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Capítulo 3 - Do nascimento da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo
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Capítulo 3

DO NASCIMENTO DA SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA DE SÃO PAULO

1. O motivo

Luiz Pereira Barreto (1840-1923), médico e filósofo, era reconhecidamente um líder político da sua época. Essa liderança se firmou na década de 1880, a qual resultou em um prestígio que desfrutaria por todo o resto da vida. Barreto pregava destemidamente soluções para a política brasileira, mas também, como sói acontecer, atraía adversários. Sua atuação não se limitava à teoria, considerando que em 1889 concorreu às eleições como candidato a deputado pelo Segundo Distrito da Província de São Paulo, nas quais foi batido por Moreira de Barros. Porém, apro­ximava-se a concretização dos ideais republicanos e, quando foi garantida a nova forma de governo, Pereira Barreto seria eleito Representante Constituinte Estadual de 1891. Em homenagem a seus méritos, elegeram-no presidente da Assembleia Constituinte e, posteriormente, presidente do Senado Estadual. Fazia parte da oposição e, consequentemente, sofria acerbas críticas da situação, publicadas nos jornais da época.

A bem ver, essas críticas a Pereira Barreto atingiam outros médicos, que, à época, não tinham um local, uma sociedade na qual pudessem se reunir, amalga­mar-se pela profissão e pelo prestígio que cada qual possuía em sua individualidade, a mostrar a força política da grei.

É preciso registrar que não somente no campo político, mas também o combate ao charlatanismo e às concepções climatológicas, substituindo-as pelas noções de higiene, além das posições firmes dos médicos em relação aos problemas de saúde que assolavam o Estado, geravam inimizades e seus respectivos movimentos de oposição.

Assim, nascia a necessidade premente de esses profissionais se unirem, sendo a forma eleita criar uma sociedade médica e promover um grande banquete de desagravo e de união em torno de Luiz Pereira Barreto. A data escolhida foi 7 de março de 1895, uma quinta-feira.

2. A criação

Houve uma reunião preparatória, em 24 de fevereiro de 1895, que se deu no consultório de Sergio Meira, à Rua São Bento, 23. Estavam presentes os seguintes médicos: Luiz Pereira Barreto, Theodoro Reichert, Inácio de Rezende, Pedro de Rezende, Mathias de Vilhena Valladão, Amarante Cruz, Cândido Espinheira, Erasmo do Amaral, Luiz de Paula, Marcos de Arruda, Evaristo da Veiga, Sergio Florentino de Paiva Meira e Carlos José de Arruda Botelho. Foram ainda considerados presentes, que “só por motivo de força maior deixaram de comparecer” (primeira ata preparatória), Arnaldo Vieira de Carvalho e Jayme Serva. Todos foram considerados fundadores.

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Carlos José de Arruda Botelho

Fonte: Disponível em: <https://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/carljabo.jpg>. Acesso em: 28 de agosto de 2012

No dia 7 de março de 1895, pela manhã, deu-se a segunda reunião preparatória, à Rua São Bento, 23, com a presença de Luiz Pereira Barreto, Mathias Valladão, Pedro de Rezende, Luiz de Paula, Erasmo do Amaral, Tiberio de Almeida, Sergio Meira, Coriolano Burges, Cândido Espinheira, Gulter Pereira, Evaristo da Veiga, Aristides Serpa, José Redondo, Rodolpho Margarido da Silva, Gregório Cunha Vasconcellos, Amarante Cruz, Evaristo Bacellar e Theodoro Reichert, quando este último foi convidado para presidir a sessão. Na ocasião, foi aprovado o Estatuto, que dispõe, no art. 4º, que será cinquenta o número de sócios e, por unanimidade, foi designado o dia 7 de março para a sessão solene comemorativa do dia do aniversário da instituição. Elegeu-se a primeira diretoria, por aclamação, assim composta: presidente, Luiz Pereira Barreto, e para os demais cargos, por maioria de votos, Carlos Botelho (vice-pre­sidente), Sergio Meira (primeiro-secretário) e Mathias Valladão (segundo-secretário). Ficou resolvido que se completasse a sociedade com os seguintes médicos, aceitos por unanimidade: José Luiz de Aragão Faria Rocha, José Alves Rubião, Carlos Comenale, Felice Buscaglia, Jerônimo de Cunto, Francisco Pignataro, João Neave, Arthur Vieira de Mendonça, Raphael de Paula Souza, William Strain, Ataliba Florence, Bernardo de Magalhães, Octaviano de Mello Barreto, Philadelpho de Lima, Arthur Seixas e Claro Homem de Mello (conforme a ata do dia, publicada no ­Boletim de Medicina e Cirurgia de São Paulo, ano 1, n. 1, 1895)*.

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Rua São Bento, 23, cerca de 1910

Fonte: Acervo do autor

3. O banquete

À noite, às dezenove horas e quinze minutos, iniciou-se o grande banquete servido em uma mesa em forma de U, preparada para noventa talheres, no salão do Club Germania, que teve elevado alcance social, oferecido por setenta médicos**, como demonstração de alto apreço às qualidades morais e intelectuais de Luiz Pereira Barreto. O menu do jantar foi organizado pela Rotisserié Sportsman.

