Cesário Nazianzeno de Azevedo Motta Magalhães Júnior
Cesário Nazianzeno de Azevedo Motta Magalhães Júnior, mais conhecido por Cesário Motta Júnior, nasceu em Porto Feliz (SP), aos 5 de março de 1847. Era filho do dr. Cesário Nazianzeno d’Azevedo Motta Magalhães e de Clara Cândida Nogueira da Motta, sua prima. Aponta-se em Porto Feliz uma casa que se encontra num pequeno largo, em que, dizem, nasceu Cesário Motta. Há nisso um pequeno engano. De fato, naquela casa residia a família quando Cesário nasceu. Mas, o nascimento deu-se no Sítio Grande, distante meia légua , então propriedade de Ana Inocência de Camargo, viúva de Antonio Rodrigues de Campos Leite, falecido durante a Revolução de 1842.
A família do dr. Cesário achava-se naquele sítio assistindo a uma festividade, quando inesperadamente se deu o nascimento do Cesarinho, como ficou sendo chamado na família e pelos amigos. Cesário ou Cesarinho cresceu em Porto Feliz. Ávido de luzes desde a infância porque foi uma criança adulta. Tinha no tio, o educador Fernando Motta, um exemplo, e ganhava do amigo dos bancos escolares, mais tarde coronel Joaquim Floriano de Toledo, a admiração que o tornaria seu chefe político em São Manuel.
Após aprender as primeiras letras e os primeiros rudimentos do ensino secundário, seguiu Cesário Motta para o Lageado, colégio de renome no seu tempo, situado em Campo Largo, no município de Sorocaba, sob a direção do paulista dr. Francisco de Paula Xavier de Toledo.
O sonho de Cesário era a medicina, carreira de seu pai. Mas, o grande problema era a falta de recursos. O pai médico tinha o encargo de uma família numerosa e mal ganhava para sustentá-la. Era impossível manter o filho na Faculdade de Medicina, no Rio de Janeiro.
A extremidade do homem é a oportunidade de Deus. Nuno Motta jamais escondeu sua admiração pelo sobrinho. Empregado numa importante casa comercial, escreveu para Cesário convidando-o para que fosse para ao Rio de Janeiro. Seus recursos também eram poucos, mas haveriam de viver, dizia Nuno Motta. Ele frequentava boas rodas, trajava-se de maneira condigna à sua posição. Fazia questão de passar roupas e botinas para Cesário usar.
Os livros conseguia na biblioteca de um mosteiro. Cesário não almoçava, pois sua casa era longe. Só depois de deixar a faculdade é que voltava à sua residência para descansar. Cesário amava os livros e a família, que por sua vez o idolatrava. A falta de dinheiro e os estudos, obrigaram-no a ficar seis anos longe de Porto Feliz, dos pais e amigos.
Na faculdade, de forma absolutamente natural, tomava conta de todos os espaços. Entrou para o grêmio de estudantes de Farmácia e Medicina e logo fez amizade com José do Patrocínio. Observou que ele vivia um tanto de lado, sofrendo desprezo por causa da cor negra. Cesário imediatamente fez todos verem o talento daquele negro. Pouco tempo demorou a que José do Patrocínio se consagrasse como um dos mais estimados e admirados em oratória. Cesário Motta doutorou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Já em 1880, o teatro encontrou espaço na cidade quando Cesário Motta Júnior escreveu a comédia A Caipirinha, com o enredo retratando a Capivari daquela época, levada à cena por alguns atores amadores de São Paulo.
O Dicionário Bibliográfico Brasileiro de Augusto Victorino Alves Sacramento Blake (1893) consigna as seguintes obras de Cesário Motta Júnior: Das Condições Patognomônicas da Angina do Peito (1876); Resposta ao Questionário do Programa do Congresso Agrícola (1878); Porto Feliz e as Monções para Cuiabá (1884); e O Norte (1885).
Cesário Motta Júnior casou-se no Rio de Janeiro com Adelina Moreira da Silva, senhora que facilmente conquistou a família Motta. Cesário clinicou em Capivari e tornouse deputado na Convenção de Itu, na Assembleia Constituinte, em 1891.
