Eduardo Monteiro
Eduardo Monteiro nasceu em Portugal, aos 19 de março de 1889. Veio para o Brasil, onde se graduou em medicina e exerceu sua profissão, tendo enorme clientela e conquistando pelos seus trabalhos reputação nacional.
Eduardo Monteiro foi médico clínico da Policlínica de São Paulo e da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde era assistente do professor Almeida Prado. Em ambos os lugares era muito assíduo nas tarefas que desempenhava. Trabalhava todos os dias, examinando os doentes pobres que buscavam o remédio e o alívio para os seus males. Era sempre o primeiro a chegar e um dos últimos a deixar o serviço. Em suas atividades sempre fazia amigos.
De acordo com seu biógrafo Carlos da Silva Lacaz, para Eduardo Monteiro “o magistério e o trabalho escrito foram sua verdadeira vocação. Didata nato, sabia transmitir com facilidade e segurança. Gerações e gerações de médicos aprenderam e aperfeiçoaram a sua formação profissional nos vários cursos que mantinha na Policlínica de São Paulo. Não tinha predileção por este ou aquele setor da medicina. Escreveu sobre todos, com igual carinho.”
“O respeito aos direitos e às prerrogativas dos outros tocava nele às raias do exagero. Nunca se sentou, por exemplo, na poltrona de preferência do professor Antonio Prado, seu mestre, na saleta de seu serviço clínico na Santa Casa, pela deferência que lhe merecia a posição do catedrático.”
Eduardo Monteiro deixou diversos artigos publicados, tais como: “Estudo Clínico das Adenopatias”; “Propedêutica Respiratória”; e “Fisiologia e Patologia no Metabolismo Celular”, dentre outros. Entretanto, sua obra foi sobremodo expositiva e didática. Publicou, em 1942, o livro Clínica e Patologia, onde abordou diversos temas de forma abrangente. Encerrou sua esmerada atividade científica com o livro Introdução ao Estudo da Patologia Renal. Trata-se de uma avantajada obra de mais de 700 páginas, cujas correções no transcurso de sua edição, fê-las enquanto se encontrava com doença avançada, chegando, contudo, a vê-la publicada. Segundo Almeida Prado, “este livro adquire o direito de figurar entre os poucos livros básicos de nossa literatura clínica”.
Carlos da Silva Lacaz salienta que Eduardo Monteiro era um “publicista de fôlego e um purista do vernáculo. Em todos os seus escritos notava-se a preocupação da exposição clara, precisa e sintética.”
Eduardo Monteiro proferiu numerosas conferências sobre os mais diversos assuntos, destacando-se: Eritema Nodoso; Estudo Clínico do Abdômen Agudo; O Câncer da Pleura; Apendicites; Persistência do Canal Arterial; Tromboangiite Obliterante; Estenose do Istmo da Aorta; Espasmo Arteriolar na Insuficiência Cardíaca; Aerofagia; Aneurisma Reumatismal; e Síndrome da veia Ázigo, dentre outros.
Refere Almeida Prado, seu dileto amigo, que Eduardo Monteiro “foi única e exclusivamente médico, tão visceralmente médico que não lhe sobrou tempo para ser mais nada. De moral ilibada, sua bela e cultivada inteligência, a bondade sem limites e sua infalível operosidade haviam de conduzi-lo fatalmente às mais insignes e destacadas posições na profissão. Foi uma dessas singulares organizações psicológicas, pouco exuberantes em superfície, mas solidamente cavadas em profundidade. Cerimonioso, comedido em tudo, de atitude recolhida, era dono de coração aberto, extremamente vibrátil.”
Eduardo Monteiro foi membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, tendo tido a honra de presidir esse sodalício por um mandato anual entre 1945-1946, que, infelizmente, não conseguiu concluí-lo.
Quando sentiu o primeiro aviso do mal que haveria de subtrair sua vida, não comunicou o fato a ninguém, como fazia sempre em tudo quanto se relacionasse à sua pessoa, reservando exclusivamente para si a gravidade da advertência. Aceitou a doença como aceitava tudo na vida, calmamente, sem alardes e recriminações.
Enfermo, mas durante um período de acalmia da doença, pediu lhe permitissem voltar parcimoniosamente aos seus afazeres. Queria rever seu consultório, alguns clientes e estar presente na Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, da qual era seu presidente. Voltou por pouco tempo à clínica e às aulas; presidiu sessões do sodalício; reviu provas tipográficas do seu livro Introdução ao Estudo da Patologia Renal, ganhando, com isso, novo alento e esperança perante os achaques infligidos pela doença. Apesar de debilitado, passava horas a fio em seu consultório, à Rua São Bento, no centro da cidade.
Entretanto, os sintomas cardíacos ressurgiram e, nas últimas semanas, viveu com a ajuda ininterrupta de oxigênio, num quadro sombrio que não lhe afetou as virtudes de sua personalidade. Recebeu os sacramentos da Igreja e predisse os sinais derradeiros do mal, com calma e delicadeza no falar e nos gestos.
Eduardo Monteiro foi professor, autor, escritor e, mui particularmente, um grande clínico. Faleceu às vésperas do Natal de 1945, aos 56 anos, após um ano de cruciante sofrimento físico.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
Carlos da Silva Lacaz foi presidente da Academia de Medicina de São Paulo por um mandato anual entre 1962-1963, e é o patrono da cadeira nº 75 desse sodalício.
Antônio de Almeida Prado foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, por um mandato anual entre 1930-1931, e é o patrono da cadeira nº 102 desse sodalício.