Ignácio Emílio Achiles Betholdi
Ignácio Emílio Achiles Betholdi , mais conhecido por Ignácio Achiles Betholdi, ou simplesmente Ignácio Betholdi, nasceu em Milão, Itália, em 1810, tendo por pais o casal Luiz e Carolina Betholdi.
Fez seus primeiros estudos em medicina na cidade de Bolonha – maior cidade da região da Emília-Romana – graduando-se, entretanto, pela Universidade Imperial e Real de Pávia.
Emigrou, juntamente com os seus pais, para o Brasil, aproximadamente em 1831, em consequência da insurreição contra o governo pontifício naqueles tempos conturbados. Residiu inicialmente no estado de Santa Catarina; subsequentemente no Rio de Janeiro, em São Paulo e na cidade de Campinas (SP), onde clinicou durante muitos anos.
Em Campinas há evidências de que esteve a partir de 1853, residindo até aproximadamente 1859, à Rua de Baixo (Rua Lusitana). Foi companheiro do médico português André Brás Chalreu e, mais tarde, por motivos ignorados, tornou-se inimigo do dr. Bernardino José de Campos, pai do futuro presidente do estado de São Paulo.
Ignácio Betholdi foi um carbonário e um dos introdutores da Maçonaria no Brasil. Sonhou e lutou pela democracia, assim como trabalhou pela campanha antiescravagista. Era um livre pensador, manifestando-se em numerosos escritos, muitos deles reunidos em folhetos paginados que exprimiam suas polêmicas de índole filosófica. Foi colaborador do semanário “Aurora Campineira”, periódico lançado em 4 de abril de 1858, pelos irmãos João e Francisco Teodoro de Siqueira. Conservou até a morte sua brilhante inteligência e invejável força física. Mesmo septuagenário era um lutador intrépido, com muita vivacidade.
Duílio Crispim Farina , seu biógrafo, refere que o visconde de Taunay em sua obra “Estrangeiros Ilustres e Prestimosos no Brasil”, registrou ser Ignácio Aquiles Betholdi “um homem de grande inteligência, mas de ideias e teorias violentas; clínico em Campinas e depois em São Paulo, onde se notabilizou pela campanha em prol da hospitalização dos leprosos. Liberal convicto, extremado, combativo, polemista, tomava posições e as sustentava com o arroubo de suas ações num proselitismo audaz, com gestos muitas vezes extremados, barricadas cívicas por melhores tempos, dias de esperança e certeza pela lei e o direito”.
O ilustre intelectual carioca Salvador de Mendonça , referia que Ignácio Betholdi era uma segunda edição correta e aumentada de Libero Badaró .
Franco Cenni, autor da obra “Italianos no Brasil”, refere que foi durante uma comemoração da morte de Vitório Emanuel II que nasceu a ideia de se fundar uma associação beneficente, cujo fim seria a construção e a manutenção de um hospital. Reunidos em assembleia, aos 20 de janeiro de 1878, consignou que “surgia no crepúsculo do Império uma das mais vigorosas sociedades fundadas pela coletividade italiana no Brasil, a Società Italiana di Beneficenza in San Paolo, tendo como primeiro presidente o dr. Ignácio Betholdi”
Ignácio Betholdi, numa correspondência datada em 14 de dezembro de 1878, ao seu amigo médico, Carlos Engler, responsável por um hospital de recolhimento de leprosos, assim consignou: “Amigo dr. Engler. Vi o seu doente, o Sr. Luis Guerra. Doulhe os parabéns pela cura. Existe um pouco de palidez que ainda indica que o mesmo estivesse morfético; como desejo muito que a cura se sustente, aconselho-o para que dê seu remédio ainda por muito tempo, em dose gradualmente menor. O amigo sabe que as moléstias crônicas sempre tendem a voltar, porque sente-se restando no organismo uma discrasia que só com o largo tempo se desfaz. Até outra. Seu velho amigo, Betholdi.”
Ainda a propósito de outro caso, assim escreveu Ignácio Betholdi a Carlos Engler: “Vi o seu doente, o Sr. J. T., e antes que me apresentasse a carta, reconheci o lázaro e regozijei-me por saber que, enfim, esta moléstia cedera aos esforços da terapêutica que há, que atuam sobre ela com incontestável proveito. Me perguntará o colega: ‘Como o reconheceu depois da cura?’. A pele do rosto era clara, macia e fina; as cartilagens das orelhas desligadas e quem não tem esse olhar perscrutador do físico humano que dá a experiência de muitos anos, não reconhecia a moléstia como se fora. A que sinais se conhece ela? Quase que direi simplesmente: uma sensação indefinível que se experimenta em observar o doente. Procurando-se ver se as sobrancelhas são novas, delgadas e de pelos finos; as orelhas ainda têm um longe de amarelado antigo, o rubor da face não é bem uniforme de ambos os lados. No corpo restam ainda algumas nódoas de cicatrizes. A moléstia sempre deixa sinais, mas os sinais não são moléstia.”
Ignácio Betholdi faleceu em 20 de março de 1886, na cidade de São Paulo, onde clinicava desde janeiro de 1864. Teve um consultório na Rua do Bom Retiro, local distante para a época. De acordo com seu outro biógrafo, Jolumá Brito, Miranda Azevedo , seu ilustre colega de profissão, fez uma oração junto à sua sepultura, “exaltando seu vasto saber e o sentimento humanitário que sempre o distinguiram”. Por sua vez, em seu necrológio publicado na imprensa, o dr. Américo de Campos assim se expressou: “Era um Voltaire encadernado de Golias”.
Em seu testamento legou todos os seus livros ao seu sobrinho, o dr. Luiz Ricardo Betholdi, com a condição de “caso não ter esse destino, esse acervo seria dado à Biblioteca Independência da Loja Maçônica de Campinas”.
Ignácio Emílio Achiles Betholdi é honrado como patrono da cadeira nº 96 da augusta Academia de Medicina de São Paulo e dá nome a uma rua bairro de Vila Dutra, na cidade de Campinas.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
Há citações do nome “Ignácio” sem o “g” (Inácio) e do sobrenome “Betholdi” sem o “h” (Betoldi).
Carbonária era uma sociedade secreta de ideias liberais, derivada da franco-maçonaria, e que surgiu na Itália em princípios do século XIX e à qual pertenciam os carbonários.
Duílio Crispim Farina é o patrono da cadeira nº 78 da Academia de Medicina de São Paulo.
Salvador de Menezes Drummond Furtado de Medonça (1841-1913), fluminense, foi um advogado, jornalista, diplomata e destacado escritor brasileiro; um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e um dos idealizadores do Movimento Republicano no País.
Giovanni Battista Libero Badaró (1798-1830) é o patrono da cadeira nº 60 da Academia de Medicina de São Paulo.
Augusto Cesar de Miranda Azevedo foi membro fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, tendo tido a honra de ter sido seu terceiro presidente num mandato anual entre 1897-1898.