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Biografia

Clemente Miguel da Cunha Ferreira

Clemente Miguel da Cunha Ferreira nasceu em Resende, Rio de Janeiro, aos 29 de setembro de 1857. Filho de José da Cunha Ferreira, português, e de Maria Neves da Cunha Ferreira, brasileira. Em janeiro de 1883 casou-se com a Anália Pinheiro da Silva, com quem teve dois filhos e uma filha. 

Até os 13 anos de idade residiu em Resende (RJ) e, após, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, onde iniciou seus preparativos para o curso de medicina, indo estudar no Colégio Episcopal São Pedro de Alcântara. 

Em 28 de dezembro de 1880, ao receber o grau de doutor em medicina, regressou para Resende, quando iniciou sua carreira profissional como médico da Santa Casa de Misericórdia, sem remuneração, tendo como atividade remunerada a então denominada atividade de “clínico da roça”. Durante cinco anos dedicou-se a essas atividades, estudando e colaborando em diversas revistas médicas europeias. Em 1883 publicou um ensaio pioneiro sobre “O Clima de Campos do Jordão no Tratamento da Tuberculose”. 

Em 1887 retornou ao Rio de Janeiro para dirigir o Serviço de Pediatria do dr. Moncorvo Pai† na Policlínica do Rio, onde permaneceu por seis anos. 

Em 1889 participou da Comissão da Imprensa Fluminense através de seus serviços gratuitos para prestar cooperação na epidemia da febre amarela que devastou Campinas. Em reconhecimento a essa tarefa, o povo campineiro mandou cunhar uma medalha de ouro para homenageá-lo, e o Imperador D. Pedro II condecorou-o com a comenda da Ordem da Rosa. 

Seu primeiro título, ainda no início de suas atividades profissionais, foi o de membro correspondente da Sociedade Terapêutica de Paris. 

Em 1890 a Academial Nacional de Medicina lhe conferiu o título de membro titular e, dois anos depois, em 1892, discursou na sessão magna como orador oficial, denunciando os erros dos governantes em relação aos problemas médicos, quando dizia com firmeza: “Senhores, eu confio que agora, que dirige os destinos da nação um governo sério, honesto e moralizador, ele deixará a senda até aqui trilhada pelos seus predecessores, para enveredar pela estrada larga da justiça ao verdadeiro mérito, onde quer que a modéstia o isole, do auxílio indispensável, da animação fecundadora ao trabalhador desinteressado e consciencioso“. 

Em 1893 publicou no Bulletin de Therapeutique o seu primeiro estudo sobre a tuberculose infantil. 

Após ter sido nomeado inspetor sanitário em 1896, fixou residência no estado de São Paulo, onde combateu por quatro anos, a febre amarela. 

Em 17 de julho de 1899 fundou a Associação Paulista de Sanatórios Populares para Tuberculosos, depois chamada de Liga Paulista contra a Tuberculose, tornando-se seu presidente perpétuo. A partir de então, encabeçou uma ferrenha luta contra a “Peste Branca” que dizimava a população paulistana.

Em 1902 criou a revista Defesa Contra a Tísica. Através dela, conscientizou a população e as autoridades sanitárias sobre a magnitude da tuberculose e a necessidade imperiosa do governo assumir-lhe a luta. 

Em 10 de julho de 1904, com um grupo de colaboradores e auxiliado por uma subvenção municipal, conseguiu abrir em São Paulo, o primeiro dispensário para o tratamento e profilaxia da tuberculose. 

Em 1905 foi convidado pelo diretor do Serviço Sanitário de São Paulo, dr. Emílio Ribas, para dirigir o Serviço de Proteção à Primeira Infância. 

Em outubro de 1905 viajou juntamente com o dr. Adolpho Lutz para Paris, a fim de participar do Congresso Internacional de Tuberculose, representando o estado de São Paulo. Durante cinco meses permaneceu na Europa estudando as organizações de luta contra a tuberculose na França, Bélgica, Alemanha e Portugal. Ao retornar, publicou relatório completo dos estudos feitos. 

Em 1908 sensibilizou um grupo de senhoras paulistas para fundarem a Obra de Preservação dos Filhos de Tuberculosos Pobres que, em 1913, inaugurou na cidade de Bragança Paulista o primeiro Sanatório de Preservação Infantil. 

Em 1912, durante o Congresso Internacional contra Tuberculose, em Roma, recebeu vários prêmios por sua atuação pessoal como presidente da Liga Paulista e diretor do Dispensário. Participou ainda de congressos de tuberculose na Argentina, Uruguai e em várias capitais do Brasil até o fim de sua vida. 

Em 1913 inaugurou na Rua da Consolação, na cidade de São Paulo, a nova sede do Dispensário com o nome de “Dispensário-Modelo Clemente Ferreira”, e fez dele o principal armamento de luta contra a tuberculose até 1934, quando foi doado pela Liga Paulista ao governo de São Paulo com todo o mobiliário e o fim expresso de ser usado para o tratamento dos tuberculosos pobres. 

Em 1927 iniciou a Campanha do Selo, encabeçando durante vários anos, 14 dessas campanhas com a finalidade de educar a população e angariar fundos para a Liga. 

Em 1929, com 72 anos de idade, foi comissionado para iniciar o Serviço de Profilaxia de Tuberculose do estado de São Paulo e permaneceu nesse cargo até sua aposentadoria. 

Em 1935 fundou um Dispensário Infantil e lá instalou o Serviço de Vacinação BCG. 

Em 1937, com 80 anos, inaugurou o Abrigo–Hospitalar Clemente Ferreira para tuberculosos pobres, com 60 leitos, na Avenida Jabaquara. 

Em 1939, com 82 anos, foi condecorado como Professor Honoris Causa pela Escola Paulista de Medicina. 

Além de ter fundado todos esses armamentos de luta contra a tuberculose, Clemente Ferreira, como membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia, manifestou-se sobre a utilização das águas do Rio Tietê como fonte de abastecimento de água potável para a cidade de São Paulo. Preocupou-se através da palavra (escrita e falada); deixou escritos 45 discursos e conferências e inúmeros artigos em jornais. É de sua autoria também o livro de poesias Clínica Poética, datado de 1946. 

Em 6 de agosto de 1947, com quase 90 anos de idade, faleceu esse Grande Patrono da Tisiologia Brasileira, deixando uma legião de beneficiados; uma escola de tisiólogos e o profundo reconhecimento dos brasileiros por sua grandiosa obra. 

NOTAS: 

Esta biografia é uma autoria do Acad. Yara Suely Romeu, titular e emérito da cadeira nº 24 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Clemente Miguel da Cunha Ferreira.

Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

O Acadêmico Clemente Miguel da Cunha Ferreira ingressou neste Sodalício antes de 1897, não se sabendo ao certo o dia e mês em que o Acadêmico foi admitido.