Duílio Crispim Farina
Nasceu na Ladeira Porto Geral, no centro da cidade de São Paulo, em 9 de dezembro de 1921. Veio ao mundo na casa de sua tia dona Maria Piza de Azevedo, entre as proximidades da antiga Casa de Tibiriçá e o Pátio do Colégio. Estudou no Externato Avenida Angélica. Foi admitido em 6º lugar, mediante concurso, no ginásio do Estado de São Paulo (1935-1939), onde se formou em 2º lugar. Prestou concurso no Colégio Universitário, em 1940, onde estudou por dois anos. Em 1942 foi aprovado para ingresso na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), concluindo o curso médico em 1947.
Foi 1º secretário e presidente do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, respectivamente em 1944 e 1946. Representou os alunos da Faculdade de Medicina da USP e da Faculdade de Higiene e Saúde Pública junto à União dos Estudantes do Brasil.
Foi redator-chefe do jornal universitário “O Bisturi” (1942-1946); orador “cincoentenário”, representando os ex-presidentes do centro Acadêmico Oswaldo Cruz (1963); acadêmico por concurso (1º lugar) em obstetrícia e ginecologia da Casa Maternal e da Infância da Legião Brasileira de Assistência (LBA), em 1946.
Igualmente, como doutorando, obteve o 1º lugar e o prêmio LBA (medalha de ouro e diploma), em 1947. Foi médico interno por concurso (1º lugar) da LBA onde residiu em 1948. Desempenhou nessa instituição os seguintes cargos: assistente concursado (1949); 1º assistente do serviço (1949-1975) e chefe do plantão substituto (1949-1956 e 1969-1975).
Atuou como obstetra e ginecologista em vários hospitais, destacando-se: PróMatre (1948-1956); Maternidade São Paulo (1948-1971); Maternidade Matarazzo (1950-1963); Maternidade do Hospital Samaritano (1967-1971); Maternidade do Hospital Albert Einstein (1970-1976); Hospital São Camilo (1967-1969) e Maternidade do Serviço Paulista de Pronto-Socorro (1948-1964). Nessa instituição foi plantonista, interno, residente, chefe de plantão e diretor, englobando serviços de emergência, cirurgia, ginecologia e obstetrícia.
Foi membro das equipes dos professores Waldemar Souza Rudge (1947-1953); Antonio Rodrigues Bahia (1947-1964) e João Sampaio Góes Júnior (1967-1973). Fez cursos de extensão universitária em obstetrícia e ginecologia na Faculdade de Medicina da USP, na faculdade de Medicina da Santa Casa, na Legião Brasileira de Assistência (LBA) de São Paulo e na Academia de Medicina de São Paulo.
Realizou cerca de 25 cursos de aperfeiçoamento médico em Portugal, França, Itália, Inglaterra e Suíça; três cursos culturais na USP, curso de Psicologia Médica e o curso da Escola Superior de Guerra (1970).
Estagiou nas seguintes universidades: São Tiago de Compostela, Oviedo, Madrid, Alcalá de Herrares e Sorbone (Paris).
Atuou como ginecologista e obstetra ativamente durante 45 anos, tendo feito mais de dez mil partos e cinco mil cirurgias ginecológicas!
É autor de vários trabalhos sobre obstetrícia publicados em revistas especializadas.
Duílio Crispim Farina ocupou muitos cargos e diversas funções, destacando-se as seguintes: presidente da Comissão de Oncologia do Estado de São Paulo (1970-1980); diretor do serviço de Prevenção do Câncer do Hospital São Camilo (1969-1972), diretor vice-presidente (1969-1973) e presidente (1974) do Instituto Brasileiro de Pesquisas de Obstetrícia e Ginecologia; diretor social da Associação Paulista de Medicina – APM (1975-1977); presidente do departamento cultural da APM (1975-1982); vice-presidente da Sociedade Amigos da Arte – Sociarte (1967); orador da Sociedade Paulista de História da Medicina; vogal da Sociedade Brasileira de Escritores Médicos – Sbem – Regional de São Paulo (1976); ex-presidente da Sbem Nacional (1978 – março de 1979); diretor do jornal (quinzenal) da Associação Paulista de Medicina (APM); responsável pelos “Destaques Culturais” do Jornal da APM; responsável pela secção “Cultura Geral Médica” da revista da Maternidade e Infância da LBA; criador e diretor do Suplemento Cultural da Revista da APM.
