Franklin de Moura Campos
Franklin Augusto de Moura Campos nasceu na cidade de Tietê (SP), 26 de outubro de 1896. Graduou-se pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo em 1919, sendo, logo em seguida, convidado para ser assistente da cadeira de fisiologia.
Tornou-se bolsista da Fundação Rockfeller de 1926 a 1928 e trabalhou no laboratório de fisiologia da Universidade de Harvard, ao lado de Walter B. Cannon, e na Universidade da Sorbone, juntamente com o casal Lapique.
Ao retornar ao Brasil conquistou, por concurso, em 1929, a cátedra de fisiologia e química fisiológica na instituição de ensino onde havia se graduado apenas dez anos antes. Aí empreendeu intensas atividades didáticas e científicas.
Com a colaboração de seus assistentes Otávio de Paula Santos e José Dutra de Oliveira reorganizou os cursos práticos da disciplina, adotando ensino formativo. Obteve doação de equipamentos da Fundação Rockfeller e outros foram fabricados numa oficina por ele criada em seu laboratório, o que permitiu que os próprios alunos realizassem os experimentos, fato inovador à época. Sua generosidade fez com que tais equipamentos desenvolvidos em suas instalações pudessem ser fabricados para várias escolas médicas do país, permitindo que outros alunos se beneficiassem dos conhecimentos práticos que eles podiam auferir.
Em seu laboratório foram realizados trabalhos sobre metabolismo basal, cronaxia, ações fisiológicas e farmacológicas de venenos de sapos, serpentes e vegetais, que originaram diversas teses de doutorado sob sua orientação.
Em 1933, com o trabalho de seu assistente José Dutra de Oliveira intitulado “Ensaios sobre Avitaminoses”, seu laboratório iniciou uma intensa atividade sobre nutrição experimental que se prolongou por 30 anos, tornando seu serviço no maior centro de pesquisas em nutrição da América Latina. Nesse campo de investigação foram estudados temas como digestibilidade de alimentos, valor biológico, teor protéico e lipídico; taxas de cálcio, potássio e ferro; influência da adubação; valor nutritivo de variedades do mesmo alimento; vitamina E em óleos; vitamina A e provitamina A em óleos e outros alimentos; teor de vitamina C em frutas e verduras; teor de vitamina B1 em diversos alimentos; valor nutritivo de peixes do Nordeste; estudos sobre carência protéica e carência de vitaminas A, D, B1 e E, dentre outros. Complementando as pesquisas que eram realizadas, promoveu diversos cursos e publicações.
A partir de 1950 seu laboratório começou a se interessar sobre os aspectos fisiológicos das carências alimentares, tendo como assuntos pesquisados a absorção e excreção de vitaminas e ação da colina no metabolismo protéico, dentre outros. Paralelamente, seus assistentes pesquisavam outros assuntos como metabolismo basal em diversos grupos etários, endocrinologia experimental, hipertensão nefrogênica, ações fisiológicas e farmacológicas dos polipeptídeos e eletrofisiologia.
Franklin de Moura Campos era dotado de excepcionais qualidades morais, granjeando muitos amigos e admiradores, tanto dentro quanto fora do meio universitário. Foi para os seus colaboradores não somente um orientador, mas um amigo confidente, que os apoiava mesmo em problemas pessoais. Sabia adaptar-se às adversidades das personalidades de seus assistentes. Desse temperamento tornou excelente o ambiente da disciplina de fisiologia, onde a individualidade de cada um era respeitada.
Durante os 33 anos em que chefiou em período integral a disciplina de fisiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo deixou sempre abertas as portas do seu laboratório para todos aqueles que quisessem se iniciar nas atividades científicas. Nesse período foram publicados pela disciplina 497 trabalhos e vários de seus assistentes tornaram-se professores catedráticos, tais como Jayme Cavalcanti, Demosthenes Orsini, Joaquim Ribeiro do Valle, Wilson Teixeira Beraldo e Luiz Uchoa Junqueira, além de ter formado diversos outros docentes.
Franklin de Moura Campos teve a honra de presidir a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, num mandato anual entre 1941 e 1942. Em 10 de agosto de 1957 tornou-se, juntamente com outros expoentes das ciências básicas, membro fundador da Sociedade Brasileira de Fisiologia. Era membro honorário e sócio benemérito de diversas sociedades científicas e culturais.
Dentre as numerosas láureas que recebeu, algumas das quais da Academia Nacional de Medicina, Academia de Medicina de São Paulo, Associação Paulista de Medicina dentre outras renomadas entidades, destacam-se: prêmio Miguel Couto (1934 e 1936); prêmio Alvarenga (1940); prêmio Nacional de Alimentação (1947 e 1952); prêmio Diógenes Sampaio (1951 e 1952); e prêmio Nestlé (1953).
Casou-se com Vitalina Toledo de Moura Campos de cujo matrimônio nasceram João Campos, casado com Maria Raphaela Campos; Sergio Campos, casado com Maria Tereza Campos; Luiza Augusto de Oliveira, casada com Jair de Oliveira; e Franklin Campos.
Franklin Augusto de Moura Campos era culto e muito dedicado ao trabalho; com invulgares qualidades de chefe, formou uma numerosa escola de pesquisadores e docentes. Apesar da longa enfermidade que o levou ao óbito, não deixou de lecionar e de participar de suas pesquisas.
Faleceu na cidade de São Paulo, no dia 4 de outubro de 1962, sendo sepultado no dia seguinte em sua cidade natal – Tietê, com grande afluxo de participantes.
Seu nome é honrado numa escola estadual na região central da cidade de Tietê e numa escola municipal, no bairro do Tucuruvi, da cidade de São Paulo.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
Franklin Augusto de Moura Campos, faleceu na cidade de São Paulo, no dia 4 de outubro de 1962, três semanas antes de completar 76 anos.