Oswaldo Freitas Julião
Oswaldo Freitas Julião, filho do maestro João Batista Julião, um dos líderes do ensino do canto orfeônico no País, nasceu em Mogi das Cruzes (SP), em 11 de janeiro de 1912, e graduou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 1936.
Como terceiroanista, na condição de auxiliar acadêmico, frequentou a 2ª Clínica Médica de Homens da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, sob a chefia do professor Rubião Meira. Aí, sob a orientação do professor José Inácio Lobo, obteve consistente conhecimento clínico. No sexto ano começou a frequentar a clínica neurológica como assistente voluntário e, posteriormente, como extranumerário. Participou do núcleo formador da neurologia paulista sob a orientação do professor Enjolras Vampré, assessorado pelos assistentes Adherbal Tolosa, Paulino Longo, Carlos Gama, Oswaldo Lange, Orestes Rossetto, Fernando de Oliveira Bastos, Henrique Mindlin, Carlos Virgílio Savoy, Venturino Venturini, José Lamartine de Assis, J. M. Taques Bittencourt, J. Carvalhal Ribas, dentre outros mais jovens.
Quando Adherbal Tolosa galgou a cátedra de clínica neurológica, Oswaldo Julião foi nomeado terceiro assistente (1938) e, posteriormente, segundo assistente (1944). Manifestou sua vocação didática e seu extraordinário conhecimento da especialidade, conquistando, com distinção, em 1945, a docência-livre na FMUSP com a tese Contribuição para o Estudo do Diagnóstico da Lepra Nervosa. Tratava-se de um estudo que reunia numerosa casuística dos leprosários do interior paulista, aliado à sua experiência como neurologista do Departamento de Profilaxia da Hanseníase do estado de São Paulo.
Oswaldo Julião era dotado de grande capacidade didática; expunha seus ensinamentos com muita clareza, virtude já manifestada quando atuou como assistente da cadeira de zoologia e parasitologia da Faculdade de Medicina Veterinária da USP (1937-1938), sob a coordenação do professor Zeferino Vaz, assim como na condição de professor de biologia de Colégio Universitário de São Paulo (1938).
Recebeu, no concurso promovido pelo Serviço Nacional de Lepra (1942), o 2º lugar com a monografia “Diagnóstico Clínico, Biológico e Laboratorial da Lepra”, em coautoria com Humberto Cerruti, Luiz Marino Bechelli e Armando Berti.
Oswaldo Julião fez estágios de aprimoramento em centros dos Estados Unidos da América e da Europa, destacando-se o serviço de neurologia no Hospital da Salpêtrière de Paris, dirigido pelo professor Raymond Garcin.
O tempo, a competência e o grande tirocínio coroaram-lhe com a condição de professor titular de clínica neurológica da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba da Pontifícia Universidade Católica (PUC, Figura 1). Logo em seguida, também de professor de clínica neurológica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), inaugurando o Departamento de Neurologia, em março de 1966, com a aula “Etiologia das Doenças Neurológicas”. Comentava que “as polineuropatias também eram ‘poli’ pela frequência de dependência de várias etiologias”.
Com grande abnegação deixou a clínica privada para se dedicar exclusivamente ao ensino da neurologia nessas duas faculdades, à custa do sacrifício de reiteradas viagens, aulas em instalações insuficientes e, por vezes, com a carência de assistentes.
Oswaldo Julião foi um dos grandes mestres e entusiastas da neurologia, especialidade que abraçou com grande afinco. De acordo com seu biógrafo Carlos da Silva Lacaz10, ele era “cordial e benevolente; modesto e discreto; e raramente se permitia às efusões em rodas mais íntimas. Com os pequenos olhos cintilantes e perspicazes, os gestos comedidos e exatos, a atitude receptiva e ao mesmo tempo hermética, parecia estar sempre realizando um exame neurológico. Proceder ao exame neurológico e deslindar o diagnóstico em caso complexo, sem pressa e sem preocupação de honorário – confidenciou-nos uma semana antes da sua morte – sempre havia sido a paixão de sua vida de especialista. Impunha-se pela figura discreta e, acima de tudo, pela capacidade de exposição didática e pela obra publicada”.
Entre os diversos trabalhos que escreveu sobressai “Sistematização do Exame Neurológico”, no qual, com sua expertise, apresenta um roteiro de observação do paciente do ponto de vista neurológico, que era o que mais amava. Suas cogitações consistiam de grande utilidade para estudantes e médicos. Esse artigo foi publicado por três vezes (!) na Revista de Medicina do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz da FMUSP e foi muito requisitado pelos ensinamentos que reunia. Por ocasião de seu falecimento, esse trabalho foi publicado uma quarta vez por iniciativa do magnífico reitor da Unicamp, Zeferino Vaz, e constitui hoje raridade bibliográfica de grande valor histórico para a especialidade.
Oswaldo Freitas Julião, grande neurologista brasileiro, faleceu na cidade de São Paulo, aos 9 de junho de 1973, aos 61 anos. Seu nome é honrado como patrono da cadeira no 16 da augusta Academia de Medicina de São Paulo e dá nome a uma rua no bairro Jardim Luso, na cidade de São Paulo.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria de Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
A foto, com a beca de professor titular, foi obtida na Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba da Pontifícia Universidade Católica.
Domingos Rubião Alves Meira foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, por meio mandato anual entre 1905-1906 e por um mandato anual entre 1911-1912, e é o patrono da cadeira nº 51 desse sodalício.
Enjolras Vampré foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, por um mandato anual entre 1921-1922, e é o patrono da cadeira nº 54 desse sodalício.
Adherbal Pinheiro Machado Tolosa foi presidente da Academia de Medicina de São Paulo por um mandato anual entre 1960-1961, e é o patrono da cadeira nº 52 desse sodalício.
Paulino Watt Longo é o patrono da cadeira nº 85 da Academia de Medicina de São Paulo.
Antonio Carlos Gama Rodrigues foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, por um mandato anual entre 1944-1945.
Oswaldo Lange é o patrono da cadeira nº 119 da Academia de Medicina de São Paulo.
Zeferino Vaz é o patrono da cadeira nº 84 da Academia de Medicina de São Paulo.
Humberto Cerruti é o patrono da cadeira nº 94 da Academia de Medicina de São Paulo.
Carlos da Silva Lacaz foi presidente da Academia de Medicina de São Paulo por um mandato anual entre 1962-1963, e é o patrono da cadeira nº 53 desse sodalício.
Oswaldo Gonçalves Cruz é o patrono da cadeira nº 99 da Academia de Medicina de São Paulo.