Saudação ao Dr. Guido Arturo Palomba
Nelly Martins Ferreira Candeias
Assumir a presidência de um ato solene como a homenagem ao Dr. Guido Arturo Palomba, membro deste Instituto desde 2004, Membro Emérito da Academia de Medicina de São Paulo e Diretor Cultural da Associação Paulista de Medicina, é uma honra para o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Prestigia com sua presença duas entidades históricas que desde o século XIX convivem em perfeita harmonia, unidas por sentimentos de civismo e de crença nos valores da Nação, e pelo sagrado dever de transmiti-los a gerações sucessivas.
O Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo foi criado em novembro de 1894, incluindo, em seu primeiro quadro social, 168 fundadores de formação multiprofissional, entre estes, alguns médicos que, meses depois, em março de 1895, criariam a primeira entidade médica paulista, a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Em 1954, essa entidade se transformou na atual Academia de Medicina de São Paulo. Sua finalidade, desde o princípio, foi preservar a tradição, a história e o progresso da Medicina e das ciências afins.
A semelhança de ideais das duas novas entidades deu-lhes um sentimento de confraternidade e de respeito mútuo, que nelas permanecem desde o século XIX até a presente data.
Guido Arturo Palomba, hoje homenageado, é psiquiatra forense, um especialista que, por sua longa experiência de mais de 30 anos, tornou-se referência para juízes, advogados e para a mídia.
Foi o primeiro médico a tomar posse na atual gestão desta diretoria (2004). Em 2007, em Assembleia Geral Extraordinária, tornou-se Presidente da Academia Medicina de São Paulo, ocupando a cadeira nº 1 de uma agremiação completamente renovada.
Neste Instituto, depois dele, tomaram posse os médicos Luiz Freitag (2008), Roque Marcos Savioli (2011), José Luiz Gomes do Amaral (2011), Manoel Joaquim Ribeiro do Valle Neto (2013), José Luiz Egydio Setúbal (2014) e Hélio Begliomini (2015), cuja posse ocorreu, recentemente, por ocasião da comemoração dos 120 anos do Instituto.
In memoriam, recordo os nomes do Dr. Lycurgo de Castro Santos Filho, professor de História da Medicina na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas e professor de História da Cultura na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Foi o décimo segundo dos 15 presidentes deste Instituto.
Recordo também Duílio Crispim Farina, membro de nosso Instituto, que abordou a História da Medicina de forma mais genérica, sendo patrono da cadeira nº 78 da Academia de Medicina de São Paulo.
Mais recentemente, faleceram dois médicos, professores titulares da USP — José Aristodemo Pinotti, Secretário da Saúde do Estado de São Paulo, e José Alberto Neves Candeias, que fundou o Departamento de Microbiologia no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Ambos deixaram na memória deste Instituto as mais gratas e perenes recordações.
No que diz respeito ao passado mais remoto, vários médicos fizeram parte de ambas as instituições: Luiz Pereira Barreto, introdutor do café em Ribeirão Preto, foi um dos fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Tomou posse neste Instituto em junho de 1895. Carlos Botelho, um dos seus fundadores, tornou-se, depois, Secretário da Agricultura de nosso Estado.
Limito-me a mencionar mais dois médicos que fizeram parte das duas agremiações. O primeiro deles, Francisco Franco da Rocha, criou o Hospital do Juqueri, em 1896. Foi eleito para o IHGSP, em abril de 1897.
Dedicou toda a sua vida ao Hospício do Juqueri, onde criou uma equipe fundamental para o desenvolvimento da psiquiatria paulista.
O segundo nome é o do inesquecível Arnaldo Vieira de Carvalho, que se diplomou pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1888 e foi eleito membro de nosso Instituto em 1903.
A ele, como é sabido, deve-se a fundação da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, da qual foi o primeiro diretor. Em sua homenagem, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo é denominada a “Casa de Arnaldo” e a avenida onde o edifício está localizado recebeu o carinhoso e familiar nome de “Doutor Arnaldo”.
Dr. Arnaldo também foi diretor da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde se destacou como diretor clínico, pelas ampliações e reformas que promoveu em seus serviços assistenciais e pela modelar organização que imprimiu a essa entidade.
É oportuno referir, porque se desconhece, que o Dr. Arnaldo teve como assistente a Dra. Marie Rennotte, belga de origem, a primeira mulher, normalista e médica, a tomar posse neste Instituto, em maio de 1901.
