias médico-assistenciais

12.11.2015 | Gerais

Vicente Amato Neto e Jacyr Pasternak

Vicente Amato Neto e Jacyr Pasternak 

Médicos que exercem sistematicamente atividades assistenciais podem deparar com acontecimentos não comuns e de vários tipos. Alguns são curiosos. O doutor está nesse contexto e, por exemplo, contou três ocorrências, agora descritas e isentas, felizmente, de tristezas e dramaticidade. 

Em hospital universitário, o doutor foi incumbido de supervisionar e controlar a atenção profissional devida a doentes internados. Entre as tarefas executadas, incluí uma: a visita dupla a enfermos. Cumpria essa ação em companhia de internos, médicos residentes, docentes e estagiários. Ao chegarem ao leito da recém-admitida ali, a observação clínica passou a ser lida e, no decurso desse ato, a moça examinada pediu a palavra, logicamente consentida. Disse que estava entendendo a preocupação com a barriga muito grande. Afinal, era só gravidez e mais nada sentia. Silêncio. Decepção e logo a constatação de que um médico preguiçoso e desligado de responsabilidade pedira internação mencionando suspeita de esquistossomíase mansônica descompensada, com ascite. O irresponsável, protegido do professor-chefe, mostrou irresponsabilidade. É triste constatar a presença de tipos dessa natureza que, em vez de proteção, executa feito vergonhoso. 

O doutor, no ambulatório, recebeu um japonês doente. Havia necessidade de estabelecer o diagnóstico. Observação clínica e solicitação de exames subsidiários ocorreram. A natureza da enfermidade não ficou estabelecida nessa primeira ocasião. Hipóteses não faltaram. Foi, então, recomendado retorno após um dia para reconhecimento de evolução e conhecimento dos resultados do apoio complementar solicitado.

Quando voltou, obedecendo a recomendação dada, o paciente com bom aspecto tinha um braço dobrado e encostado no tórax. O doutor, diante da novidade, estranhou e logo procurou desvendar o que se sucedeu. Soube rapidamente: o nipônico prendia o termômetro na axila desde o dia anterior. Não teria sido instruído, justificou. Fato incomum, caricato. Porém, não impediu prosseguimento da tarefa assistencial. 

Em visita a doentes internados, um deles era jovem, falante e colaborativo. Cefaleia, febre e vômitos motivaram o diagnóstico de meningite a ser confirmado com identificação da espécie. O exame do cefalorraquidiano é básico. Foi realizado. Havia, de fato, a enfermidade cogitada, mas um componente importante não permitiu avanço desejado. Certos tipos de células, pelas suas quantidades, podem informar a natureza do que acometeu o paciente. Apareceram em níveis praticamente iguais. Empate. Nova tentativa tornou-se necessária e, lamentavelmente, o empate surgiu. Ao ouvir a palavra, o moço pediu para opinar. Atendido, sugeriu que ele fosse para sorteio, como fazem em certas competições esportivas. Risos. Medicamente, algo inusitado e inaceitável. Contudo, extremamente original. A despeito disso, a procura da causa continuou. 

Vicente Amato Neto e Jacyr Pasternak 

Professores Universitários