Carlos José Botelho
Carlos José Botelho nasceu em Piracicaba (SP), aos 14 de maio de 1855. Era filho primogênito do coronel Antonio Carlos de Arruda Botelho, conde de Pinhal, e Francisca Teodora de Arruda Botelho. Passou a sua infância na Fazenda do Pinhal, no solar da família, e realizou seus estudos primários e colegiais na sua cidade natal e em Itu.
Iniciou o curso de medicina na Faculdade Nacional de Medicina, na cidade do Rio de Janeiro, cursando até o 2º ano. Estudou em Montpelier e Paris, onde obteve o título de doutor em medicina em 1878. Posteriormente fez estágios de especialização em cirurgia geral e urologia.
Retornando a São Paulo, após revalidar o diploma de médico, iniciou suas atividades na Santa Casa de Misericórdia, que funcionava no bairro da Liberdade, na Rua da Glória, mudando-se definitivamente em 1884 para o prédio atual, em estilo gótico, em Santa Cecília.
Carlos Botelho possuía brilhante formação cultural e técnica oriundas da escola francesa, tida em grande prestígio no século passado. Assim, introduziu nos hospitais de São Paulo o que aprendera na França e tudo o que havia de mais moderno na época sobre a arte operatória. Foi o primeiro a operar no Brasil, com sucesso, um caso de bócio.
Cirurgião de classe, possuía valiosos recursos técnicos, ao lado de grande audácia profissional. Sistematizou a antissepsia e a assepsia operatórias, normatizando suas rotinas. Ao lado de Nicolau Vergueiro, seguidor da disciplina da escola alemã, passou a figurar como um dos cirurgiões mais brilhantes e reconhecidos do corpo clínico da Santa Casa.
Arnaldo Vieira de Carvalho, um dos grandes cirurgiões de seu tempo, foi um de seus mais brilhantes discípulos.
Carlos José Botelho foi o primeiro diretor clínico da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e cofundador da Policlínica de São Paulo, mantendo durante vários meses, todas as despesas dessa instituição.
Na Rua do Gasômetro, localizada no Brás, instalou a “Casa de Saúde Dr. Botelho”, provida de todo o aparelhamento e dos recursos terapêuticos da época.
Em 1895 foi também um dos primeiros sócios fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, que, a partir de 1954, passou a se chamar Academia de Medicina de São Paulo, sendo o segundo presidente entre 1896-1897. Em 1897, nesse sodalício, apresentou valioso trabalho sobre os problemas da sutura da bexiga e dos curativos pós-operatórios.
Acoroçoou, como poucos, todos os impulsos do progresso, dentro e fora da esfera médica. Mas o dinamismo de Botelho, assinalou o professor Almeida Prado, e a sua sofreguidão em tudo especular, conhecer e abarcar, não se compadeciam com a clausura da vida médica. “A clínica é uma gaiola para suas asas. Procurou a política, sendo senador e secretário de Estado”.
Estadista de larga visão, introduziu em nosso meio a cultura do arroz por processos de irrigação. Iniciou o saneamento de Santos, eliminando os brejos e abrindo canais de desembocadura para o mar. Enriqueceu a lavoura com modernos métodos de agricultura, construindo em Piracicaba a Escola Agrícola, em terras doadas ao estado pelo dr. Luís Antônio de Souza Queiroz. Organizou também, a primeira estação agrícola e de zootecnia do estado. Fundou em 1892 o Jardim da Aclimação e o Zoológico de São Paulo, encantador oásis de verdura e de recreio implantado em pleno perímetro urbano.
Secretário da Agricultura de 1904 a 1908, no governo Jorge Tibiriçá, organizou várias exposições regionais de animais, levando-as a efeito em Campinas, São Carlos, Batatais, Itapetininga e Pindamonhangaba. Nesse mesmo governo assinou o contrato pela chegada em 18/6/1908 do vapor Kasato Maru, trazendo 165 famílias, totalizando cerca de 784 pessoas. Em consequência, o governo japonês prestou expressiva homenagem póstuma a Carlos Botelho, introdutor, no Brasil, da primeira leva de imigrantes japoneses.
Dedicou-se à urologia, sobretudo ao tratamento da calculose urinária e suas complicações. Praticou em São Paulo a operação da “talha hipogástrica”, com a retirada de um cálculo vesical pesando 13 Kg em um menino de 12 anos!
No dizer do antigo urologista paulista Costa Manso, Carlos Botelho foi, sem dúvida, o pioneiro da urologia paulista, “o mais hábil especialista em questões urinárias; o nome unanimemente indicado para a regência da cátedra de vias urinárias das várias escolas médicas projetadas naqueles passados tempos”.
Por ocasião da inauguração do busto do dr. Carlos José Botelho no Jardim da Aclimação, em São Paulo, no dia 14 de maio de 1955, o dr. Ayres Netto proferiu belas palavras a respeito do ilustre paulista, referindo que toda a sua vida fora sempre salpicadas, aqui e ali, de triunfos e aplausos de seus contemporâneos.
Abandonou a vida pública e retornou à sua profissão médica, prestando relevantes serviços à comunidade. Possuidor de lavoura, contribuiu para o grande surto agrícola que experimentou São Paulo a partir do começo do século XX.
Pela influência que longamente exerceu no meio médico paulista; pelo seu dinamismo e valioso trabalho que soube executar, Botelho mereceu do grande público reconhecimento e consagração.
Carlos José Botelho faleceu em 20 de março de 1947, aos 92 anos incompletos, em sua propriedade agrícola, no município de São Carlos.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.