Duílio Crispim Farina foi idealizador e grande batalhador pelo acervo da biblioteca da APM, que desde 1984 leva o seu nome em homenagem ao seu profícuo trabalho. Nela reúnem-se milhares de volumes incluindo teses, monografias, vetustos livros e raras coleções.
Foi também presidente da Academia Cristã de Letras (1984-1985); idealizador,organizador e presidente da Academia Hispânica-Brasileira de Ciências, Artes e Letras; delegado da Faculdade de Medicina da USP junto à Fundação Goulbenkian, em Lisboa; membro da comissão de Instalação do Museu da Faculdade de Medicina da USP; orador do clube dos 21 Irmãos Amigos (1980-1982 e 1982-1984) e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; presidente da Academia Paulista de História e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Ministrou diversas aulas, palestras e conferências em vários hospitais de ensino, instituições médicas e culturais, Rotary Clube São Paulo, regionais interioranas da APM e universidades, incluindo a da USP, a de Coimbra e Lisboa. Fez diversos discursos homenageando mais de 13 personalidades recipiendárias de entidades a que pertence, tais como: Academia Cristã de Letras, Clube dos 21 Irmãos Amigos e Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Pertenceu a diversas associações, entre elas: Associação Paulista de Medicina; Associação Médica Brasileira; Colégio Internacional de Cirurgiões; Sociedade Brasileira de Mastologia; Sociedade Paulista de História da Medicina; Sociedade Brasileira de Escritores Médicos; Sociedade Internacional de História da Medicina (Paris); Pen Club de São Paulo; Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, tendo como patrono Diogo de Toledo Lara Ordonhes; Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais; Academia Cristã de Letras, tendo como patrono São Lucas e como seu predecessor Eurico Branco Ribeiro; Sociedade Franco-Brasileira de Medicina; Instituto Genealógico Brasileiro; Academia Paulista de História, cadeira número 11, tendo como patrono frei Gaspar da Madre de Deus e como seu predecessor Luiz Arrobas Martins; Clube dos 21 Irmãos Amigos; Instituto Luso-Brasileiro de História da Medicina; Academia Mineira de Letras; Academia Paranaense de Letras; Academia Lusíada e Academia Paulista de Letras.
Recebeu as seguintes condecorações: “Imperatriz Leopoldina” do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; “Oswaldo Cruz” do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da USP; “Rondon” da Sociedade Geográfica Brasileira; “Mérito Médico do Paraná”; “Colar Dom Pedro I”; medalha “Dom Pedro II”; medalha do “Instituto Paranaense de História da Medicina”; medalha “Picanço” do Instituto Brasileiro de História da Medicina; condecoração “Nosmina Gratitudinis” do Laboratório de Medicina Nuclear da USP; colar “Pedro Taques” e medalha “Silva Leme” do Instituto Genealógico Brasileiro.
Duílio Crispim Farina era possuidor das seguintes coleções: Louça Brasonada – Brasil e Portugal; Louça Histórica do Brasil e Portugal; Cristais Históricos de Brasil e Portugal; Medalhas Imperiais (1º e 2º Império); Imagens Religiosas do Brasil Colonial, Numismática e Filatelia; Pintura Acadêmica Histórica sobre São Paulo, Brasil e Portugal (200 quadros) e peças e livros relativos à Faculdade de Medicina de São Paulo.
Sua coleção de louças e cristais históricos foi mostrada dezenas de vezes em Exposições Nacionais, Estaduais, no IV Centenário de São Paulo (Instituto Histórico), com relação de peças no Catálogo das Comemorações de José Bonifácio, o Moço, Velho Brasil, Barroco no Brasil, etc.
Ademais, sua farta biblioteca reunia livros referentes aos seguintes segmentos culturais: Brasiliana – 7000 volumes sobre o Brasil; Portucalia – 2000 volumes sobre Portugal; Ibérica – 1000 volumes sobre a Espanha e História da Medicina – 500 volumes.
Duílio Crispim Farina foi inquebrantável pesquisador e indefesso escritor.
Publicou mais de 500 artigos no Brasil e no exterior, sobremodo na modalidade de ensaio onde harmoniza sincronicamente sua tenacidade investigativa com a nimiedade de sua cultura, erudição e prolífica atuação literária.
