Carlos Alberto Salvatore
Carlos Alberto Salvatore nasceu em 19 de abril de 1917, o mesmo dia e mês de nascimento de Getúlio Vargas. Desde pequeno cultivou o gosto por viagens e já apresentava muita habilidade manual e sensibilidade. Colecionava insetos, borboletas e demonstrava interesse por história natural, zoologia, botânica, desenho e geografia. Aprendeu a tocar piano desde a infância.
Diplomou-se em pela Escola Paulista de Medicina (EPM) em 1942. Na época não havia residência médica e as especializações eram feitas após a graduação, em estágios voluntários. Já no último ano, na condição de interno, começou a frequentar a enfermaria da clínica ginecológica do Hospital São Paulo da EPM, recebendo os primeiros ensinamentos do professor Sylla Mattos que, naquele ano, substituíra o professor Medina. Ficou impressionado com a habilidade técnica de ambos durante cirurgias que assistiu.
Ainda como sexto anista realizou seu primeiro trabalho científico intitulado “Apendicite Crônica”, sendo laureado com o prêmio Lemos Torres, destinado aos melhores trabalhos científicos dos doutorandos. Logo após a sua formatura casou-se com Silvia, em janeiro de 1943, união que durou 53 anos, até o falecimento da esposa em 1995.
Carlos Alberto Salvatore exerceu a profissão médica durante 64 anos, 42 dos quais trabalhando no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Nessa instituição realizou brilhante carreira universitária.
Submeteu-se a seis concursos públicos: doutoramento; três livres-docências; professor associado; e culminando com o cargo de professor titular da clínica ginecológica em 1972, função que exerceu durante 15 anos, período em que reestruturou e ampliou o serviço com a criação de novos setores de atividades.
Indicado pelo professor Medina, organizou e tornou-se o primeiro chefe da residência médica do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, criada em 1965. Conquistou quatro bolsas de estudos, permanecendo ao todo cerca de 5 anos no exterior, entre Inglaterra e Estados Unidos da América. Foi grande criador de discípulos, pois sob sua direção formaram-se 11 professores livre-docentes; 21 doutores e 24 mestres. Aposentou-se em 19 de abril de 1987, galgando a condição de professor emérito da FMUSP, sem, contudo, abdicar de suas atividades na clínica privada.
Carlos Alberto Salvatore é membro de 32 sociedades médicas, estando entre elas a Academia de Medicina de São Paulo (desde 1957; membro emérito); Sociedade Brasileira de História da Medicina (sócio fundador em 21/11/1997); e fundador em 20/11/1997 do Centro de Estudos em Ginecologia, Obstetrícia, Mastologia e Endoscopia Ginecológica e Obstétrica do Hospital Beneficência Portuguesa, entidade que leva o seu nome – “Professor Carlos Alberto Salvatore”.
É membro honorário de várias entidades médicas, salientando-se a Sociedad Argentina de Patología del Tracto Genital Inferior y Colposcopía.
Participou da diretoria da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (Figo) durante 6 anos; presidiu a Federação Internacional de Patologia Cervical e Colposcopia e foi também o presidente do V Congresso Mundial dessa entidade realizado em São Paulo, em 1987. Foi eleito presidente do Departamento de Cultura da Associação Paulista de Medicina por dois mandatos (1988 a 1992); e presidiu a sessão Dermographic Screening do IX Congresso Mundial de Patologia Cervical e Colposcopia ocorrido em Sydney, Austrália, em 1996.
Possui 260 trabalhos científicos publicados dos quais 40 em revistas estrangeiras; 60 deles foram citados em 165 artigos científicos, sendo 85 em revistas estrangeiras. Publicou também 16 livros, incluindo três Atlas de Cirurgia Ginecológica.
Dentre seus trabalhos salientam-se um álbum de pôsteres artísticos: Foto Arte em Ginecologia, um minucioso relatório sobre as atividades da clínica ginecológica do Hospital das Clínicas da FMUSP (1987); sua autobiografia em inglês Doctor Salvatore (Nova Iorque, 1992); a biografia de sua esposa Sílvia (1996); e o livro 62 Anos de Medicina (2ª edição em 2009), onde relata toda sua vida pessoal e profissional, seu gosto por observar a natureza e como, aos poucos, surgiu seu interesse pela arte de curar.
Carlos Alberto Salvatore foi galardoado com várias honrarias. Foi recebido na Capela Sistina do Vaticano pelo Papa Paulo VI em 1977. Condecorado com a medalha do Mérito da Universidade de Santa Maria (1974); medalha Anchieta e o diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, outorgados pela Câmara Municipal de São Paulo (1977); comendador da Ordem do Mérito Republicano da Academia Brasileira de História (1978); medalha Marechal Rondon outorgada pela Sociedade Geográfica Brasileira; comendador do Instituto Cultural da Fraternidade Universal e troféu Destaque Profissional (24/9/1999).
No caderno “Seu Bairro” do jornal O Estado de S. Paulo, foi publicado em 13/2/1998 uma reportagem sobre sua vida intitulada “Dedicação Garante Ânimo a Especialista”.
Carlos Alberto Salvatore consagrou-se como habilidoso cirurgião e arguto clínico. Como professor dava o exemplo, pois era um dos primeiros a chegar à clínica ginecológica e um dos últimos a sair. Sempre afirmava que o “exemplo vem de cima”. Entre as máximas e aforismos que cultivava tem-se: “Ser forte para saber quando se é fraco; e ser orgulhoso e inflexível na derrota, mas humilde na vitória”.
NOTAS:
Biografia e foto foram fornecidas pelo autor.
Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
Casou-se posteriormente com Lizette Trentin.
O acadêmico Carlos Alberto Salvatore faleceu em 17 de fevereiro de 2022, aos 104 anos.