Por volta das dez horas, começaram os brindes e os discursos, quando se declarou constituída a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Os médicos presentes foram convidados a se inscrever como sócios. Um conjunto de música do palco pequeno do Club tocou peças durante o evento, que foi encerrado à meia-noite e quinze, ao som do Hino Nacional.

POTAGE

Crême de Volaille

HORS D’OEUVRE

Canapé de Caviard

POISON

Robalo sauce Chambord

ERÉES CHAUDES

Gibelotte de lapin á la Sportsman

Filet pique á la Richelieu

ENTREÉS FROIDE

Paté de Foi Gras Belleuve

LÉGUMES

Asperges sauce Mousseline

ROTI

Dinde Truffée

Salade Assortie

ENTREMENTS

Gateau monté de Savoie

Parfait á la Vanille

FRUITS ET FROMAGE

VINS

Madére

RHIN

Johannisberger, Niersteiner

BORDEAUX

Ch, d’Arc, Ch. Margaux

BORGOGNE

Pommard, Chambertin

CHAMPAGNE

Monopol, Farre

Liqueurs – Café - Cigares

Cardápio do banquete de 7 de março de 1895

Fonte: O Estado de S. Paulo, 9 de março de 1895

4. A instalação oficial

Oito dias depois da fundação, em 15 de março de 1895, deu-se a instalação oficial da Sociedade de Medicina, com sua primeira Assembleia Geral, realizada no Salão Nobre da Academia de Direito do Largo São Francisco, gentilmente cedido para este fim pelo Barão de Ramalho. Naquela ocasião, foi lavrada a ata inaugural da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Nessa primeira Assembleia, que se iniciou às dezoito horas e trinta minutos, revogou-se o disposto no art. 4º, atitude em que o número de membros da Sociedade passou de cinquenta para “ilimitado”. Curioso notar que, em maio de 1897, voltou a ser limitado, permanecendo até hoje, somente variando o número de membros. Em 1897, eram cem membros, número que permanece até fevereiro de 1920, quando foi elevado para cento e trinta; em 1936, passa para cento e vinte; em 1954, já sob o nome Academia de Medicina de São Paulo, permanece cento e vinte; e, em 1961, passa para cento e cinquenta. Em 1989, o número se eleva para duzentos, o qual se mantém até 2004, quando, definitivamente, estabelece-se cento e trinta cadeiras.

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Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, 2012

Fonte: Disponível em: <https://i0.ig.com/bancodeimagens/43/qb/m2/43qbm2ctwkgbghxzovwkz lsg8.jpg>. Acesso em: 28 de agosto de 2012

5. Lista dos médicos

Lista dos médicos que ofereceram e participaram do banquete de desagravo a Luiz Pereira Barreto, em 7 de março de 1895, dia do nascimento da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo.

A. Siqueira

Abilio Vianna

Alfredo de Medeiros

Alfredo Ellis

Alfredo Zuquim

Almeida Netto (sic)

Amancio de Carvalho

Americo Brasiliense Filho

Arnaldo Vieira

Arruda Sampaio

Arthur Azevedo

Arthur Seixas

Ascendino Reis

Ataliba Florence

Bernardo Magalhães

Bettencourt Rodrigues

Braulio Gomes

Buscaglia

Candido Espinheira

Cantinho

Carlos Botelho

Carlos Niemeyer

Carlos Penna

Cerqueira Lima

Comenale

Coriolano Burgos

Correia de Menezes

De Cuntô (sic)

Diaulas de Almeida

Diogo de Faria

Erasmo do Amaral

Eulalio da Costa Carvalho

Evaristo Bacellar

Evaristo da Veiga

Faria Rocha

Franco de Medeiros

Fructuoso Pinto

G. Philadelpho

Gregório Cunha Vasconcellos

Gualter Pereira

Guilherme Ellis

Honorio Libero

Ignacio Pereira da Rocha

J. Neave

Jayme Serva

José Redondo

José Rubião

Leonidio Ribeiro

Lopes dos Anjos

Luiz de Paula

Luiz G. de Amarante Cruz

Luiz Jardim

Marcos Arruda

Mathias Valladão

Mello Barreto

Mello Oliveira

Mendonça

Messuti

Monteiro de Barros

Moraes Dantas

Nestor de Carvalho

Odilon Goulart

Orencio Vidigal

Paula Machado

Paula Souza

Pignataro

R. Margarido

Rodrigues dos Santos

Sergio Meira

Souza Castro

Theodoreto do Nascimento

Theodoro Reichert

Thomaz Alves

Thompson

Thiberio de Almeida

Ulysses Cruz

Vieira de Mello

Vital Brazil

W. Strain

* Nos Anaes Paulistas de Medicina e Cirurgia, v. 95, n. 2, p. 64-81, 1968, de J. O. Ribeiro Neto, no artigo intitulado “Os primeiros anos da Academia de Medicina de São Paulo”, constam como fundadores mais quatro nomes: Orencio Vidigal, Thomaz de Aquino Monteiro de Barros, Hermano Santana e Alberto Seabra. Porém, não há referências a esses nomes na ata e somente o primeiro participou do banquete à noite.

** A lista completa com o nome dos setenta médicos que ofereceram o banquete está no final deste capítulo.






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