Memória: Mathias de Vilhena Valladão – um dos grandes protagonistas na criação da sociedade de medicina e cirurgia de São Paulo
Mathias de Vilhena Valladão nasceu em 22 de junho de 1860, em Campanha da Princesa (MG), histórica cidade que igualmente fora berço do grande cientista Vital Brazil. Estudou na Faculdade Nacional de Medicina, sendo aluno de Torres Homem. Diplomou-se em 1884, defendendo a tese de doutoramento intitulada Sintomatologia e Diagnóstico Diferencial das Lesões Protuberanciais.
Após curta estadia em Ouro Preto (MG) em 1889, transferiu-se para São Paulo, onde exerceu a clínica durante 30 anos. Conquistou pelo seu saber grande clientela, tornando-se o médico de maior fama de sua época.
Recusou convite para ocupar a 1a cadeira de clínica médica da Faculdade de Medicina de São Paulo, que lhe competia pela sua erudição e reconhecida experiência, assim como em decorrência de seus predicados morais e pelo exemplo que dava de vida familiar e social.
Mathias de Vilhena Valladão e Sérgio Meira foram membros fundadores e os grandes protagonistas da criação da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em 1895, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, tendo Mathias Valladão a honra de ser o quarto presidente desse sodalício, num mandato de um ano entre 1898-1899. Graças também aos seus esforços foi fundada a Policlínica de São Paulo, entidade que presidiu durante vários anos consecutivos.
Foi um dos fundadores do Instituto Pasteur e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; contemporâneo e amigo de Pereira Barreto e Arnaldo Vieira de Carvalho, ambos, igualmente, presidentes da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo.
Mathias Valladão tinha grande conhecimento semiológico e acurada observação. Prestou relevantes serviços na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Vivia para seus pacientes; estudava, instruía-se e era desprovido das ambições do renome e das vantagens pessoais, sendo modelo de probidade. Escolheu satisfazer-se com a modesta remuneração do trabalho.
Tinha grande prestígio entre seus pares, sendo considerado um dos mais notáveis clínicos de sua época e uma das mais eminentes figuras da medicina brasileira. Seria um professor invejável…
Publicou 22 trabalhos, estando entre eles: Febre Amarela, Etiologia; Febre Amarela: Contágio e Etiologia; Tratamento da Febre Amarela; O Éter na Narcose Cirúrgica; Tratamento das Moléstias do Coração, Digitalis; Um Caso Interessante de Seringomielia; Embolia das Artérias Mesentéricas; Dores e o seu Remédio; A Medicina Digitálica; Úlcera do Duodeno, dentre outros.
Na Antologia Médica Brasileira de Raul Briquet (1951) está consignado um caso de anemia perniciosa progressiva, de difícil diagnóstico, pelo que Mathias Valladão, ao propor a correta interpretação, recebeu elogios dos notáveis clínicos Miguel Couto e Miguel Pereira.
Ulysses Paranhos, médico e um dos fundadores da Academia Paulista de Letras em 1909, assim se expressou a respeito de Mathias Valladão: “Foi o tipo mais bem acabado de clínico que viveu entre nós. De uma ilustração rara, de um talento brilhante, de uma lógica arrebatadora, de um coração cheio de bondade diante do doente, ele reunia, sintetizava todas essas primorosas qualidades para formular o diagnóstico, fazer o prognóstico e instituir a terapêutica, que era sempre razoável, segura, positiva”.
Mathias Valladão era conhecedor dos idiomas alemão e latim. Escrevia correta e elegantemente. Era dotado de grande cultura geral, apreciando, particularmente, temas históricos e, dentre eles, de autores antigos, muitos dos quais lia na língua original.
Faltou-lhe tempo para a publicação de livros. Contudo, Alfredo Valladão, seu irmão, publicou em 1954 um opúsculo, relatando a importância dele na medicina brasileira.
Mathias de Vilhena Valladão foi sempre caridoso e desinteressado. Aceitou a dor e a própria morte com coragem estoica e resignação cristã, não se rebelando contra os percalços da má sorte. Morreu na serenidade da fé católica em 1920. É honrado como patrono da cadeira no 13 da augusta Academia de Medicina de São Paulo.
Helio Begliomini, titular e emérito da cadeira no 21