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Biografia

Emílio Marcondes Ribas

Emílio Marcondes Ribas nasceu aos 11 de abril de 1862, na cidade de Pindamonhangaba (SP). Era filho de Cândido Marcondes Ribas e de Andradina Marcondes Machado Ribas. Fez os estudos primários e secundários em sua cidade natal, em escola pública.

Sentindo vocação para a medicina foi estudar na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, graduando-se em 1887, com a tese Morte Aparente de Recém-Nascidos. Esse trabalho discutia o tema com profundidade, ressaltando aspectos referentes ao feto e ao recém-nascido, assim como a importância do cordão umbilical, salientando que as famosas circulares do cordão levavam à constrição de vasos do pescoço do feto, acarretando prejuízo à irrigação sanguínea cerebral, podendo resultar na morte fetal.

Depois de formado, retornou à sua terra natal onde se casou com Maria Carolina Bulcão Ribas, seguindo, logo depois, para Santa Rita do Passa Quatro, onde iniciou sua atividade clínica. Mudou-se depois para Tatuí.

Foi nomeado inspetor sanitário em 11 de setembro de 1895. Iniciou sua carreira como auxiliar do dr. Diogo Teixeira de Faria, no Desinfetório Central, em 1896. Teve oportunidade de combater várias epidemias, não só na capital, mas também no interior, principalmente de febre amarela, exterminando com êxito o mosquito transmissor da doença, – hoje, conhecido por Aedes aegyptii – nas cidades paulistas de São Caetano, Jaú, Pilar, Rio Claro, Araraquara, Pirassununga e Campinas.

Promovido a chefe da comissão sanitária de Campinas em 1896, permaneceu até 15 de abril de 1898, data em que foi nomeado diretor-geral do serviço sanitário. Exerceu o cargo por quase vinte anos consecutivos, tendo-se aposentado em 1917.

Emílio Ribas já tinha enfrentado a febre amarela na região de Campinas no final do século XIX, contando com o apoio do cientista Adolfo Lutz, então diretor do Instituto Bacteriológico.

Publicou, em 1901, o trabalho “O Mosquito Considerado como Agente de Propagação da Febre Amarela”, que encontrou forte oposição de médicos importantes de São Paulo.

Em 1902, Emílio Ribas trabalhou em São Simão (SP) para deter a terceira epidemia de febre amarela. Só saiu da cidade quando conseguiu com uma equipe de médicos e voluntários acabar com a grave epidemia, mandando limpar o rio que corta o município, e tomando medidas para melhorar o saneamento básico na cidade que, ao chegar, descreveu de forma pouco lisonjeira: “530 prédios, mal construídos; 90% sem assoalho ou forro, e com péssimo saneamento básico” – o que era verdade.

Foi para Cuba acompanhar estudos dos médicos Walter Reed e Carlos Finley. Em janeiro e fevereiro de 1903, resolveu fazer uma experiência semelhante à realizada em Cuba. Unindo-se ao médico e amigo Adolfo Lutz e a mais dois voluntários, Oscar Marques Moreira e Domingos Pereira Vaz, deixaram-se picar por mosquitos que estiveram em contato com doentes graves de febre amarela.

A experiência ocorreu no interior do Hospital de Isolamento de São Paulo, atual Instituto de Infectologia Emílio Ribas, sendo o diretor à época dr. Cândido Espinheira e o médico interno dr. Victor Godinho. Repetiram a experiência com dois novos voluntários, Januário Fiori e André Ramos, realizando o mesmo procedimento anterior.

Uma nova experiência foi realizada em abril de 1903, dessa vez, com três imigrantes italianos, pagos para permanecerem entre secreções e lençóis usados por doentes com febre amarela. As provas foram acompanhadas por médicos que não endossavam essas teses. Os resultados provaram: a transmissão da febre amarela era pela picada de mosquitos infectados por pessoas atingidas por essa moléstia, e não por contágio, através do contato com roupas e objetos usados e sujos dos doentes.

À frente do Serviço Sanitário, combateu ainda a peste bubônica em Santos e preparou, com Vital Brasil, o soro antipestoso.

Em 1903 essa experiência foi apresentada no 5º Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, onde Emílio Ribas defendeu a tese de que os meios de defesa válidos para a eliminação da moléstia deveriam dirigir-se à eliminação dos mosquitos vetores, e não aos meios apregoados pelos “contagionistas”.