No século XIX, por grave preconceito, as mulheres eram impedidas de frequentar escolas de nível superior e, por isso, Marie Rennotte não teve acesso à Faculdade de Medicina, razão pela qual foi estudar nos Estados Unidos.
O arquivo do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo tem seu Diploma de Medicina, emitido no Women’s Medical College of Pennsylvania, Philadelphia, em 1892, quando tinha cerca de 40 anos.
Em 1906, Marie passou a trabalhar na Clínica Cirúrgica da Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia, ocasião em que colaborou com Arnaldo Vieira de Carvalho.
Esse registro histórico foi comprovado após exaustiva pesquisa neste Instituto e na Santa Casa de Misericórdia, onde se encontrou uma folha de presença, contendo as assinaturas do Dr. Arnaldo e de Marie Rennotte.
Em 1912, entrou para a Diretoria da Cruz Vermelha, propondo a fundação de um hospital para crianças, inaugurado em 1919, no bairro de Indianópolis, em São Paulo.
Com relação ao nosso homenageado de hoje, Dr. Guido Palomba, destaco que seu Tratado de Psiquiatria Forense, Civil e Penal (Atheneu, 2003) foi o primeiro tratado publicado em língua portuguesa, tornando-se uma edição rara no acervo mundial, o mesmo ocorrendo com várias obras jurídicas que se encontram na sua extensa bibliografia.
Durante 15 anos, Dr. Guido Palomba dedicou-se ao manicômio judiciário, primeiro como estagiário, passando a atuar em seguida como médico e médico-chefe. Além disso, trabalhou nos tribunais judiciários de comarcas do Estado de São Paulo e realizou perícia em vários estados brasileiros.
Atualmente, ocupa o cargo de diretor cultural da Associação Paulista de Medicina, estimulando continuamente o interesse dos associados pelas artes plásticas.
Recentemente, trouxe para São Paulo a exposição do artista português, Mestre Adelino Ângelo, um dos pintores humanistas mais notáveis da Europa e um dos melhores retratistas contemporâneos.
Dr. Guido Palomba é também coordenador do Suplemento Cultural da Associação Paulista de Medicina, para o qual tem contribuído regularmente com memoráveis textos e atraído preciosas doações para o Museu da Associação Paulista de Medicina.
Vemos na sua atuação, mesmo nos trabalhos técnicos, a expressão viva da vocação humanista de quem se preocupa com o bem-estar dos seres humanos e de suas condições. Mas como humanista, considera também a importância dos animais e manifesta sua apreensão em relação à crueldade com que são tratados.
Em seu dizer, “As pessoas que maltratam animais são insensíveis, são pessoas que não possuem sentimentos superiores de piedade, e elas normalmente são conhecidas como psicopatas, como sociopatas. São pessoas perversas, e normalmente quando praticam crime, são pessoas de difícil recuperação social”.
O tratamento dispensado aos animais, num ou noutro sentido, revela os sentimentos que vêm do fundo do coração humano. E estão vivos na nossa mente os excessos e crueldades cometidos no exterior (nas touradas) e no Brasil (na farra do boi).
Seu talento e a excepcional capacidade de trabalho revelados em tudo que escreve e diz em livros e mensagens virtuais, a versatilidade de seu blog, assim como sua nobreza de espírito e honestidade moral e intelectual, postas a serviço de SP e do Brasil, são nobres pilares sobre os quais repousa sua vigorosa e serena personalidade.
Dr. Guido Palomba é um exemplo atemporal: um empreendedor, um homem de ideias, um protagonista da vida e da alma humana — um modelo dos valores intelectuais mais representativos da geração contemporânea.
Sua atuação humanista, em várias entidades culturais, mostra que o futuro precisa ser construído e, mais do que isso, o futuro precisa ser inventado com o objetivo de contribuir para a solidariedade e para a paz da humanidade.
Diz Miguel Torga que “é nosso dever reconhecer o mérito de quem cumpre a vida”.
Convictos de que só os melhores entram para a história, neste dia consagrado a Vossa Excelência, Dr. Guido Arturo Palomba, desejamos expressar, nesta merecida homenagem, nosso tributo de reconhecimento e mais sincera admiração.
Termino esta apresentação com uma frase de Cora Coralina que ilustra magistralmente o sentido de minhas resumidas considerações:
“Feliz aquele que transmite o que sabe e aprende o que ensina”
Que Deus continue a iluminar seus passos, Dr. Guido Palomba.
Nelly Martins Ferreira Candeias
Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo