Hermann Grinfeld
Nasci aos 29 de setembro de 1939, em São Paulo, na Maternidade São Paulo, à rua Frei Caneca, sendo o segundo filho de Frida e Jorge Grinfeld. Minha mãe era imigrante polonesa; veio ao Brasil em 1932, aos 17 anos, por meio do chamado de uma tia que precisava de ajuda na oficina de costura, na Rua Santa Efigênia. Desde pequena, minha mãe era muito hábil com costura, e como na Polônia a situação era de extrema pobreza, a família resolveu que era hora de Frida emigrar. Meu pai era refugiado letoniano e veio ao Brasil a chamado da irmã Nelly, uma vez que, aos 23 anos, contador, encontrava-se desempregado num país devastado pela miséria do povo. Meus pais conheceram-se no Rio de Janeiro, namoraram e vieram a São Paulo, onde se casaram em 1935. Os primeiros anos foram difíceis: Jorge tinha conseguido um emprego noturno como maquinista nas Indústrias Klabin. Após algum tempo, meus pais instalaram uma oficina de costura, que funcionou durante várias décadas. Meu irmão mais velho Jean, economista, nasceu em 1937.
Passei a infância nas imediações da região central da cidade, e lembro-me bem dos muitos blecautes durante a Segunda Grande Guerra, quando as sirenes de “A Gazeta”, na Rua Cásper Líbero, soavam, anunciando um possível ataque aéreo à cidade, que então ficava completamente às escuras. Foi um período de grande sofrimento familiar, pois havíamos perdido minha avó materna e um tio em campo de concentração.
Após fazer o curso primário no Colégio Stafford, na Alameda Cleveland, fiz o curso preparatório para entrar no curso ginasial do Instituto de Educação “Caetano de Campos”2 , de 1950 a 1954, na Praça da República. Formei-me no ano do IV Centenário de São Paulo. Tive excelentes professores, e a figura que mais me fixou na memória foi a do professor Felipe Jorge, que ensinava português. Até hoje, lembro-me de sua figura elegante e circunspecta, que inspirava respeito e admiração. Naquele tempo, todos os alunos usavam terno e gravata, e se levantavam à entrada do professor na sala de aula.
De 1955 a 1958 cursei o científico no renomado Colégio Bandeirantes, no bairro Paraiso. Já no final do curso ginasial havia decidido cursar medicina e recebi amplo apoio de meus familiares. Foram anos de intenso aprendizado, especialmente de física (professor Rosemberg), química (professor Silvio), matemática (professor Barifaldi). Nas tardes, ao voltar para casa, passava as aulas a limpo para enfrentar, no final do curso, o extenuante vestibular. Ainda complementei o conhecimento das matérias no Curso Brigadeiro, onde tinha aulas das 19 às 23 horas.
Em fins de 1959 fiz o vestibular na Faculdade de Medicina de Sorocaba da Pontifícia Universidade de São Paulo, tendo obtido o 4º lugar. Iniciei o curso médico em 1960, tendo-me formado na X Turma, em 1965. Foi um período rico em estudos e experiências de vida, desde que era a primeira vez que passei a viver sem o “guarda-chuva” do lar familiar e dos pais. Impossível esquecer dos professores Renato Locchi , Humberto Cerruti , Ciro Nogueira, José Ramos , Walter Edgard Maffei , Wertheimer, Paulo Fraletti e tantos outros… Tenho contato até hoje com alguns dos colegas de turma, o que me emociona a cada encontro.
Fui acadêmico auxiliar de obstetrícia por concurso, na Clínica Infantil do Ipiranga e no Hospital Nossa Senhora da Conceição.
Após o curso médico, decidi que a pediatria seria a minha especialidade de escolha. Fiz dois anos de residência no Hospital Infantil Menino Jesus da Prefeitura de São Paulo, na Rua dos Ingleses, na Bela Vista. O chefe de clínica era o professor Oswaldo Cruz, e o diretor era o doutor Cornélio Rosemburgo. Éramos em três residentes, sendo nosso preceptor o doutor Antonio Foronda. Também assumi, durante a residência, o cargo de preceptor por indicação do chefe de clínica. Após fazer concurso para médico pediatra, quando obtive o 3o lugar, continuei a carreira no Menino Jesus, onde assumi também os cargos de neonatologista do Berçário Externo, supervisor médico e chefe de clínica. Abri consultório particular em 1968. Aposenteime do Hospital Menino Jesus após 30 anos.
Nesta mesma época, após a residência, fui aprovado em vários concursos: para pediatra do Sesc8 e para médico no Serviço de Pediatria do Hospital do Servidor Público do Estado, onde entrei em 1968, como responsável pelo Berçário do Serviço de Pediatria sob a chefia do doutor Guilherme Mattar9 . Desliguei-me em 1980.
Interessei-me intensamente pela neonatologia e fui orientado pelo professor José Lauro de Araújo Ramos a fazer estágio no exterior. Assim, em 1970, candidatei-me no British Council e obtive o posto de estagiário por quatro meses no Center of Prematures do Queen Elizabeth Medical Center de Birmingham, Inglaterra. Meus preceptores, grandes professores, foram Ben Wood, Jack Insley e David Challacombe. Passei ainda um mês de estágio no Hammersmith Hospital de Londres, onde realizei vários transportes de recém-nascidos em ambulâncias.
Casei-me com a pianista Vera Astrachan, em 1971, e temos dois filhos: André e Renata, e dois netos: Rodrigo e Laura.