Proclamada a República passou a residir em São Paulo. Tornou-se conhecido e querido na cidade não só como médico, mas também por exercer ativamente sua cidadania, lutando pelas áreas da educação e saúde, preocupando-se com a higiene e o bem-estar da população.
Para ele a clínica médica constituía verdadeiro sacerdócio e dava-lhe ensejo a estudos apurados.
Republicano e deputado, teve presença de destaque no parlamento e na Secretaria do Interior. Ocupou cargos na área educacional. Fundou a Escola de Farmácia, a Escola Modelo da Luz, o Ginásio do Estado, o Ginásio de Campinas, a Escola Normal de Itapetininga e criou a Biblioteca Pública na capital paulista.
Aliás, a nomeação de Cesário Motta motivou uma carta de Prudente de Moraes a Bernardino de Campos. Dizia a carta: “É mais fácil encontrar em São Paulo quem pudesse exercer a pasta da Educação, do que encontrar quem pudesse substituir a Cesário Motta no Parlamento”.
No governo de Bernardino de Campos, em 1892, ocupou a pasta dos Negócios do Interior, dedicando-se à campanha em prol do ensino e da higiene.
Segundo Antonio de Almeida Prado, em relatório relativo às atividades administrativas do ano anterior, o secretário de Estado, Cesário Motta Júnior, aludia, em 28 de março de 1894, à criação de uma Escola de Medicina.
Foi um dos idealizadores e sócio-fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em 1895; sócio-fundador do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, também em 1895, onde foi aclamado por unanimidade seu primeiro presidente, conservando-se nesse posto até a sua morte, pois não se permitia seu afastamento do cargo.
Sempre preocupado com a saúde pública, regularizou o serviço de policiamento sanitário e de vacinação. Na época, a preocupação maior era com as epidemias de cólera, febre amarela e varíola. No seu livro “Memória Histórica do Instituto Butantã”, o cientista brasileiro Vital Brasil, que conheceu de perto Cesário Motta, diz: “O grande paulista Cesário Motta não teve ação direta na fundação do Butantã, mas deve ser lembrado e homenageado como precursor da ideia da instalação, em São Paulo, de um Instituto de Soroterapia”.
Amigos e admiradores não faltaram na vida de Cesário Motta. Mas um, a história registra com destaques. Trata-se de Caetano de Campos. Por ele, Cesário tinha todo o respeito possível. Foram colegas na medicina, confrades em ideologia política, irmãos no gênio pedagógico, amigos de confidências e até parentes por afinidades, porque a esposa de Caetano de Campos pertencia à família Motta.
Os familiares sempre chamavam Cesário quando tinham algum problema grave a resolver e só ele tinha o poder da solução. Reunia todos, expunha o caso e pedia opiniões. Se concordassem com elas, as aceitava. Do contrário, desconsiderava o conselho familiar e executava o que bem lhe parecia conveniente. Cesário Motta não era gênio. Era, porém, inteligente e carismático.
Ninguém sabia explicar corretamente a razão de tanta fascinação. Organizava-se batalhão escolar e era dado o nome de “Batalhão Cesário Motta”. Aparecia de surpresa, mas de maneira frequente na Escola Modelo e pedia licença para assistir às aulas. Observava o método de ensino, o aluno e até o professor. Tomava a palavra, arguia as crianças a pedido dos mestres e cativava a todos. Sua presença era motivo de festa. Os alunos o convidavam para a hora do recreio e, lá, era rodeado por todos.
Acometido de moléstia grave transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi exercer o mandato de representante de São Paulo, no Congresso Federal.
Cesário Motta Júnior faleceu aos 50 anos, em 24 de abril de 1897, um ano após a mudança. Estava cego de uma vista e sabia que iria perder a outra. Seu corpo foi inumado no Cemitério Municipal de São Paulo, três dias após seu falecimento.
Cesário Motta Júnior foi honrado post-mortem como patrono da cadeira nº 10 da Academia Paulista de Letras, fundada em 27 de novembro de 1909.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
Seu sobrenome “Motta” encontra-se grafado com dois “t” no Dicionário Bibliográfico Brasileiro de Augusto Victorino Alves Sacramento Blake. Rio de Janeiro – Imprensa Nacional, 1893.
1 (uma) légua corresponde a 6600 metros.