Maconha no século XXI é tema da última Tertúlia Acadêmica do ano
Na última quarta-feira, 11 de dezembro, a Academia de Medicina de São Paulo realizou a última edição de 2024 da tradicional Tertúlia Acadêmica. O presidente da AMSP, Helio Begliomini, iniciou a sessão agradecendo a presença de todos e, em especial, saudando o presidente da Associação Paulista de Medicina, Antonio José Gonçalves.
Com o tema “A Maconha no Século XXI”, a palestra foi conduzida pelo psiquiatra especializado em Alcoolismo e dependência de outras drogas, Ronaldo Laranjeira. Ele, que é professor Titular de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) e presidente da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), iniciou sua apresentação agradecendo a oportunidade de estar no evento da Academia de Medicina de São Paulo.
Ele destacou os efeitos mentais adversos do uso da maconha, especialmente em jovens e adolescentes e que o consumo da substância pode acarretar sintomas como pensamento lento, dificuldades de concentração, problemas escolares, depressão, ideação suicida, comportamentos antissociais, brigas e violência.
Muitos são os danos cognitivos listados pelo psiquiatra, que podem comprometer as funções de decisão, a memória, a atenção, além de impactos na função executiva, que é a capacidade de pensar e executar uma coisa após a outra, fundamental para o rendimento do indivíduo.
Laranjeira também falou sobre os riscos de desenvolvimento de sintomas psicóticos subclínicos, podendo evoluir para esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar. “Em alguns casos, o surto psicótico pode deixar a pessoa incapaz para o resto da vida. Isso afeta entre 1% e 2% da população, o que é significativo”, afirmou.
Prescrições e mercado desregulado
O número de usuários de maconha tem crescido substancialmente. De acordo com o especialista, para cada usuário de maconha, quatro familiares são diretamente afetados. “Embora o comportamento seja individual, o impacto é familiar. Usuários de drogas, de modo geral, afetam suas famílias. Muitas vezes, os recursos se esgotam e o Sistema Único de Saúde não tem condições de atender esses casos devido à falta de recursos”, pontuou.
O professor da EPM citou ainda a crescente discussão sobre o uso de derivados da maconha, como THC e Canabidiol. “Não existe maconha medicinal, pois não há evidências científicas que justifiquem seu uso na Psiquiatria. A única condição com evidência seria o uso compassivo de Canabidiol em casos raros de epilepsia refratária em criança. Todo o resto é oportunismo”, enfatizou.
Por fim, ele criticou o mercado desregulado, caracterizado pela falta de pesquisas científicas e dados alarmantes, como o fato de 44% dos jovens americanos consumirem maconha.
Ao final da palestra, Helio Begliomini agradeceu a apresentação de Ronaldo Laranjeira e desejou Feliz Natal e Próspero Ano Novo para todos os presentes. “Que 2025 seja um excelente ano para todos nós”, concluiu.
Texto: Alessandra Sales – Comunicação – Associação Paulista de Medicina
Fotos: Academia de Medicina de São Paulo – Direitos Autorais Reservados