A Telemedicina não desumaniza, quem desumaniza é o sistema
“Telemedicina e Saúde Conectada: a perspectiva da Medicina na terceira década do século 21” foi o tema da palestra de Chao Lung Wen ministrada na Tertúlia da Academia de Medicina de São Paulo realizada na sede da Associação Paulista de Medicina na última quarta-feira, 13 de março.
“É um momento emblemático, porque marcamos um início de gestão. E trataremos de um assunto que está em ebulição. Todos querem saber o que temos de riscos e oportunidades com esse novo mundo tecnológico que se abre”, declarou o acadêmico José Luiz Gomes do Amaral, presidente da Academia e da APM.
Ao rememorar o filme de ficção científica 2001: A Space Odyssey, produzido em 1968 e dirigido por Stanley Kubrick, Amaral fez uma breve análise das transformações digitais ao longo da história. “Antes que o avanço da inteligência artificial se fizesse sentir, tivemos a revolução da genética definida em sua extensão. Hoje, já temos algumas experiências das modificações do genoma que nos colabora. Tivemos ainda uma explosão na tecnologia comunicacional. São fluxos transformativos e temos de nos posicionar. Para isso, precisamos nos qualificar.”
Wen, chefe da Disciplina de Telemedicina da FMUSP, relembrou de uma apresentação realizada por ele, em dezembro de 1997, em sessão solene de posse dos novos acadêmicos da Academia de Medicina de São Paulo. Naquela ocasião, defendeu a educação continuada como papel fundamental para a melhoria da qualidade global da área médica.
“Qual o valor que a atual diretoria da instituição poderia repensar sobre o que já foi dito 21 anos atrás, em induzir nos jovens, os futuros médicos, a reflexão da incorporação da tecnologia na área da saúde como um todo, não a tecnologia pela tecnologia em si? Não é questão de Telemedicina ou privilégio tecnológico. O mundo se transformou e temos de apenas acompanhar essas mudanças. A ausência de transformação nos levará à estagnação e defasagem”, alerta.
Para ele, a Academia sempre se posicionou à frente dessas discussões. “Se repetisse o discurso de 1997, sem dizer que foi em outrora, ainda estaria atualizado, com ressalvas de que a internet virou um sistema global e a robótica e a realidade virtual fazem parte do nosso dia a dia”, complementa.
História
O especialista, que é membro do Conselho Curador do Global Summit Telemedicine & Digital Health, – evento da APM que acontece de 3 a 6 de abril, no Transamerica Expo Center – apresentou uma linha evolutiva da Telemedicina no mundo e no Brasil.
De acordo com ele, a Telemedicina começa a ser pensada na década de 1960, com a corrida espacial da Guerra Fria, com o objetivo de prover serviços médicos de qualidade usando as melhores tecnologias do momento. “Portanto, qualquer coisa que não seja de prover um serviço médico de qualidade não deve ser visto como Telemedicina”, reforça.
Em fins da década de 1990 e início dos anos 2000, mais especificamente de 1998 a 2005, os testes da área eram segmentados; de 2005 a 2008 é assinalada como fase universitária pública; de 2008 a 2015, a perspectiva torna-se pública, à medida que o Governo lança um programa em apoio à atenção primária; e de 2015 a 2025, foca-se na iniciativa privada e regulamentada.
De 2019 a 2030, segundo Chao Lung Wen, a Telemedicina deve ser discutida como um ecossistema em saúde conectado, integrado, eficiente e sustentável, sob quatro pilares: acadêmico, governamental, social e privado/comercial. “Estamos discutindo o termo responsabilidade com eficiência, redução de desperdício e aumento do acesso de pacientes e logística resolutiva. Para isso, precisamos qualificar os profissionais.”
O palestrante criticou a problemática atual do sistema de saúde: “Atendimentos rápidos de três minutos, quando uma análise concisa leva, no mínimo 15 minutos, ou carência absoluta com mais de oito meses em fila de espera para passar com um especialista são exemplos da crise na saúde. A Telemedicina é uma parte da Medicina, cabendo ao médico definir se vai optar ou não pelo recurso”, conclui.
Texto: Keli Rocha
Fotos: Louise Amêndola