Enjolras Vampré
Enjolras Vampré nasceu em 4 de julho de 1885, em Laranjeiras (SE). Era filho do dr. Fabrício Carneiro Tupinambá Vampré e de Mathilde de Andrade Vampré.
Fez os estudos preparatórios no Ginásio Ciências e Letras de São Paulo. Graduou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, em 19 de dezembro de 1908, defendendo a tese Ligeiras Considerações Sobre as Perturbações Nervosas e Mentais da Peste Bubônica, obtendo aprovação com distinção.
Durante o curso acadêmico foi interno da cadeira de clínica psiquiátrica e moléstias nervosas. Em 1906 foi nomeado interno do Hospital de Isolamento da peste bubônica, tendo sido designado, em 1907, para chefe da comissão para saneamento da cidade de Alagoinhas.
Estudante ainda, foi presidente da Sociedade Beneficente Acadêmica. Destacouse como o melhor aluno de sua turma. Obteve espaço de honra no Panteão da Faculdade de Medicina da Bahia com a conquista do prêmio professor Manoel Victorino Pereira, instituído em 1892, por ter obtido a maior média global nas disciplinas, além do prêmio de viagem à Europa.
Logo depois de diplomado cooperou na fundação da Sociedade Médica da Bahia.
Em 1910, Enjolras Vampré ingressou na Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, onde desempenhou vários cargos: primeiro secretário (1914); bibliotecário (1919); vice-presidente (1920); presidente no mandato anual entre 1921-1922.
Em 1911 foi nomeado médico interno do Hospício de Alienados de Juqueri e, em 1912, diretor da secção de neuropsiquiatria do Instituto Paulista. Suas atividades como professor iniciarm em 1925, quando foi contratado para reger a cadeira de psiquiatria e moléstias nervosas na Faculdade de Medicina de São Paulo.
Comissionado pela faculdade, voltou à Europa em 1925, ocasião em que frequentou em Paris, os serviços de Babinski, Dejèrine, Foix, Guillain e Bertrand, bem como em Berlim, na Alemanha, o serviço neuropsiquiátrico da Charité. Ainda na Alemanha, estudou nos serviços de Daldorf, Wuhlgarten, Herxberg e Brech.
A congregação da Faculdade de Medicina de São Paulo em 1932, por decisão unânime, enviara aos poderes competentes longo e documentado memorial propondo-o para regência definitiva, independentemente de concurso. A isso Enjolras Vampré se recusou e dando notável exemplo de amor à disciplina e grande elegância moral, insistiu para que fossem abertas as inscrições para concurso. Viu realizado seus desejos em fins de 1935, dando pública demonstração de suas capacidades científico-professorais no tocante à neurologia. Esse concurso – realizado aos 50 anos de idade – veio coroar sua extraordinária atividade profissional, revelada não só pela vultosa clínica particular, como também pela capacidade didática e organizadora e, ainda, pela relação de trabalhos publicados. Assim, em 1935, desdobrando-se a cadeira de psiquiatria e moléstias nervosas, passou a reger a de neurologia.
Enjolras Vampré foi um dos fundadores da Associação Paulista de Medicina (APM), sendo seu quarto presidente em 1936. Na APM fundou a Secção de Neurologia e Psiquiatria, sendo seu primeiro presidente, em 1930. Foi, também, membro da Sociedade de Neurologia e Psiquiatria do Rio de Janeiro; membro correspondente da Sociedade de Neurologia de Paris; membro honorário da Academia Nacional de Medicina; e presidente-honorário da Associação Médica do Instituto Penido Burnier.
Enjolras Vampré foi redator da revista Annaes Paulista de Medicina e Cirurgia e escreveu também para o jornal O Estado de S. Paulo. Entre seus artigos citam-se: Hospício do Juqueri; Um Caso de Paranoia; A Taquipneia na Peste Bubônica; Profilaxia da Lepra; Uma Epidemia de Polinevrites Arsenicaes; Epilepsia Psíquica com Síndrome de Stockes; Responsabilidade Criminal dos Epilépticos; Um Caso de Intoxicação por Cysticercus cellulosae; Síndromes de Villaret (Síndrome Retroparotídea Posterior) e de Jaccod (Síndrome Petrosfenoidal); Tumores Múltiplos do Eixo Cerebrospinal; Síndromes Neuropsicoanêmicas; Tumor do Quarto Ventrículo ao Nível do Bulbo, Determinando Dissociação da Sensibilidade do Tipo Cortical: Diagnóstico Diferencial com os Tumores Parietais; e Tratamento das Síndromes Pós-Encefalíticas por Injeções Raquídias de Electrargol.
Como professor, Enjolras Vampré nunca pôs à parte o que considerava como dever, sacrificando suas obrigações pessoais em prol do ensino. Suas aulas, cheias de ensinamento e eminentemente práticas, nunca tiveram cunho livresco ou literário.
Premiando-o, todas as turmas de alunos da Faculdade de Medicina de São Paulo o homenagearam. Foi paraninfo dos médicos diplomados em 1928. Sua febril atividade foi causa de sua morte prematura, ocorrida durante uma aula que proferia. Faleceu em 17 de maio de 1938, três semanas antes de completar 53 anos, e em pleno apogeu de sua produção científica.
Fez discípulos, devendo-se salientar Adherbal Tolosa, que o substituiu na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e Paulino Longo, catedrático de neurologia da Escola Paulista de Medicina, onde constituiu serviço nos moldes em que se formara.
Enjolras Vampré foi um dos pioneiros da neurologia brasileira e é considerado unanimemente como o pai da neurologia do estado de São Paulo. Seu nome é honrado como patrono da cadeira no 49 da Academia Nacional de Medicina; patrono da cadeira n o 38 da Academia Paulista de Psicologia e patrono da cadeira no 11 da Academia Sergipana de Medicina, além de dar nome a uma rua no bairro Jardim da Saúde, na zona sul da capital paulista.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.