Nesse mesmo ano, a febre amarela foi declarada extinta em todo o estado de São Paulo.

Em 1908, o Governo do Estado de São Paulo deu a missão de Emílio Ribas ir aos Estados Unidos e a vários países da Europa, a fim de estudar a profilaxia da tuberculose.

No retorno, em contato com eminentes estudiosos da questão, em especial, Clemente Ferreira e Vitor Godinho, idealizou a nossa “Estradinha”, com a finalidade de transportar os tuberculosos para o tratamento no Alto da Mantiqueira. Propugnou com a força dos bravos, sem amolecer, até ver concluída a Estrada de Ferro de Campos do Jordão.

Emílio Ribas foi homenageado em vida, quando a Câmara Municipal de Pindamonhangaba, em 1903, aprovou uma indicação que se denominasse Praça Emílio Ribas, a praça central da cidade. Quando se aposentou, ofereceram-lhe um prêmio de 200 contos de réis, mas ele acabou recusando.

Sua produção científica, aliada à atuação em campo e à capacidade de administração foram extraordinárias. Pronunciou sua última conferência sobre febre amarela no Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina de São Paulo, em 1922.

O cientista Emílio Ribas preocupou-se com outras doenças, em especial a lepra. Defendeu o isolamento dos leprosos, contanto que não ferisse a dignidade dos doentes, assegurando-lhes conforto e bem-estar. Em um de seus trabalhos, assim escreveu: “Acho indispensável o isolamento; sou de parecer que essa medida só deve ser executada depois de feitas instalações realmente capazes de oferecer conforto, higiene e cuidados médicos!”.

Sua personalidade era a de bom samaritano, trasbordante de sentimento de amor ao próximo, de esperança e de fé naqueles que padecem. Pensador profundo da transitoriedade terrena, abrigava no seu âmago a certeza de quem conhece a própria estrada, jamais admitindo que a névoa do pessimismo lhe nublasse as perspectivas do futuro. Olhos voltados para frente, seguia firme, leal, sem contudo deixar de contemplar as margens do caminho, ao longo do qual, distribuía, como um missionário, as benesses da sua seara privilegiada.

Emilio Ribas foi o pioneiro na luta contra a febre amarela no Brasil e na América do Sul. Criou o Instituto Butantã, construindo numa fazenda nos arredores de São Paulo, na época em que a peste grassava no Brasil, em 1899. Idealizou Campos do Jordão, como estância climática para o tratamento da tuberculose, além de ter idealizado e construído a Estrada de Ferro, juntamente com Victor Godinho, em 1911. Idealizou o Sanatório de Santo Ângelo, o primeiro com características mais humanas de assistência aos hansenianos no Brasil. Estudou, com critério e segurança, a forma atenuada da varíola – o alastrim – levando os seus trabalhos aos grandes centros científicos, onde foram discutidos e acatados.

Criou a seção de proteção à primeira infância da Inspetoria Sanitária Escolar; o Serviço de Profilaxia e Tratamento do Tracoma; e reorganizou o serviço sanitário, remodelando o Desinfetório Central, o Hospital de Isolamento, os Laboratórios de Análises Clínicas e Bromatológicas; o Farmacêutico e a Seção de Engenharia Sanitária.

Emílio Ribas faleceu no dia 19 de dezembro de 1925, na cidade de São Paulo, aos 63 anos. Seu nome é honrado como patrono da cadeira nº 56 da augusta Academia de Medicina de São Paulo e da cadeira no
109 do Instituto Histórico e Geográfico de Santos.

Através da lei 4.903 de 19/12/1985, oriunda de um projeto do deputado Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho, foi instituída pelo Governo de Franco Montoro, a Semana Estadual da Higiene e Saúde Pública e Ocupacional, a ser comemorada anualmente dia 18 de outubro, dia do médico, que tem como patrono o precursor do sanitarismo no Brasil.

Recebeu outras homenagens póstumas: Seu nome foi dado a uma rua na cidade de São Paulo, Poá e Caraguatatuba; ao Hospital de Isolamento, hoje, Hospital Emílio Ribas; a uma estação da Estrada de Ferro de Campos do Jordão; e ao Centro de Saúde de Pindamonhangaba, cujo solo guarda os restos mortais do ilustre conterrâneo.

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.