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Mexer em vespeiros

03.06.2015 | Gerais

Jenner Cruz

Desta vez, pretendo mexer num grande vespeiro. 

Quando era estudante de Medicina, tive oportunidade de mexer em um verdadeiro vespeiro. Na hora do almoço, no intervalo das aulas, fui com uma colega, minha atual esposa, namorar nos jardins da Faculdade. Naquela época existiam plantas e um pequeno lago nesse local, que agora é um grande estacionamento de veículos. Ficamos na margem do lago. Eu jogava pequenas pedrinhas na água e admirávamos as ondas em círculo que elas faziam. Uma vez, errei a pontaria, e a pedra caiu do outro lado do lago, onde eu não sabia que havia um vespeiro. Os insetos vieram rapidamente sobre mim e picaram, principalmente meu pescoço, em vários lugares, formando muitas pápulas bastante doloridas. Felizmente, elas sabiam que eu dera a pedrada, não alérgico a seu veneno, e não minha colega, alérgica a pulgas e vários insetos. 

Imediatamente procuramos o Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas, que ficava perto, bastando atravessar a rua. Naquele tempo, o pronto-socorro tinha, no carrinho de curativos: éter, benzina e amoníaco. Medicamentos proibidos atualmente. O médico chefe de Clínica Médica, cujo nome não recordo, mandou passar amoníaco nas ferroadas, com um chumaço de algodão. Santa medida, não só as lesões pararam de doer, como as pápulas diminuíram de tamanho e à noite sumiram. Não sei se ele estava certo e se o amoníaco é o melhor remédio para isso porque nunca mais tive oportunidade de testar. 

Mas o vespeiro atual é outro. 

Julgo que o Brasil começou a crescer durante o governo do Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira. Quando ele deixou a Presidência, entrou Jânio da Silva Quadros prometendo passar sua vassoura e varrer a corrupção que assolava o país, principalmente decorrente da construção de Brasília, obra importantíssima, responsável pela interiorização de nossa Pátria. 

Jânio queria fazer reformas, mas, sete meses após sua posse, homenageou, em 19 de agosto de 1961, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, Ernesto “Che” Guevara de La Serna, médico argentino, grande líder guerrilheiro, companheiro de Fidel Castro na revolução cubana de 1953 a 1959, o maior responsável pela criação dos centros de assassinato, por motivos políticos em Cuba, e em querer disseminar o comunismo por toda a América do Sul. A revolta dos brasileiros, que não queriam ser comunistas e não compactuavam com essa homenagem, deve ter sido um dos motivos que levaram Jânio a solicitar, seis dias após, sua renúncia ao cargo de Presidente do Brasil. Não sabemos se com essa medida ele queria dar um golpe e reassumir a presidência, nos braços do povo que o elegera, com mais de 2 milhões de votos, ou queria voltar com plenos poderes, que até então não possuía. Talvez não esperasse que sua carta-renúncia fosse efetivamente entregue no mesmo dia ao Congresso, que prontamente a aceitara. 

Assumiu o vice, João (Jango) Belchior Marques Goulart, do PTB, rico fazendeiro de São Borja, cuja família fizera fortuna associando-se a Protasio Dornelles Vargas, irmão de Getúlio Vargas. Naquela época, votava-se o vice separado do presidente. O vice de Jânio fora Milton Campos, da União Democrática Nacional. 

Um intervalo. O mundo estava dividido. Um total de 30 países da Europa, até a Alemanha Oriental, haviam sido engolidos pela Rússia comunista. Os que tentavam escapar eram invadidos e massacrados. Cuba era financiada pela Rússia. Soldados cubanos combatiam na África querendo transformá-la em um continente da esquerda. Com apoio e subvenção da Rússia, no início da década de 1960, havia em Cuba várias escolas para doutrinar latino-americanos, entre os quais, muitos brasileiros, ensinando subvenção, sabotagem e crimes urbanos. Vários deles, que hoje se dizem democratas, continuam amigos de Fidel Castro e enviam recursos para Cuba. 

Em 1964, os mapas de Moscou, Havana e Pequim, já mostravam um Brasil comunista. Genocídios na China, Vietnã, Cambodja e Coreia do Norte. Essas ditaduras fuzilavam sumariamente quem fosse da oposição ou qualquer pessoa indesejável ao regime. 

O Jango, a UNE e o Congresso agiam como comunistas. O Ministro da Educação e Chefe da Casa Civil do Presidente, Darcy Ribeiro, resolveu fazer reformas de base criando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, editando cartilhas para o curso primário em que se ensinava o ódio aos burgueses. 

Em 13 de março de 1964, 100 mil trabalhadores reuniram-se ao lado da Central do Brasil, no Rio, pregando o Brasil dos operários, dos camponeses e dos sargentos, sob a coordenação de Jango e de seu cunhado Brizola. Em resposta, dia 19 de março de 1964, houve em São Paulo, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, da qual participei, com mais do dobro de participantes da manifestação carioca. Na frente, D. Leonor Mendes de Barros, esposa do governador, e o padre Calazans e no céu, em um helicóptero, o governador Adhemar Pereira de Barros. Foi um protesto como devem ser os protestos: inteiramente pacífico, sem algazarras, sem vandalismo e sem mascarados. 

