A atual crise brasileira
“Quando escrita em chinês, a palavra ‘crise’ compõe-se de dois caracteres:
um representa perigo e o outro representa oportunidade.”
John Fitzgerald Kennedy (1917-1963),
35º presidente dos Estados Unidos da América (1961-1963)
Helio Begliomini
O Brasil está vivendo nos dois últimos anos uma série crise política e econômica, com graves repercussões para a sociedade.
A crise atual tem como origem a falta de ética, de decoro, enfim, a falta de vergonha de nossos políticos, que, em um número muito expressivo deles, quer na condição de vereadores, quer como deputados estaduais e federais; ou como senadores e até ministros, utilizam-se de seus cargos em benefício próprio, ou em negociatas com empresas e empreiteiras conluiadas, ou ainda em prol de seus currais eleitorais. O foro privilegiado que alguns possuem serve de escudo, verdadeira proteção para que ações malévolas, antiéticas e imorais sejam feitas e refeitas sem o menor escrúpulo ou remorso. Também é desalentador ver alguns dos membros do poder judiciário mancomunados ou mantendo um grande fisiologismo com aqueles que malversam o país e dilapidam a nação.
A mentira e a ladroagem se tornaram institucionalizadas em boa parte dos políticos brasileiros. Tais lesas-pátrias conseguem, diante de câmeras de televisão e do públi-co, dissimular a verdade, iludir o povo, afirmar e rea-firmar a própria inocência, sem se constrangerem ou sequer engasgarem a voz, ou ainda ficarem com rostos vermelhos, mesmo quando provas e mais provas se avolumam contra eles. Infelizmente, torna-se ainda muito atual, pelo atavismo político brasileiro, o pensamento sombrio do grande escritor pátrio Monteiro Lobato (1882-1948): “No Brasil subtrai-se; somar, ninguém soma”.
Em quaisquer países do primeiro mundo, além de essa corja de representantes do povo — verdadeiros abutres! — ser em número diminuto, o julgamento se faz mais rápido; a punição é mais severa; a desonra é atroz e a humilhação é extrema, motivando alguns até ao suicídio. Desafortunadamente isso está longe de acontecer em nosso querido Brasil, pois nossos políticos se autoconsideram santos e a justiça é extremamente morosa e complacente. Roubar e se utilizar de seus cargos para o tráfico de influências; a escalada do poder a qualquer custo, assim como o incremento de suas riquezas, tornaram-se metas obsessivas nessa súcia de representantes do povo.
Nos últimos anos os níveis de corrupção se tornaram alarmantes e preenchem cerca de 60 a 70% do tempo dos mais afamados jornais televisivos — É um verdadeiro mar de lama (!), que provoca uma hecatombe muito pior do que o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), ocorrida em 5 de novembro de 2015. Quanta benfeitoria poderia ser feita na educação, saúde, segurança pública, transporte, saneamento básico, telecomunicação, energia, estradas, ciência e tecnologia com as somas colossais que foram saqueadas do povo através da corrupção!?
Nessa grave crise em que o país está atolado, em 12 de maio de 2016, o Senado Federal aprovou, por 55 votos a favor e 22 contra, o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Aliás, ratificou a decisão da Câmara dos Deputados, que, em 17 de abril anterior, aprovou, por 367 votos a favor, contra 137, a instauração do processo de impeachment.
Milhares e milhares de empresas faliram ou foram fechadas, proporcionando entre 11 e 12 milhões de desempregados!
Não há dúvida de que a situação do país está muito triste, confusa e desanimadora, com grande e grave reflexo na vida dos brasileiros. Contudo, jamais se pode perder a esperança. Afinal, em uma conflagração, sofrer derrota em algumas batalhas; retrair ou recuar posições não necessariamente significam perder a guerra, mas tão somente dar um tempo e se utilizar de estratégias para poder vencer o inimigo.
Aludindo ao grande estadista norte-americano John Kennedy, citado em epígrafe e autor de outra frase lapidar, “Não perguntes o que a tua pátria pode fazer por ti. Pergunta o que tu podes fazer por ela” —, pode-se dizer que, hoje, mais do que nunca, numa entidade, associação ou empresa brasileira, estamos no mesmo barco com risco de naufrágio. Não é hora de colocar em prática o ditado popular “salve-se quem puder”. Ao contrário: ou nos salvaremos todos ou sucumbiremos todos, conjuntamente. Mais do que nunca se necessita da compreensão, apoio, desprendimento, trabalho, confiança, esperança, perseverança, criatividade para gerar oportunidades e união de todos!
Helio Begliomini
Membro da Associação Paulista de Medicina,
Academia de Medicina de São Paulo, Academia Cristã
de Letras, Academia Brasileira de Médicos Escritores e
Sociedade Brasileira de Médicos Escritores