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Tertúlia Acadêmica de junho fala sobre Burnout

13.06.2024 | Acadêmicos, Tertúlias

A Academia de Medicina de São Paulo recebeu na quarta-feira, 12 de junho, o psiquiatra Estevam Vaz de Lima como palestrante da Tertúlia Acadêmica mensal. A apresentação, que falou sobre “Burnout: o maior desserviço para a Medicina em 50 anos”, permitiu uma visão aprofundada sobre o assunto e contribuiu para o esclarecimento de eventuais dúvidas.

O presidente da AMSP, Helio Begliomini, recordou a trajetória profissional do especialista, destacando a graduação de Lima na Escola Paulista de Medicina e a sua participação como membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Sociedade Brasileira de Psicanálise, além da atuação como professor no Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo e da autoria de dois livros – um deles, publicado na Inglaterra. “Com essas pequenas, mas afetuosas palavras, faço a introdução do Estevam”.

O palestrante relembrou que, enquanto ainda era estudante, morou no Sanatório Bela Vista, local fundamental para a sua formação e desenvolvimento profissional. “Eu aprendi muito sobre a Psiquiatria ali durante aqueles anos, tinha convivência com psiquiatras de diversas formações. A minha formação foi em base de autores europeus que pensam a psicopatologia em profundidade. Eu, para entender um conceito, preciso viver intensamente aquilo.”

Foi da necessidade de viver situações na prática que o médico se viu motivado a estudar e entender o que se entende como Burnout. “Inicialmente, me parecia que era um conceito da psicologia social, entretanto, havia muita coisa que tangenciava a minha área e eu ficava intrigado com aquilo, me perguntava se era uma nova entidade clínica que eu ainda não conhecia. O Burnout era um corpo estranho na Psiquiatria e na Medicina, eu comecei a ter interesse no assunto por um desconforto.”

Descobertas

Estevam Lima relembra que, apesar de a sua opinião demonstrar que a situação não se categorizava como uma condição psiquiátrica viável, a opinião pública apoiava tal conceito com muita convicção. Isso aconteceu até descobrir autores que também criticavam o tema e compartilhavam da mesma opinião.

O termo “burnout” surgiu com o psicólogo alemão Herbert J. Freudenberger, figura fundamental no movimento dedicado à assistência de pacientes com necessidades sociais, popularmente conhecido como free clinic. Neste contexto, eram recebidos muitos hippies, no auge do movimento, que usavam a expressão “burnout” para se referir um ao outro quando estavam em um estado de saúde ruim. Não tardou para que funcionários do local em que o psicólogo tratava os pacientes também adotassem o termo para descreverem seus estados de exaustão.

“Outro aspecto interessante é o perfil dos burned out. São indivíduos carismáticos, impacientes, comprometidos, com talentos para liderança, poderosos, intensamente focados e invencíveis, realizadores de tarefas sobre-humanas. Trata-se de indivíduos extraordinários, portanto, seria esperado que poucas pessoas desenvolvessem o Burnout, o que iria contrastar completamente com o que viria depois”, explicou.

A criação de um questionário chamado Maslach Burnout Inventory (MBI), desenvolvido por Christina Maslach, psicóloga da Universidade da Califórnia, também constitui a série de críticas de Lima. “Nas linhas que são feitas as perguntas, entende-se que todo mundo tem Burnout.” Neste sentido, o especialista demonstra que pacientes que tenham condições psiquiátricas graves, como estresse e depressão, poderão receber diagnóstico de Burnout e, assim, não terão o tratamento adequado de acordo com o quadro em que se encaixam – visto que para o caso do quadro abordado na apresentação, não há um tratamento específico.

“Não existe semiologia médica para Burnout e o teste do MBI é autodiagnóstico, a pessoa pode preencher seguindo as instruções e ela mesma chegará à conclusão se tem ou não. Outro ponto relevante é o Burnout na CID11, que gerou muita confusão. Dois dias depois, os técnicos da Organização Mundial da Saúde rapidamente publicaram nota indicando que ele não é classificado como uma condição médica”, fomentou.

O especialista reforçou que não é possível excluir transtornos psiquiátricos neste contexto, já que o próprio MBI os rotula como Burnout. “A minha crítica é dirigida exclusivamente ao aspecto científico, não estou questionando e nem desqualificando o sofrimento das pessoas.”

Helio Begliomini encerrou a reunião salientando que a edição teve uma das maiores plateias já vistas nas Tertúlias. O presidente da AMSP também forneceu um espaço para que os candidatos à Membro Titular da Academia pudessem defender o porquê devem ser eleitos.

Texto: Comunicação – Associação Paulista de Medicina

Fotos: Academia de Medicina de São Paulo