Em 31 de março, veio a revolta dos civis e militares brasileiros, que haviam lutado na Segunda Grande Guerra contra a ditadura da direita, de Hitler. Tratava-se de evitar que o Brasil entrasse em um mundo mau, sem volta. Por esse motivo tanta gente entrou nessa luta. A maioria esmagadora do povo, da época, apoiou-a. 

A ditadura militar foi ótima para aqueles que estavam trabalhando, sem se intrometer na política, querendo apenas progredir e criar um mundo melhor para seus filhos. O Brasil chegou a crescer, mais do que a China atual, com um PIB de 14%. Foi a esquerda armada que obrigou que um movimento, inicialmente pacífico, transformasse-se em uma ditadura. 

Por que não sou comunista? 

Primeiro porque quem acredita em um Deus, qualquer que seja sua religião, deve saber que Deus não é comunista. Se fosse, ele não criaria homens e animais com o senso inato da propriedade. Uma das primeiras palavras de uma criança é: isto é meu. Negar o direito à propriedade é uma violência. Em segundo lugar, as primeiras grandes nações comunistas, Rússia e China, compreenderam isso e já deixaram de ser comunistas. 

O mundo vive um progresso fantástico, em ciências, em medicina e em tudo. Uma nação para ser grande tem de incentivar aqueles que agem e criam, e também deixar que seus habitantes possam ser muito ricos, desde que essa riqueza seja fruto de trabalho honesto, ou também de sorte. Não se pode coibir o lucro. O lucro faz parte do progresso. Não se pode impedir que seus habitantes tenham dinheiro sobrando. São esses que fazem uma Nação. Anulá-los é matar as galinhas de ovos de ouro. No serviço público é o oposto. O salário máximo de um servidor público, inclusive do Presidente da República, nunca deveria ser maior que 20 vezes o salário mínimo. 

Não se deve temer que muitos fiquem muito ricos, e sim aplaudir. As grandes riquezas geralmente desaparecem em duas ou três gerações. Como diz o velho ditado: “Pais ricos, filhos nobres, netos pobres.” 

Um médico, Prof. Dr. Kurt Kloetzel, formado em 1955 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Prof. Titular do Departamento de Medicina Social e Comunitária da Universidade Federal de Pelotas, narrou um fato muito interessante, em uma revista de um laboratório médico. Ao visitar Israel, berço de sua religião, foi à Universidade de Tel Aviv procurando ser recebido por um professor de sua matéria. Foi muito bem acolhido. Quando estavam conversando, chegou uma servidora trazendo um cafezinho. Após ela ter saído, o israelita falou: — Está vendo essa senhora? Ela ganha um terço do que eu recebo. Não advogo diferenças tão grandes, 20 vezes é mais correto. 

Não estou de acordo em dar terras para pessoas que nada fazem. Depois das terras, vão querer financiamento — só falta quererem um empregado para cultivar essa propriedade. Com essa distribuição de terras, criaremos milhares de Jecas Tatus do saudoso Monteiro Lobato. A agricultura precisa de produção, e não de demagogia. 

Com as terras indígenas acontece o mesmo. Alguns moram com os índios, mas não são índios. Minhas avós são descendentes de portugueses com índias; os meus avôs, apenas de imigrantes portugueses. Devíamos estimular os indígenas a entrarem na civilização, mudando seus hábitos. 

São Paulo tem uma grande população vivendo na rua. Algumas entidades agem como se fazer caridade fosse fornecer-lhe cobertores para combater o frio da noite e sopa no fim da tarde, apenas para que os moradores de rua continuem a gostar de viver no relento, fazendo as pessoas que possuem casas sentir vergonha de tê-las conseguido. 

Na minha infância, em Mogi das Cruzes, não havia pessoas morando na rua. Na escola, as cartilhas ensinavam bondade, trabalho e justiça. Acreditava-se que, no Brasil, todos que estudassem e trabalhassem teriam possibilidade de progredir. Recebemos imigrantes de várias procedências, origens e credos. A maior parte progrediu, e mesmo os imigrantes analfabetos enviavam os filhos, desde cedo, para a escola. Os filhos dos analfabetos brasileiros, camponeses ou não, quase não estudam. Temos 25% de nossos jovens, “nem-nem”: nem trabalham e nem estudam. O que fazem? Boa coisa não é. O trabalho social para corrigir essas monstruosidades é imenso, mas não devemos esquecer de nossas galinhas que produzem ovos de ouro. China e Rússia já viram que sem elas anda-se para trás. 

Fui educado por uma família da direita, porém a vida me ensinou que a virtude estava no meio. Hoje me considero um social-democrata, um pouco mais à esquerda, que luta para corrigir as desigualdades, ampliando a educação, a assistência médica e o emprego bem remunerado, sem esquecer de dar grande apoio às pessoas que têm graves deficiências físicas ou mentais. 

Finalmente, a sociedade brasileira tem de ter regras, diretrizes e, sobretudo, ORDEM, porque sem ORDEM não há PROGRESSO. 

Jenner Cruz 

Membro Emérito da Academia de Medicina de São Paulo