Globalização e Consumismo
Sou leitor assíduo dos artigos do Professor Carlos Alberto Di Franco, publicados no jornal O Estado de São Paulo. Eles me trazem uma sensação de conforto espiritual, despertam em mim uma tácita solidariedade. Foi essa mesma sensação que tive, ao terminar a leitura da coluna do Professor Di Franco, em 27 de março de 2017. Entre outros sábios parágrafos, selecionei este para justificar meus comentários de hoje: “A busca da verdade é frequentemente etiquetada como fundamentalismo, ao passo que o relativismo, isto é, o deixar-se levar ao sabor da última novidade, aparece como a única atitude à altura dos tempos que correm”.
Estou solidário com sua reflexão e me sinto estimulado a escrever este artigo — e o publicar — com a aquiescência de nosso Suplemento Cultural.
Pensar e escrever, contribuir, procurar emitir algumas opiniões. Bem, sou apenas um dentre tantos e tantos que se preocupam em encontrar a estrada que conduzirá a humanidade em direção a seu futuro.
Estou convicto de que o futuro, necessariamente, precisa ser moral, ético e com responsabilidades por todos assumidas. Mas qual o ponto de partida? Que problemas essenciais enfrentamos, nos dias de hoje, que estão influindo no comportamento humano?
Os que pensam e se preocupam com o futuro da Humanidade precisam reconhecer a existência e a importância de duas marcantes características de nossa época. Elas estão sendo as determinantes dos comportamentos e das condutas.
A primeira é a Globalização da Humanidade no Planeta Terra. Com a palavra escrita assim mesmo: Globalização como nome próprio, com “G” maiúsculo! Globalização da comunicação, por meio da internet e do transporte rápido.
Globalização da economia, cada vez mais interdependente e transcontinental.
Globalização dos graves problemas ambientais, que não respeitam fronteiras e, por igual, comprometem a ocorrência de vida sobre a Terra.
Globalização do fenômeno migratório, com enormes contingentes populacionais procurando se transferir de áreas mais pobres e subdesenvolvidas para áreas mais ricas e com elevado padrão de vida.
Mas Globalização que traz consequências! Para responder às consequências da Globalização não se justificam, a título nenhum, propostas “trumpistas”, “islâmicas” ou “fundamentalistas”. Todas estão limitadas em si mesmas, são insuficientes para responder aos desafios com que o mundo se defronta, na atualidade. Globalização é, então, uma primeira característica de nossa época. Vejamos a outra.
A segunda resulta da falta de distinção entre o que é “novo” e o que é simplesmente uma “novidade”.
O “novo” é o que passa a existir, encontra seu lugar na Sociedade e o que a faz avançar. A “novidade” é apenas aquilo que é promovido, com palavras, com luz, com som. Essa é uma distinção que para o público, em geral, nem sempre está clara, sobretudo nos dias de hoje.
Vivemos uma época em que a Sociedade busca seus valores na televisão e na internet. Estas diariamente bombardeiam a Sociedade com “novidades” que — afirmam — é preciso conhecer, aceitar, incorporar. Aqui o material supera o cultural, o Ter afasta e distancia o Ser. Destaque-se: no corpo social a juventude é a parcela mais exposta e sensível ao bombardeio propagandístico.
Aí está! O uso massivo dos meios de comunicação diariamente influencia as pessoas com a divulgação das “novidades”; até mais do que isso, sugere a sensação de frustração para quem não as tem. Isso tende a formar seres condicionados, não reflexivos, incapazes de viver com responsabilidade em seu meio social, respeitando sempre princípios e valores. O objetivo de cada um passa a ser a conquista, a qualquer custo, da “novidade”, ou, na impossibilidade disso, os mais perturbados acabam por se entregar ao mundo da irrealidade, aderindo ao uso de drogas.
Então, eis o que se apresenta! Na raiz de quase tudo vamos encontrar, sempre, estes dois fenômenos, que estão marcando profundamente nossa época: a Globalização (das comunicações, da economia, da devastação ambiental, da migração em massa) e o Consumismo das Novidades.
Qual a resposta a esses desafios? Essa pergunta não pode ser respondida em algumas frases, exige muita reflexão. Vou continuar refletindo, quem sabe algum dia possa contribuir para encontrar respostas corretas.
Nelson Guimarães Proença
Professor Emérito da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa
de São Paulo e Membro da Academia de Medicina de São Paulo