Mestre Adelino Ângelo, o Retratista
(DA TRANSCENDÊNCIA DO FEIO E FIXAÇÃO NO BELO)
Guido Arturo Palomba
Onde houver vida humana, por mais retorcida que seja, que imperem mendigos, alcoólicos e loucos de todo o gênero, ei-lo arrostando o seu labor.
E logo enseja, com a essência dos três gênios que o fecundam (El Greco, Caravaggio e Sorolla y Bastida), os píncaros artísticos das formas e das cores.
Espírito versátil, por um momento apossa-se de figuras da miséria para retratá-las em busca do néctar dos vergéis do impressionismo-expressionismo. E de casaca, como grande espadachim da verve e do talento, pincel em punho ataca as telas a tinta e traços, vencendo a desgraça humana com luzes sobre luzes. Assim é capaz de transmudar as mais ogres criaturas em primas obras, fixando-as com grande força pictórica, cuja beleza dos quadros se alevanta naturalmente no mais puro sentido.
Aí está a sua genialidade: vai aos degradados esgrimir contra o feio e rendê-lo belo, momento em que os Cristos vivos desprezados pela sociedade tornam-se insignes na forma, nas cores, nos olhares de soslaio, nos rostos e mãos encarquilhados pelos caminhos das cruzes e dos submundos em que vivem. Adelino Ângelo é, hoje, no mundo, imbatível em seu mister e está entre os melhores pintores de todos os tempos.
E o nosso orgulho é vê-lo sempre assim.
Guido Arturo Palomba
Membro Emérito e Ex-presidente da Academia de Medicina
de São Paulo e Diretor Cultural da Associação Paulista de Medicina.