Domingos Rubião Alves Meira
Domingos Rubião Alves Meira, mais conhecido por Rubião Meira, nasceu em Barra do Piraí, estado do Rio de Janeiro, aos 4 de junho de 1878. Diplomou-se com 21 anos pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Em 1901, após ter exercido passageiramente a clínica na cidade de Piuí, no estado de Minas Gerais, transferiu-se para a capital do estado de São Paulo, onde, a partir de 1916, foi professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, até o seu falecimento.
Sua tese inaugural versou sobre Estudo Semiótico do Coma (1899). Foi o primeiro a exercer a livre-docência de clínica médica, em São Paulo, antes da fundação da faculdade de medicina. Em 1907 e 1908 concorreu em dois concursos para preenchimento da vaga de catedrático de clínica médica na Faculdade Nacional de Medicina, obtendo, em ambos, honrosa classificação.
Dentre as publicações de Rubião Meira sobressaem: Valor dos Novos Métodos e Processos de Diagnóstico em Clínica Médica, tese de livre-docência à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1912); Perfís e Lutas, coletânea de discursos e escritos vários (1913); Trabalhos e Lições de Clínica Médica, volume de 300 páginas, coletânea de artigos já publicados e de lições proferidas na 1ª clínica médica da Faculdade de Medicina de São Paulo (1916); Turbilhões (contos – 1917); Da Tribuna (discursos – 1920); Médicos de Outrora, crônica biográfica de saudades (1936) e In Memorian do Dr. João Alves Meira – 1842-1916 (1942).
Presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo por dois mandatos não consecutivos (1905-1906 e 1911-1912).
A Universidade de São Paulo muito deve a Rubião Meira, que foi um de seus primeiros reitores, cargo que serviu com eficiência e dignidade de 5/4/1939 a 21/5/1941.
De todas as atividades que Rubião Meira exerceu, nenhuma sobrepujou a do clínico.
Foi acima de tudo médico e médico exemplar, assinalou com razão o professor José Barbosa Corrêa. Desfez-se sempre em ternuras para com os doentes; passou a vida a lenir dores, a consolar aflições, a restaurar os corpos doentes e a reanimar os espíritos abatidos. Para Rubião Meira, a missão do clínico era a de fazer o bem. Em 1920, no centro acadêmico Oswaldo Cruz, referia: Aprendei, desde já, que entre os seus deveres de clínico, aquele que sobrepuja aos demais, não é o de tratar o físico, quando não podeis fazê-lo com vantagem, nos casos em que a medicina deixa cair por terra, por imprestáveis, as suas armas, mas sim o de cuidar do espírito do indivíduo, afugentando-lhe o espectro doloroso do fim implacável que o espera. Esse é o maior de seus deveres, Senhores, porque aí então a sua profissão confunde-se com a do missionário, encarregado da salvação das almas; vós sereis, também, nesses momentos, sacerdotes, com os mesmos direitos que os que vestem as roupagens de apóstolos da religião católica; vós tendes, então, a religião da caridade em mãos, mas da caridade elevada e digna que não se confunde com essa outra que faz dar a esmola pela mão direita e obriga a esquerda a publicar, com estardalhaço o feito. É a assistência moral o maior dos deveres que competem ao médico, socorrer o indivíduo com a unção de sua palavra evangélica, consolar seu espírito, retirando-lhe a dúvida do termo final que se aproxima, levando-lhe aos lábios o cálice da esperança, erguendo-lhe a fé com meiguice de seu verbo inflamado.
Rubião Meira também foi homem de letras: escreveu contos e pertenceu à cadeira no 28 da Academia Paulista de Letras. Foi honrado com o título de médico honorário da Santa Casa de Misericórdia. A Associação Paulista de Medicina muito lhe deve; estruturou em novas bases esta agremiação de médicos, tendo sido um de seus primeiros presidentes. Em 1930, quando Alberto Nupieri, Potiguar Medeiros, Barbosa Corrêa, Felipe Figliolini, Cesário Matias, Oscar Monteiro de Barros e muitos outros resolveram fundar a Associação Paulista de Medicina, levados pelo ideal de reunir a todos os médicos de São Paulo, foi de Rubião Meira que eles obtiveram logo não só o estímulo e aplausos, senão também colaboração decidida e prestigiosa. Ele assinou a convocação para a assembleia de fundação, presidiu-lhe a reunião inaugural e foi eleito presidente da instituição nascente.
Deixou grandes discípulos, mestres das novas gerações de médicos paulistas e um filho dileto – João Alves Meira, exemplo de bondade e de honradez, reprodução fiel do modelo paterno. Médico, professor de medicina, homem de letras, orador, cidadão, político, Rubião Meira acima de tudo foi médico, para quem a medicina foi a sua vida. Como médico viveu e como médico morreu. Dele disse seu filho João Alves Meira, em belo discurso de paraninfo (1958): “Todas as qualidades do verdadeiro médico ele as possuía, exercendo a medicina como sacerdócio, com elevação, com desprendimento, com dedicação integral ao doente, qualquer que fosse a posição social deste, sem se preocupar com recompensas materiais, sem outra ambição que a de prestar o amparo de sua proficiência e a satisfação de cumprir com desvelo o seu dever de profissional consciente. Nos quarenta e cinco anos ininterruptos de prática médica, espargiu Rubião Meira com as dádivas de seu saber, a mancheias, os benefícios de seu coração caridoso a todos os que, sem distinção dele, necessitados, se acercavam”.
Rubião Meira, disse Barbosa Corrêa, com inteira razão, “permanecerá na memória de seus discípulos, amigos e colegas, como excelso exemplo de competência, honestidade e bondade, no exercício de nossa penosa profissão”. Mestre de várias gerações de médicos, foi durante toda a sua vida um nababo da generosidade, um perdulário da bondade. Como médico, refere Almeida Prado, “nunca distinguiu o rico do pobre e o dinheiro nunca teve, para ele, nenhuma significação material”.
Rubião Meira faleceu em 1946, na cidade de São Paulo, com 68 anos incompletos.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.