Obtive o título de especialista em pediatria e neonatologia pela Associação Médica Brasileira e pelo Conselho Federal de Medicina. Fui aprovado no “Educational Council for Foreign Medical Graduates”, o que me levou ao posto de fellow nos Estados Unidos da América por dois anos, em 1974 e 1975. Trabalhei no Neonatal Intensive Care Unit do Children´s Hospital de São Francisco, sob a orientação das professoras doutoras June Brady e Toshiko Hirata.
Voltando a São Paulo, continuei a atividade de pediatra e neonatologista em consultório, assumindo também o cargo de intensivista na recém-inaugurada UTI do Berçário da Maternidade do Hospital Israelita Albert Einstein, de 1981 a 2000. Nessa ocasião, a pedido do superintendente doutor José Lodovici, forneci catálogos de respiradores (Baby Bird) utilizados nas UTIs americanas. Iniciamos, assim, a internação de recém-nascidos externos, nascidos em maternidades sem os recursos de uma Unidade de Terapia Intensiva. Depois de alguns anos, a UTI passou a receber somente prematuros nascidos na própria maternidade.
Trabalhei nesta Unidade Neonatal sob a chefia do doutor Dráuzio Viegas, doutor Mário Conti e da professora doutora Conceição Aparecida de Mattos Segre .
Quando me interessei pelo alcoolismo gestacional e as repercussões na prole, contatei o professor Gerson Chadi no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, em cujo laboratório realizei experimentos com camundongas e suas proles, nos anos de 1996 e 1997.
Em 2007, estimulado pelo então presidente professor doutor José Hugo de Lins Pessoa, a Sociedade de Pediatria de São Paulo criou o Grupo de Trabalho sobre os Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-Nascido, sob a coordenação da professora doutora Conceição Aparecida de Mattos Segre, do qual participam neonatologistas, pediatras e obstetras. O Grupo se reúne mensalmente, tendo interrompido as reuniões presenciais por conta da pandemia em 2020 e 2021. Fui secretário deste seleto Grupo em 2008 e 2009.
Fiz defesa de tese de mestrado no curso de Pós-Graduação em Perinatologia do Hospital Israelita Albert Einstein, em 5 de março de 1998, sendo o primeiro pós-graduando a ser examinado e aprovado com louvor. Meu orientador foi o professor doutor Saul Goldenberg e co-orientador o professor doutor Gerson Chadi. A tese foi intitulada “Efeitos do Álcool Etílico na Prole de Camundongas Alcoolizadas na Prenhez”. Compuseram a banca as professoras doutoras Magda Maria Salles Carneiro e Conceição Segre, e o professor doutor Saul Cypel15 .
Fiz defesa de tese de doutorado no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, em 14 de março de 2003, intitulada “Efeitos do Álcool Etílico na Prole de Camundongas Alcoolizadas na Prenhez e o Impacto no Desenvolvimento do Parkinsonismo Experimental”, sob a orientação do professor Gerson Chadi e composição da banca com os professores Saul Goldenberg, Conceição Segre, Magda Sampaio e Helenice Spinosa.
Fiz parte de várias bancas examinadoras de Qualificação na Universidade Mackenzie, de mestrado e doutorado nos Cursos de Pós-Graduação em Neonatologia do Hospital do Servidor Público “Francisco Morato de Oliveira” e da Universidade Mackenzie.
Escrevi o livro “Pais, Mães e Cia.”, sendo editado pela Editora Manole, em 2013. O livro trata de cuidados ao RN16 após o parto e nos primeiros meses de vida, além de trazer numerosas experiências marcantes na lide pediátrica.
Tomei posse da cadeira número 8 da emérita Academia de Medicina de São Paulo, com muito orgulho e honra, em 27 de abril de 2021, cujo patrono é o professor doutor Durval Sarmento da Rosa Borges, por votação em segundo turno, realizada em 16 de dezembro de 2020.
NOTAS:
Biografia e foto foram fornecidas pelo autor.
Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
Em decorrência das recomendações dos órgãos estatais de saúde pública de não aglomeração por causa da pandemia do cononavírus, a posse ocorreu em reunião virtual, através da Plataforma Zoom.
Antônio Caetano de Campos (1844-1891) é o patrono da cadeira no 95 da Academia de Medicina de São Paulo.
Renato Locchi (1896-1978) é o patrono da cadeira nº 42 da Academia de Medicina de São Paulo.
Humberto Cerruti (1905-1985) é o patrono da cadeira no 94 da Academia de Medicina de São Paulo.
José Ramos de Oliveira Júnior ingressou como membro titular da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, em 1/10/1948.
Walter Edgard Maffei (1905-1991) é o patrono da cadeira no 98 da Academia de Medicina de São Paulo.
Paulo Fraletti (1921-2011) ingressou como membro titular da Academia de Medicina de São Paulo, em 27/10/1966.
Sesc: Serviço Social do Comércio.
Guilherme Mattar ingressou como membro titular da Academia de Medicina de São Paulo, em 23/2/1960.
UTI: Unidade de Terapia Intensiva.
Conceição Aparecida de Mattos Segre é membro titular e emérita da cadeira no 28 da Academia de Medicina de São Paulo, tendo por patrono Nemésio Bailão (1909-1966). 1
USP: Universidade de São Paulo.
José Hugo de Lins Pessoa é o segundo ocupante da cadeira no 61 da Academia de Medicina de São Paulo, tendo por patrono Álvaro Guimarães Filho (1901-1981).
Saul Goldenberg ingressou como membro titular da Academia de Medicina de São Paulo, em 8/2/1960.
Saul Cypel é o segundo ocupante da cadeira no 125 da Academia de Medicina de São Paulo, tendo por patrono José Ória (1905-1948).
RN: Recém-nascido.