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Biografia

Ennio Cosimo Damião Barbato

Ennio Cosimo Damião Barbato foi professor associado de clínica médica e chefe de clínica do Serviço do professor Luiz Venere Décourt, 2ª Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 

Desempenhou atividade médica e científica expecional. Realizou relevantes trabalhos de pesquisa, tendo como expressão internacional o “Mapeamento Epicárdico Eletrocardiográfico por meio de Eletrodos Diretos”, trabalho publicado com destaque na revista Circulation

Sempre interessado na correção clínica e exames complementares, publicou um livro acerca do Significado Clínico da Nomenclatura Eletrocardiográfica, em colaboração com Zarco Caramelli. 

Foi editor do livro em homenagem ao professor Luiz V. Décourt ao decorrer dos seus 15 anos de cátedra. 

Recentemente, completando o acervo do Museu de História da Medicina da Associação Paulista de Medicina, foi inaugurado um painel em homenagem aos colegas de origem italiana, com fotos de 20 profissionais – inclusive de Ennio Barbato – que se destacaram em nosso cenário médico. 

Em sua curta vida como veranista de Bertioga, empreendeu campanha de cunho social significante, a fim de construir albergue para meninos carentes que passavam férias na praia. 

Quis a Providência ou o acaso que se instalasse o Museu de Folclore à praça Dr. Ennio Barbato, no Caxinguí. Assim, o visitante desconhecido ao tomar conhecimento e se emocionar com tradições e/ou crenças populares de nossa identidade (tão a gosto de Ennio Barbato), mesmo insensível e indiretamente, pode estar prestando tributo à personalidade humana do patrono daquele logradouro público. 

NOTAS: 

Esta biografia é uma autoria do Acad. Paulo Jorge Moffa, titular e emérito da cadeira no 26 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Ennio Cosimo Damião Barbato. 

Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Aditação: Ennio Barbato nasceu em 23 de junho de 1919 e faleceu em 22 de março de 1966, aos 46 anos de idade. 

Dele falou o professor Luiz Venere Décourt: “Companheiro de trabalho por mais de vinte anos, viveu e prestigiou os passos iniciais de minha cátedra em 1950 e, depois, todo o seu caminho, em dedicação verdadeiramente filial, lúcida e entusiasta, que jamais declinou, apesar das apreensões e da doença. Nela obteve os graus universitários de doutor em medicina, de docente-livre em clínica médica e de professor-adjunto; nela ocupou, sucessivamente, os cargos de assistente-efetivo, de chefe da seção de cardiopatias adquiridas, de chefe de clínica, de professor-substituto. 

Nessa vivência, publicou cerca de seis dezenas de trabalhos científicos de alto valor, muitos dos quais representando conquistas definitivas para a medicina. Dentre eles a análise dos fenômenos fisiopatológicos presentes na pneumopatia e na cardiopatia pulmonar esquistossomóticas; a determinação de aspectos eletrocardiográficos distintivos em cardiopatias reumáticas e luéticas e, muito particularmente, os rigorosos estudos sobre a sequência da ativação ventricular no coração humano, em condições normais e patológicas, apreciada através de derivações epicárdicas diretas. 

Sua inteligência e sua penetrante curiosidade científica levaram-no à constante indagação dos fatos, concretizando-se planos que eram promessas e preliminares de novos trabalhos, nem sempre infelizmente completados, dada a doença que o abalara, pela primeira vez, há cerca de doze anos. Dele partiram as primeiras ideias sobre a biópsia transcutânea do coração humano, hoje de rotina em nosso Serviço; dele surgiram tentativas para a determinação da temperatura do sangue nas cavidades cardíacas, agora em uso em algumas clínicas europeias. E ainda as buscas para a averiguação do papel da fadiga e da tensão na gênese de alterações coronarianas em animais observados durante longo tempo em condições particulares; para a avaliação das manifestações cerebrais em determinadas anomalias congênitas; para a apreciação da influência das perturbações metabólicas discretas sobre a repolarização ventricular. 

Sua capacidade mental e sua sensibilidade levaram-no a amar as artes e as letras, e foi real humanista em geração que não se distinguia particularmente por essa qualidade. Fez versos na mocidade e viveu em íntimo contato com a literatura e a pintura. 

(…). Distinguiu-se por extraordinária capacidade de fazer amigos. E não apenas entre nós, mas em todos os ambientes onde viveu. Assim foi no México, onde um magnífico estágio de dois anos (1947- 1949) fez nascer admiração e real afeto em todos os componentes do Instituto de Cardiologia; assim nos Estados Unidos da América do Norte, onde trabalhou na Heart Station da Universidade de Michigan (1949) e com a Cardiovascular Research Unit da Universidade de Vermont (1956); assim, ainda na Itália (1960), onde uma permanência de cerca de dois meses pareceu representar aos investigadores do Instituto di Cardiologia Sperimentale de Milão o vínculo de toda uma vida. 

Esse culto à amizade fez com que não soubesse clinicar sem viver, em sua integridade, os problemas de seus pacientes. Já doente, reconhecendo suas próprias limitações, afirmava que cada cliente seria o último no sacrifício exigido à sua saúde, mas a afirmação era sempre, e de novo, desmentida no decorrer de anos, pelo desvelo do homem que não sabia agir de outra forma. Na verdade, morreu sempre um pouco, em cada doente que morria (…)”. Referência: Décourt LV. Ennio Barbato. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 19 (2): 171-172, 1966.