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Biografia

Adolpho Schmidt Sarmento

Adolpho Schmidt Sarmento, mais conhecido simplesmente por Schmidt Sarmento, nasceu em 1883, e graduou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1906. Segundo seu colega de turma, Mario Ottoni de Rezende, Schmidt Sarmento cursou a faculdade com dificuldades financeiras, tendo, para se manter, que trabalhar durante o curso muitas vezes noites a fio.

Após a formatura partiu para o sertão do estado de São Paulo, na cidade de Santa Cruz do Rio Pardo. Aí, sem ajuda, teve seu primeiro contato com pessoas simples do agreste, onde campeava infrene o curandeirismo boçal. Esse trabalho permitiu-lhe amealhar dinheiro, fazendo com que fosse aprimorar-se na Europa, realizando estagio em otorrinolaringologia em Viena, Áustria, e em Berlim, na Alemanha.

Em Viena a especialidade era entusiasticamente ensinada pelos luminares: Politzer, Urbantschitach, Chiari, Gruber, Juraez, Schrotter, dentre outros. Nessa cidade também encontrou Henrique Lindenberg, de quem se fez amigo e, com pequena diferença de meses, ambos vieram fixar residência em São Paulo, tornando-se pioneiros da cirurgia otorrinolaringológica na capital.

Schmidt Sarmento ingressou, em 1912, como adjunto de otorrinolaringologia do Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, nosocômio que dedicou 27 anos de sua vida. Foi o segundo chefe do serviço de otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Sucedeu ao professor Henrique Lindenberg (1913-1928), que tinha também especialização na Áustria e na Alemanha.

Ambos foram convidados por Arnaldo Vieira de Carvalho para integrar a cadeira de otorrinolaringologia, sendo Lindenberg designado o primeiro professor dessa especialidade da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, permanecendo no cargo até o seu falecimento.

Além de Schmidt Sarmento eram assistentes de Henrique Lindenberg e, na ocasião, também assistentes da Faculdade de Medina e Cirurgia de São Paulo: Mário Ottoni de Rezende, Francisco Hartung, Silvestre Passy, Paula Santos, Ângelo Mazza, Roberto Oliva, Silvio Ognibene, Antônio Vicente de Azevedo e Ernesto Moreira.

Deve-se ressaltar que a primeira tonsilectomia realizada no Brasil foi feita, em 1920, por Schmidt Sarmento. Ele utilizou o instrumento de Ballanger-Sluder, retirandolhe o corte da lâmina e fazendo dele uma pinça fórceps de apreensão em que o dedo indicador fazia a dissecção extracapsular das amígdalas.

Schmidt Sarmento tornou-se assistente e livre-docente da Faculdade de Medicina de São Paulo, assumindo, interinamente, a direção da cadeira em 1923, quando Lindenberg viajou à Europa, e, numa segunda vez, em 1926, num período que precedeu a morte desse catedrático.

Em ambas as oportunidades ficaram patenteadas sua capacidade, dedicação e amor ao magistério, transmitindo a seus discípulos, com carinho, tudo de moderno que conhecia sobre a especialidade, e orientando-os tanto na prática quanto na teoria essa disciplina da qual era expoente.

Após a morte de Lindenberg, Paula Santos assumiu a cadeira de otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de São Paulo, em 14 de março de 1929, que passou a funcionar no Instituto Radium, inaugurado em 1921 e anexo ao Hospital Geral. Na ocasião, o regulamento da Faculdade de Medicina de São Paulo, num dos seus artigos, previa a possibilidade de transferência entre as chamadas cátedras afins, e, nessa situação, encontrava-se Paula Santos, então titular da cadeira de patologia geral desde 1920, mas que praticava a otorrinolaringologia em seu consultório.

Por sua vez, o Serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo passou a ser chefiado por Schmidt Sarmento, que tinha como assistentes: Mario Ottoni de Rezende, Ernesto Moreira, Francisco Hartung, Rebelo Neto, José Eugênio de Paula Assis, Plínio de Mattos Barreto, Jorge Fairbanks Barbosa, Silvestre Passy, Paulo Saes, Roberto Oliva, Vicente de Azevedo, Arnaldo Barrela e Ângelo Mazza (Figura 1).

