Alberto Nupieri
Alberto Nupieri nasceu em 8 de setembro de 1891. Era filho de imigrantes italianos vindos da Calábria e radicados na capital paulista, no bairro do Brás. De origem humilde, rígido de princípios, lutou muito para se graduar. Para arcar seus estudos e se manter trabalhava nos Correios. Praticamente não comia e seu almoço era uma média (café com leite). Era tão magro que costumavam chamá-lo de caniço (magrelo). Tinha olhos claros, olhar penetrante e uma densa cabeleira de calabrês.
Nupieri graduou-se na segunda turma da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, como era denominada na época. Trabalhou na prefeitura dedicando-se à saúde e ao bem-estar da criança. Chegou a idealizar o Grande Conselho da Criança Paulista, aprovado por unanimidade pela Câmara de São Paulo. Fazia parte desse projeto, passar o Hospital Menino Jesus à prefeitura para ficar subordinado ao departamento que Nupieri coordenava. Ele criou também um Departamento de Assistência à Infância e Maternidade, que cuidava desde o pré-nupcial, pré-natal, eugenia e puericultura.
Era um visionário e um lutador. Em sua época grassava a sífilis e, em decorrência, defendia a obrigação, por parte da Igreja de exame pré-nupcial. A ideia não vingou, pois obstaculizava o casamento. Também estudou a legalização do jogo em diversos países. Seu objetivo era fazer com que parte dos prêmios fosse revertida para ações sociais. Também já pensava na criação de creches para as mães trabalhadoras deixarem seus filhos, isso numa época em que não era comum as mulheres trabalharem.
Em 1930 a cidade de São Paulo possuía 1 milhão de habitantes e a classe médica cerca de mil profissionais. Alberto Nupieri vislumbrava uma entidade acessível a todos os médicos que quisessem dela fazer parte. Ele liderou, nesse intento, um grupo formado por Barbosa Corrêa, Potiguar Medeiros, Felipe Figliolini, Oscar Monteiro de Barros, Cesário Mathias, Athayde Pereira, Ernesto Moreira, Belfort de Matos, Ferraz Alvim e Marcus Lindemberg, dentre outros. Apesar das resistências iniciais, conseguiram apoio de Rubião Meira, prestigiado catedrático de clínica médica da Faculdade de Medicina de São Paulo e, em dois meses de trabalho, o grupo conseguiu mais de 200 adesões.
Após grande esforço de mobilização da classe médica, em 29 de novembro de 1930, surgiu a Associação Paulista de Medicina, segunda entidade médica do estado de São Paulo, uma vez que o Sindicato dos Médicos de São Paulo, apesar de fundado em 1929, só teve reconhecimento em 29 de maio de 1941. A primeira – Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo – fundada em 7 de março de 1895 que, mais tarde, em 1954, se chamaria Academia de Medicina de São Paulo, tinha completado, na época, 35 anos, e albergava apenas 50 médicos que se destacavam na pesquisa científica.
Por tudo o que fez, Alberto Nupieri é reconhecido como o grande protagonista ou o “Pai” da Associação Paulista de Medicina. Na ocasião havia três nomes para a entidade: “Centro Médico de São Paulo”, “Associação Médica e Cirúrgica de São Paulo” e “Associação Paulista de Medicina”, nome esse proposto por Ferraz Alvim e escolhido pelos fundadores. A primeira gestão da Associação Paulista de Medicina teve como presidente Rubião Meira e como secretário Alberto Nupieri. São suas palavras, anos mais tarde, com relação à entidade que protagonizou: “A APM foi uma semente lançada numa época de domínio oligárquico da classe. Havia uma única entidade médica que, a despeito dos grandes serviços à classe, conservava a estrutura de sua fundação. Já haviam decorridos mais de 40 anos dessa época e continuava a entidade fechada, pois seus portões só se abriam por ocasião de uma vaga. E havia nepotismo na indicação do novo titular. Foi por isso uma luta ingente a fase inicial da fundação da APM; muita reação, indiferença, combate a toda ideia nova, mas a ideia foi tomando corpo, se consolidando e sem tardanças, se tornou vitoriosa. A semente de 1930 tornou-se o Jequitibá de agora.”
Nupieri possuía uma casa na Avenida Nova Cantareira, próximo à Serra, onde reunia colegas e amigos às sextas-feiras. Não era político e não sabia fazer jogo de cintura. Foi idealista e pioneiro da defesa dos direitos do médico. A Ordem dos Médicos do Brasil também foi um sonho dele. O que ele chamava de Ordem era um modelo de fiscalização, de disciplina da profissão, à qual todos os médicos obrigatoriamente deveriam ser inscritos. Na visão dele era uma ferramenta indispensável que criaria um sistema de disciplina da atividade médica. A ideia foi amplamente debatida durante 14 anos. Críticos e admiradores se digladiavam em longos debates nos periódicos A Gazeta, Diário da Noite, entre outros.
Em 1944 foram criados os Conselhos Federal e Estadual de Medicina e Nupieri foi distinguido como conselheiro. Em 28 de outubro de 1946, assim era consignado na Tribuna Médica: “Alberto Nupieri é um nome que sintetiza uma época, uma luta, um ideal. Luta de reivindicações classistas. Idealismo e abnegação próprios dos grandes lutadores. Em 1930, inicia sua fecunda atividade em benefício da classe, lançando a ideia da fundação da Associação Paulista de Medicina (…)”.
Alberto Nupieri fez inúmeros discursos, conferências e teve diversos artigos publicados na Revista da APM; nos jornais A Gazeta, Diário da Noite e O Estado de S. Paulo.
Em junho de 1961 recebeu o título de sócio benemérito da Associação Paulista de Medicina; em 1962, por ocasião 134º aniversário da Academia Nacional de Medicina, recebeu o título de sócio efetivo daquele vetusto sodalício; e, em 9 de maio de 1964, recebeu o título de sócio honorário do Sindicato dos Médicos de São Paulo.
Alberto Nupieri faleceu em 1979. No ano seguinte, ano do cinquentenário da APM, recebeu uma homenagem póstuma.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.