Loucura e Arte, por Acad. Guido Arturo Palomba
Grassa no pensamento de muitas pessoas que quanto mais louco for o artista mais talento terá. Não é bem assim. O louco verdadeiro, de hospício, se for homem, quando muito, faz uns bonequinhos de massinha ou rabisca desenhos no papel, literalmente sem pé nem cabeça, e se for mulher, não vai além do bordado ou da tapeçaria, dessas de preencher furinhos com lã e agulha.
Ora, perguntará o leitor: Vincent Van Gogh, Francisco de Goya, Robert Schumann e Emanuel Schikaneder, para citar apenas dois pintores e dois músicos, não tiveram as suas loucuras e não estão entre os maiores gênios, quer da pintura quer da música, de todos os tempos? Portanto, concluirá o leitor, loucura e genialidade asso- ciam-se sim senhor.
Com todo o respeito, essa afirmação contém um equívoco, pois, um fato é absolutamente certo: quando o artista está no período agudo da doença mental não produz nada, somente o faz ao sair ou já livre da psicopatologia flórida. E mais, dependendo da doença mental de que padece, se for alguma daquelas que ao remitir o surto deixam defeito, como a esquizofrenia paranoide, provavelmente não mais haverá desempenho artístico de qualidade, se o tinha antes de adoecer, seja na música, seja nas artes plásticas ou em qualquer outra modalidade em que o sentimento, a intuição e a sensopercepção, muitas vezes também o pensamento, têm que estar no seu mais refinado nível para produzir com qualidade. Isso porque a criação artística ocorre no momento em que se equilibram e se harmonizam as esferas psíquicas interiores. É nesse passo que nasce a obra de arte, como expressão e materialização do psiquismo do gênio, que fora fecundado pelas musas (e pelos demônios), que lhe deixaram a mente abaçanada, em estado de vesânia. Porém, prenhe.
Interessante notar que a loucura, às vezes, é como se fosse a normalidade mental vista com lente de aumento desfocada. Muitos sinais e sintomas clínicos são exacerbações do comportamento normal. Assim, alienados mentais serviram, e ainda servem, de modelo aos grandes mestres da pintura, que deles extraíram e extraem a essência trágica da natureza humana.
Na atualidade, no mundo ocidental, quem melhor retrata essas figuras da miséria é o grande Mestre Adelino Ângelo, português de Vieira do Minho, verdadeira reencarnação de Goya, de El Greco, o herdeiro da luz de Sorolla. Ilustra este artigo O louco, de sua autoria, de grande força expressiva.