Em pé, da esquerda para a direita: Silvestre Passy, Antonio Vicente
de Azevedo, Paulo Saez, José Eugenio de Paula Assis, José Rebelo Neto, Arnaldo
Barrella e Sílvio Ognibene. Sentados, da esquerda para a direita: Roberto Oliva, Ernesto
Moreira, Schmidt Sarmento, Mario Otoni de Rezende e Francisco Hartuntg.
Foto tirada provavelmente em 1929 e cedida gentilmente pelo dr. Lídio Granato
da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Na ocasião fora feito um acordo: os pacientes que procurassem o setor de otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia seriam divididos alternativamente, sendo dois dias da semana para a clínica do professor Paula Santos e dois outros para o serviço do dr. Schmidt Sarmento.

Adolpho Schmidt Sarmento casou-se com Laura Beatriz de Moura Ribeiro Schmidt Sarmento. Sua filha, Lucia Beatriz Schmidt Sarmento, nascida em 1º de setembro de 1923, casou-se com o administrador de empresas Caio Lacerda de Arruda Botelho, em 28 de dezembro de 1944.

Schmidt Sarmento foi membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, sodalício que teve a honra de presidir por um mandato anual entre 1929-1930. Em sua gestão organizou a memorável “Semana de Conferências”, que reuniu médicos de todos os rincões do país, divulgando e elevando o nome do silogeu.

Em 1932, seu nome se impôs como o primeiro presidente da Secção de Otorrinolaringologia da Associação Paulista de Medicina, entidade fundada em 1930.

Aí impulsionou o desenvolvimento da especialidade e estimulou, tanto os jovens quanto os mais velhos, a fazerem da medicina verdadeira ciência e da clínica um sacerdócio. Adolpho Schmidt Sarmento chefiou Serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo até o seu falecimento, aos 56 anos, ocorrido 26 de novembro de 1939, após longa enfermidade (Figura 2). Era cavalheiro no seu agir, extremamente bondoso, amigo leal e chefe estimadíssimo pelos seus subordinados.

Gozou de ilimitado apreço dos que o cercavam no mourejar do trabalho diuturno. Em decorrência de sua enfermidade, licenciou-se, deixando como chefe interino o professor Mário Ottoni de Rezende, que veio assumir o cargo definitivamente após a morte do amigo, de quem era também colega de turma. Mário Ottoni de Rezende atuou como chefe do serviço de 1933 a 1955 e criou setores de cirurgia bucomaxilofacial, cirurgia plástica e endoscopia peroral.

Em pé, da esquerda para a direita: Ângelo Mazza, Bueno Galvão,
Vicente de Azevedo, Paulo Saez e Sílvio Ognibene. Sentados, da esquerda para a
direita: Silvestre Passy, Mário Ottoni, Schmith Sarmento, Roberto Oliva e José Rebello
Neto.
Foto de 1933, cedida gentilmente pelo dr. Lídio Granato da Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo.

Adolpho Schmidt Sarmento é honrado como patrono da cadeira nº 89 da augusta Academia de Medicina de São Paulo. A Revista Brasileira de Otorrinolaringologia consignou a ele, grande vulto da medicina paulista, um editorial e uma merecida homenagem em 1939, reunindo discursos de expoentes da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo e da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, proferidos por ocasião de seu falecimento.

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Mario Ottoni de Rezende por ocasião de sua graduação, também em 1906, defendeu tese intitulada Balneoterapia nas Infecções Agudas. Foi presidente da Sociedade de Medicina de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, num mandato anual entre 1936-1937, e é o patrono da cadeira nº 126 desse sodalício.

Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo durante dois mandatos anuais entre 1901-1902 e 1906-1907, e é o patrono da cadeira nº 11 desse silogeu.

Antônio de Paula Santos é o patrono da cadeira nº 59 Academia de Medicina de São Paulo.

Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, hoje, Brazilian Journal of Otorhinolaringology, volume 7 (fascículo 6 – novembro/dezembro): 551-651, 1939.