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Biografia

Alberto Seabra

Alberto de Melo Seabra nasceu em Tatuí, no dia 5 de fevereiro de 1872. Era filho do coronel Lúcio José Seabra e Ana Carolina de Melo Franco Seabra. Terminou seus estudos primários e secundários em São Paulo e de maneira brilhantíssima, com apenas quinze anos, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. 

Na capital da República esteve apenas dois anos, transferindo-se para a Faculdade de Medicina da Bahia e, nessa terra tradicional da oratória brasileira, Seabra teve a honra insigne de ser publicamente consagrado como o mais eloquente orador da velha faculdade. 

Formou-se na Faculdade de Medicina da Bahia com 22 anos, em 1894, defendendo a tese Memória e a Personalidade, que versou sobre assuntos de psiquiatria. Essa monografia teve larga aceitação, e outros trabalhos sobre a mesma especialidade revelaram sua pujante e fecunda mentalidade, a ponto de, apesar de muito moço ainda, ser indicado pelo grande Franco da Rocha para ser médico do Hospital Juqueri. 

Nesse cargo ele não só cumpriu maravilhosamente a sua missão, como ainda contribuiu poderosamente para a expansão e conhecimento da sua especialidade, publicando trabalhos memoráveis na imprensa médica daquela época. Abordou, sempre com o seu estilo desapaixonado, sóbrio, elegante, questões as mais complexas, embrenhando-se com pleno conhecimento de causa pelo terreno da criminologia e da patologia mental, firmando-se no cenário científico brasileiro como uma das glórias das mais legítimas. 

Alberto Seabra também trabalhou na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. 

Angariando sempre novas energias mentais, iniciou-se no estudo da sociologia, e nesse novo setor de trabalho não se sabia mais o que nele admirar, se a independência científica do orador ou sua concepção filosófica que expendia, ou ainda, a eloquência de um Demósteses e a profundidade enciclopédica de um Comte, líder do positivismo. Já na vida acadêmica era conhecido pelos seus dotes oratórios, pela cultura e pela inteligência. O Instituto Pasteur teve em Seabra um dos seus principais iniciadores, ao lado de Arnaldo Vieira de Carvalho, Inácio Cockrane, Bittencourt Rodrigues e outros. Foi, igualmente, um dos fundadores da Universidade de São Paulo e da Academia Paulista de Letras. 

A conversão de Seabra à homeopatia deveu-se à cura de um filho pela terapêutica hahnemanniana, administrada pelos irmãos Manoel e Antonio Murtinho Nobre (1908) – ano luz para a homeopatia em São Paulo. Dessa mudança escreveria Seara de Hahnemann

Seabra, na gripe espanhola de 1918, colaborou com as autoridades sanitárias junto ao governo da época, por intermédio da “gripina”. Esse medicamento, conforme testemunho escrito do secretário de saúde da época, pôde salvar milhares de pacientes da morte. 

Alberto Seabra escreveu Higiene e Tratamento Homeopático das Doenças Domésticas (1972), com várias edições, estilo escorreito, linguagem leve e agradável. 

A capacidade intelectual e criativa de Alberto Seabra era enorme e variadíssima. Fazendo-se partidário de Henry George em economia-política, publicou um tratado sobre o assunto intitulado Problemas Sul-Americanos (1923). 

Esculápio na Balança ou A Superstição dos Remédios foi seu verdadeiro libelo acusatório à orientação alopática da época, como fora o “Organon” (1810), de Samuel Hahnemann.

A Verdade em Medicina (1909) foi abertamente criticada por Rubião Meira e respondida por Alberto Seabra de forma delicada e conveniente. Escreveu em diversos jornais, entre os quais “O Estado de São Paulo”, “A Platéia”, além de revistas médicas e literárias. No Brasil, foi um dos primeiros cientistas a estudar a obra de Freud.

Seabra também travou na imprensa, particularmente no jornal “Correio Paulistano”, um debate aberto com Luiz Pereira Barreto, igualmente membro fundador da Academia Paulista de Letras, seu opositor nas doutrinas homeopáticas. 

Escreveu Fenômenos Psíquicos; Animais que Pensam; A Alma e o Subconsciente e O Problema do Além e do Destino, assuntos teosóficos, espíritas e na esfera do ocultismo; Versos Áureos de Pitágoras foram escritos por um Seabra que, apesar do seu multiforme saber, sentia necessidade de algo, necessidade de preencher o vazio que existia dentro de si, algo que lhe refrigerasse a alma. É também de sua lavra a obra Ensaios do Pan-Americanismo, em 1923. 

Alberto Seabra substituiu com muita propriedade nos Cursos de Sociologia o senador Paulo Egídio, seu mestre nessa disciplina. 

Mereceu do grande escritor Medeiros de Albuquerque, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, a seguinte frase: “Como o dr. Alberto Seabra escreve bem, com grande clareza. É um prazer lê-lo”. 

A morte colheu-o no momento em que se entregava a exaustivo trabalho sobre A Bíblia de Jesus. Restam desse estudo alguns capítulos inéditos. 

Alberto Seabra faleceu em 11 de agosto de 1934, aos 62 anos de idade. 

NOTAS: 

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Alberto de Melo Seabra foi fundador, em 27 de novembro de 1909, da cadeira no 12 da Academia Paulista de Letras. Nesse sodalício, seu sobrenome “Melo” encontra-se grafado com um só “l”.