Seus livros enfocam sobremaneira a cultura, a história e a história da medicina. Publicou as seguintes obras: História da Medicina em São Paulo – Medicina na Vila de Piratininga; História da Medicina em Portugal; História da Faculdade de Medicina de São Paulo; Ensaios Portugueses (Dinastia de Borgonha); História de Uma Família Goda de 500 a 1970; Medicina e Doença na História de Portugal; Médicos Portugueses Além-Fronteiras; Físicos, Cirurgiões-Mores, Boticas e Misericórdias na História de São Paulo; Memórias e Tradições na Casa de Arnaldo; Esculápios Portugueses das Sete Partidas (1979); Medicina, Doença e Morte na Casa de Bragança (Ramo do Brasil); Medicina no Planalto de Piratininga (1981); Piratininga em Tempos Idos (1990); Candido Fontoura: O Homem e sua Obra (1985); Presença da França na Terra Brasílica (1993); Medicina e Doença na História de Portugal; Franceses em Chãos do Brasil (1995).
Duílio Crispim Farina recebeu as seguintes láureas: prêmio “Arnaldo Vieira de Carvalho” (1973) da Sociedade Paulista de História da Medicina pelo livro Memórias e tradições na Casa de Arnaldo; prêmio “José de Almeida Camargo” (1973) da Associação Paulista de Medicina (APM) com o livro Físicos, Cirurgiões-Mores, Boticas e Misericórdias na História de São Paulo; prêmio “José Almeida Camargo” (1975) da APM com o livro Medicina, Doença e Morte na Casa de Bragança (Ramo do Brasil); prêmio da associação “Antigos Alunos da Faculdade de Medicina da USP” (1976) com o livro Esculápios Portugueses das Sete Partidas; prêmio “Ulysses Paranhos” (1974) da Sociedade Paulista de História da Medicina com o livro; Medicina e Doença na História de Portugal; Láurea “Arnaldo Vieira de Carvalho” da Congregação da Faculdade de Medicina da USP (1974) com o livro Memórias e Tradições na Casa de Arnaldo; prêmio “José de Almeida Camargo” (1976) da Associação Paulista de Medicina com o livro Médicos Portugueses Além-Fronteiras; troféu “Hipócrates” recebido no Congresso Internacional de Escritores Médicos realizado em San Remo (Itália) pela melhor participação com monografias sobre Alfonso Bovero e Líbero Badaró (1977).
No dizer de Guido Arturo Palomba, atual diretor do departamento Cultural da APM, Duílio Crispim Farina “tem estilo de escritor castiço e fluente que maneja a língua pátria com a destreza de que só os verdadeiros beletristas sabem os segredos, como consequência natural, acabou galgando a imortalidade.”
Paulo Bonfim, um dos maiores poetas contemporâneos, ao receber Duílio Crispim Farina na Academia Paulista de Letras, assim se expressou: “Curiosa predestinação desta cadeira, a de abrigar quatro ocupantes indômitos e fascinados por nossa gleba! – José Bonifácio de Andrada e Silva, José Feliciano de Oliveira, Menotti Del Picchia e Duílio Crispim Farina.”
“Um fio verde e amarelo urde a tapeçaria desses quatro peregrinos da brasilidade. Nos quatros pugnadores permanece vivo o espírito rebelde dos vinte anos!
Cada um procurando a seu modo mudar a fisionomia do mundo com o qual não concordam.”
“Duílio, homem de ação e de sonho, Vossa Excelência coloca o tempero dos cidadãos a serviço das grandes causas. Das lutas estudantis aos dias de hoje, perdura nos gestos de Vossa Excelência o dom de trazer ao mundo destinos e ideias (…). Da Medicina à Literatura, da Literatura à História, da História à Psicologia, da Psicologia ao memoriar, a rosa dos ventos exala o perfume de muitas procuras (…). Herdou dos seus maiores o amor ao combate, filho de cruzado e de navegador, de sertanista e de guerreiro do cotidiano.”
Por fim, Nelson Guimarães Proença, quando presidente da APM, em 1984, ao finalizar uma homenagem a Duílio Crispim Farina, lembrou uma frase de Duílio: Somos peregrinos da mesma peregrinação; e alinhavou: “A peregrinação ainda não terminou. Que Deus lhe dê alento para que, peregrino, possa continuar em sua peregrinação”. Duílio Crispim Farina faleceu na cidade de São Paulo, em 25 de janeiro de 2003, aos 82 anos.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.