Tertúlia Acadêmica traz trabalhos vencedores dos prêmios científicos da AMSP
Na última quarta-feira, 13 de novembro, a Academia de Medicina de São Paulo realizou a penúltima edição do ano da Tertúlia Acadêmica. O evento foi marcado pela entrega do Prêmio Científico da AMSP – para Dara Gomes Sousa, na categoria “Alunos do Curso Médico de Faculdades de Medicina do Estado de São Paulo”, e para Vitor Penteado Figueiredo Pagotto, que concorreu na categoria “Médicos com CRM do Estado de São Paulo”.
O presidente da entidade, Helio Begliomini, recepcionou os condecorados. “A nossa Tertúlia vai ser diferente. Normalmente temos pessoas de muita experiência e que fizeram parte da história da sua especialidade. Hoje, vamos falar da Medicina do presente”, disse.
Dara, que é estudante do quinto ano da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP), realizou trabalho sobre “Frequência e causas de deficiência visual e cegueira em pessoas em situação de rua em Ribeirão Preto”. Segundo a futura médica, no ano de 2023, o Brasil registrava aproximadamente 236.400 pessoas em situação de rua, mais de 95 mil delas em São Paulo e 1.800 em Ribeirão Preto.
Ela explicou que a baixa renda, por si só, aumenta as chances de morbidades clínicas. No caso dos problemas de visão e saúde ocular, podem provocar má qualidade de vida e limitação da equidade, acesso e prática no cenário de trabalho ou educacional. Além disso, deficiência visual e cegueira na população em situação de rua são responsáveis pela perda anual de 410 bilhões de dólares no poder de compra. “A taxa de deficiência visual é seis vezes maior que na população geral e há maior prevalência de doenças oculares.”
De acordo com a estudante, a análise realizada em Ribeirão Preto contou com 371 participantes elegíveis, de modo que 349 deles aceitaram participar. No total, 337 (90,83%) completaram a pesquisa. As variáveis obtidas das características sociodemográficas demonstram que 297 dos participantes eram do sexo masculino (85,1%) e 182 de pele parda (52,1%).
“Este foi o primeiro estudo sobre saúde ocular em população em situação de rua do Brasil e o maior estudo oftalmológico do mundo neste grupo”, explicou. Dara também demonstrou que houve algumas limitações, como a taxa de resposta, as relações familiares e as demais comorbidades envolvidas, salientando, ainda, que as principais doenças oculares têm causas tratáveis, como erro refrativo e catarata. A estudante concluiu que, para se obter sucesso, os tratamentos devem ser feitos por meio de sistemas perenes em vez de mutirões.
Estudo desafiador
Em seguida, Vitor Penteado Figueiredo Pagotto, cirurgião plástico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), apresentou os conceitos de sua tese “Aplicação de células-tronco derivadas de tecido adiposo para tratamento de fístula enterocutânea em modelo experimental murino”.
De acordo com o médico, a fístula enterocutânea se caracteriza por uma comunicação anormal entre o intestino e a pele, sendo que 75% dos casos são originados de complicações cirúrgicas. É uma situação grave, com taxa de mortalidade de até 30% e prolongamento da internação hospitalar – em que os pacientes precisam ficar até mais de 65 dias internados, além de representar um aumento considerável dos custos de tratamento, em cerca de 400 mil dólares.
Pagotto explicou que, por ser uma terapia baseada em estudos de baixo nível de evidência, a pesquisa é desafiadora e apresentou as principais características da condição. “A FEC apresenta comportamento de ferida crônica, com persistência superior a três meses, trazendo comprometimento da vascularização ou necrose, com a presença de infecção e associação com outras patologias que comprometem a cicatrização, além de causar o aumento de leucócitos e vasos sanguíneos. É um mecanismo de ação ainda não esclarecido e mais estudos são necessários para validar a segurança e os resultados prévios.”
O cirurgião apresentou os métodos utilizados durante a análise, em que 27 ratos Wistar foram observados, e os resultados colhidos durante o processo. Segundo ele, por se tratar de um estudo experimental com tamanho amostral pequeno, agora é preciso adaptá-lo para os seres humanos. “Apesar de serem semelhantes, cada espécie tem as suas próprias particularidades.”
Ao finalizar a sessão, Helio Begliomini relembrou o início de sua carreira. “Me dá uma nostalgia muito grande estar diante de médicos tão jovens, porque faz mais de 50 anos que entrei na Medicina. Eu daria tudo para voltar ao que eu vivi e aos plantões que dei. Que vocês sejam excelentes profissionais e bem-sucedidos em cada aspecto da vida.”
Texto: Julia Rohrer – Comunicação – Associação Paulista de Medicina
Fotos: Academia de Medicina de São Paulo – Direitos Autorais Reservados