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Biografia

Adolpho Carlos Lindenberg  

O Hospital Central da Santa Casa de São Paulo, inaugurado em 1884, teve suas enfermarias distribuídas separadamente para homens e mulheres. Essas enfermarias foram numeradas e confiadas a médicos de renome da capital, que passaram a ser seus chefes. Na época eram enfermarias gerais, pois na acanhada e provinciana São Paulo de então não tinham sido desenvolvidas as especialidades médicas. 

No início do Século XX mudou para a capital de São Paulo o dr. Adolpho Carlos Lindenberg, que havia feito sua formação em dermatologia na Europa, com Lesser (em Berlim), Riehl (em Viena) e ainda Brocq e Sabouraud (em Paris). Graças a seu conhecimento científico e prestígio, conseguiu que fosse criada a clínica de dermatologia da Santa Casa de São Paulo, por ato da Mesa Administrativa, datado de 20 de abril de 1907. Duas semanas depois, em 3 de maio de 1907, foram iniciadas as atividades de seu ambulatório. 

Na época, a 2ª Medicina de Mulheres era dirigida pelo dr. Ribeiro de Almeida, o qual, após entendimentos com o dr. Lindenberg, reservou metade de seus leitos para internação de mulheres com doenças de pele. Isto ocorreu em 1909. Somente em 1914 foi criada a 4ª Enfermaria de Homens, a qual passou a receber casos de dermatologia, sendo a chefia entregue a Lindenberg. 

Ao ser criada a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em 1912, o dr. Lindenberg foi nomeado catedrático de dermatologia. Posteriormente, já em 1922, foi escolhido para diretor da faculdade. Nesses primeiros anos de atividade da clínica, na segunda e na terceira décadas do Século XX, foram seus primeiros colaboradores: José Ataliba Ferraz Sampaio, Abílio Álvaro Martins de Castro e José Moacyr de Alcântara Madeira. 

Como se vê, a criação da clínica de dermatologia da Santa Casa de São Paulo antecedeu a da própria Faculdade de Medicina e Cirurgia. Ela é, portanto, o berço da dermatologia no Estado de São Paulo. 

NOTAS: 

Esta biografia é uma autoria do Acad.Nelson Guimarães Proença, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Adolpho Carlos Lindenberg.  

O aditamento biográfico ao final do texto foi feito pelo acadêmico Helio Begliomini, titular e emérito da cadeira no 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob a patronímica de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro. 

Adolpho Carlos Lindenberg nasceu na cidade de Cabo Frio (RJ), em 12 de setembro de 1872, e seus progenitores foram Adolpho Lindenberg e Francisca Hummel Lindenberg. Diplomou-se em 1896 pela Faculdade Nacional de Medicina, defendendo a tese intitulada Dos Raios X. Embora fosse de origem fluminense, radicou-se na cidade de São Paulo, onde fez toda sua carreira e constituiu família. 

Como assistente do Instituto Bacteriológico do Estado, revelou pendor para a medicina experimental com notáveis contribuições à dermatologia tropical, sobremodo com relação às micoses e, mui particularmente, a actinomicose, descrevendo um novo tipo de micetoma produzido pelo Actinomyces brasiliensis, espécie por ele denominada de Discomyces brasiliensis. 

Lindenberg foi professor catedrático de dermatologia da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo de 29 de fevereiro de 1916 a 22 de maio de 1929, quando se aposentou por problemas de saúde relacionados à cardiopatia. Foi diretor dessa instituição de ensino de 1922 a 1924. Presidiu a insigne Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, num mandato anual entre 1922-1923. 

Lindenberg dedicou-se principalmente ao estudo da leishmaniose tegumentar americana, lepra e pênfigo foliáceo (fogo selvagem). Identificou leishmânias nos doentes acometidos pela “úlcera de Bauru” (leishmaniose tegumentar). No mal de Hansen destacou-se nos estudos clínicos, profiláticos e terapêuticos com um estudo original sobre o mecanismo de ação do chalmoogra. Nos últimos anos de sua vida dedicou-se ao estudo clínico-experimental do pênfigo foliáceo, acreditando que sua etiologia fosse viral. 

Especialista de renome e muito estudioso, tinha personalidade austera. Morreu pesquisando. Publicou diversos trabalhos científicos, particularmente sobre a “úlcera de Bauru”, também conhecida por “úlcera do “Avanhandava”, “úlcera do Noroeste” ou “ferida braba”; assim como artigos relacionados à lepra e ao pênfigo foliáceo. 

Adolpho Carlos Lindenberg faleceu em 6 de dezembro de 1944, aos 72 anos. Seu nome é honrado com a patronímica da cadeira no 22 da augusta Academia de Medicina de São Paulo.