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AIDS – POSSÍVEL ENCERRAMENTO DA EPIDMIA

14.03.2014 | Acadêmicos, Gerais

Vicente Amato Neto e Jacyr Pasternak

Sempre imaginamos que o fim da epidemia pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV 1 e 2), causadoras de AIDS, só seria possível quando fosse disponível uma vacina eficiente. De fato, essa seria a solução mais simples e mais barata, mas com os meios que temos hoje, aqui e agora, é exequível encerrar a epidemia da infecção por estes vírus. Para tanto, é necessário considerável esforço, recursos e a famosa vontade política – que para problemas relacionados à saúde, em geral, não está por aí. 

Mencionaremos manobras necessárias para conseguirmos encerrar a epidemia. 

1. Saber quais são os contaminados. Apesar de a prova sorológica ser facilitada, gratuita e anônima se a pessoa testada assim o quiser, calcula-se que pelo menos dois terços dos brasileiros acometidos pela infecção não saibam do fato. O exame pode ser feito em larga escala e sem grandes aportes financeiros, usando estruturas existentes. Seria necessária campanha educativa que insistisse nisso. Marqueteiros que fizeram coisas aparentemente impossíveis, como eleger a presidente Dilma, têm, a nosso ver, capacidade de convencer a população. 

2. Tratar todos os contaminados, com ou sem sintomas, com esquemas atualizados. É bem conhecido o fato de que pacientes com pequenas cargas virais, abaixo de 1.500 genomas/mL, oferecem baixo risco de serem infectados. Também, essa providência pode ser adotada com os recursos que já temos, apenas incrementando-os para a maior demanda que vai surgir. Outrossim, afigura-se essencial outra campanha educativa para os medicados, explicando que não é adequada a suspensão do tratamento, porquanto uma vez iniciado, dentro do que conhecemos hoje, é para a vida toda. Os tais marqueteiros que já citamos deverão ser acionados, e apostamos que suas consciências preferirão trabalhar para o bem em vez de eleger as peças que divulgaram para ganhar as eleições. 

3. Aperfeiçoar o sistema de atendimento de gestantes contaminadas para garantir a profilaxia da transmissão vertical. É conduta que está funcionando razoavelmente bem, com uma ou outra falha, explicada por falta de conhecimento da gestante ou do sistema de saúde que a atende; contudo, isso é circunstância e é fácil de reparar. Um dos grandes sucessos que temos tido é exatamente evitar a transmissão vertical. 

4. Tornar muito simples, sem burocratizar as profilaxias pós-exposição – quando alguém tem uma atividade de risco e pode ser tratado nas próximas 24 a 48 horas – e pré-exposição. Está certo que é uma incoerência alguém saber que vai arriscar-se e usar medicação profilática antes – afinal os métodos de barreira foram inventados para isso mesmo. Ainda assim, existem seres que não se caracterizam pelo pensamento organizado e bom senso, e há lugar seguramente para essa prevenção. Ambas as modalidades devem ser incentivadas e fornecidas sem influência de formalidades complexas tão prediletas dos nossos governantes. Se alguém for obrigado a preencher algo como o eSocial e gerar uma guia para conseguir medicação, nestas situações, possuímos certeza de que não vai atingir o benefício pretendido. 

Programas de troca de seringas e agulhas para nossos muitos drogados, sem falsos moralismos, sem partir para a repressão policial e sem atribuições evitáveis. Os programas deste tipo não são o ideal, que é não usar drogas. Porém, redução de danos significa diminuir os riscos da transmissão do HIV por essa via. Na Europa Oriental, esta é a mais comum das maneiras de ocorrer contaminação e a repressão constante não está conseguindo diminuir a disseminação da infecção. 

Se tudo isso for feito – de novo insistimos que é factível com o que contamos agora –, é possível tornar muito rara a contaminação e, em prazo curto, finalizar a epidemia. Alguns casos vão aparecer e, idealmente, serão tratados precocemente como preconizamos acima. Em pouco tempo, casos de AIDS como os que conhecemos no começo da epidemia, e como ainda hoje são encontrados, figurarão como algo a ser lembrado na história da medicina. Adoraríamos ser a geração que viu nascer a epidemia e que em uma única – a nossa, e confessamos que já estamos na rampa de saída. Portanto, ainda mais constatamos o encerramento da mesma. Temos a receita: nossos queridos governantes podem executá-la, se quiserem. 

Vicente Amato Neto e Jacyr Pasternak 

Os autores são professores universitários, com especialização 

em clínica de doenças infecciosas e parasitárias