Jacob Renato Woiski
Jacob Renato Woiski, mais conhecido simplesmente por Woiski, nasceu em 8 de novembro de 1911, na cidade de Curitiba. Era filho de Jacob Woiski e Mariana Salvador Woiski.
Graduou-se, em 1933, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, depois denominada Universidade do Brasil – hoje, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
No Rio de Janeiro trabalhou na Policlínica de Botafogo 2 , instituição catalisadora de renomados pediatras, tais como Luiz Pedro Barbosa, Azarias de Andrade Carvalho, Luiz Torres Barbosa, Álvaro Aguiar e Rinaldo de Lamare.
Jacob Woiski dedicou-se à carreira universitária na Escola Paulista de Medicina (EPM), hoje, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), atuando na cadeira de pediatria sob a chefia do professor Pedro de Alcântara.
Fez viagens de estudo, no início de sua carreira, nas décadas de 1940 e 1950, tendo oportunidade de trabalhar com professores importantes como Joseph Stokes da Universidade da Pensilvânia; Paul Gyorgy e Benjamin Krammer nos Estados Unidos, e com Stanley Graham da Universidade de Glasgow, na Escócia.
Com o correr dos anos galgou a condição de chefe de pediatria e professor da Unifesp, permanecendo nessa instituição de ensino até 1954.
Em 1956, já consagrado profissionalmente como pediatra, tornou-se chefe, a convite do professor Zeferino Vaz do recém-inaugurado Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
Nessa ocasião deixou enorme clínica para se dedicar, em tempo integral, ao ensino médico.
Em seu memorial apresentando, em 1966, no concurso para a cátedra de pediatria, em Ribeirão Preto, assim ele relatou o início da vida do departamento: “As possibilidades de espaço eram pequenas, exigindo adaptações e também improvisações. No início do curso, contávamos só com o ambulatório localizado no primeiro prédio onde funcionou a faculdade, na Rua Visconde de Inhaúma, ao lado da catedral, hoje demolido. (…). Em seu início o Departamento recebeu dotação da Fundação Rockefeller dos Estados Unidos, tornando possível a aquisição dos primeiros equipamentos (projetor de slides, craveiras para enfermaria e ambulatório)”.
A alta frequência de desnutrição aguda e crônica das crianças, na década de 1960, tanto nos ambulatórios como nas enfermarias, o levaram, definitivamente, para a área da nutrição e do metabolismo. A tese que apresentou no concurso para a cátedra de pediatria da FMRP-USP foi sobre nutrição e metabolismo.
Jacob Woiski era dotado de personalidade multiforme, volátil e, por vezes, antagônica, sendo considerado pelos seus pares uma pessoa polêmica. Era estudioso e possuidor de grande curiosidade médica; exigente com os outros e consigo mesmo; autoritário, sentimental, iconoclasta e, às vezes, humilde, bem como um trabalhador de muito afinco.
Fabio Leite Vichi, ex-aluno e docente aposentado da FMRP-USP, referiu em artigo que “os alunos das primeiras turmas dessa escola ficaram como que chocados pela sua atuação. Era personalista demais. Aliava essa característica ao imenso carinho que tinha para com os pequenos doentes, não escondendo nunca suas emoções, que iam de gargalhadas a choros incontidos. Era dedicado, muito esforçado e competente, embora de reações imprevistas. A mesma turma que subscreveu uma petição ao diretor, solicitando a sua exoneração – não aceita –, o elegeu paraninfo, aliás, o terceiro da escola”.
Ademais, “foi chefe presente, atuante e, por vezes, irascível. Sua participação universitária ostentou uma resultante muito positiva. Foi admirado por muitos e fez escola. Improvisador, transformava, como exemplo, porões em ambulatórios. Exteriorizava grande insatisfação ante as misérias humanas, no dizer do então diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Era uma pessoa que amava as crianças, as quais, para ele, em geral, eram melhores que os adultos e possuíam direitos que nem sempre eram respeitados”.
Fabio Leite Vichi acrescentou que ele “foi professor e médico portador de muitas lembranças e lendas. Era prático, crítico das ações de outros colegas e muito pouco conciliador”. Woiski também inovou administrativamente. Expandiu a atuação da especialidade, criando a pediatria comunitária e a pediatria rural. Chegou a ser suplente de diretor na FMRP-USP, e também diretor do Hospital das Clínicas. No final da década de 1960, mais precisamente em 1968, Woiski, depois de entendimentos com o dr. Orlando Ometto, diretor presidente da Usina São Martinho de Açúcar e Álcool do Município de Pradópolis, instalou um ambulatório de pediatria na usina, dando ênfase à puericultura. Quando surgiu a primeira vacina contra o sarampo, o Laboratório Wellcome, da Inglaterra, doou um lote de vacinas ao departamento e cerca de 400 crianças foram vacinadas na usina. Em 1969, após entendimento com o então secretário de saúde da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto, dr. Antônio Duarte Nogueira, ex-aluno da faculdade, Woiski obteve o importante apoio do prefeito municipal de Ribeirão Preto, dr. Welson Gasparini, na construção de um centro médico em bairro carente da cidade.
Assim foi construído e equipado pela prefeitura o Centro Médico Social Comunitário de Vila Lobato, com a aprovação da Faculdade de Medicina e do Hospital das Clínicas, que se tornaram referência para o novo centro. Também depois de entendimentos com a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto, instalou o Pronto-Socorro Infantil com atendimento ambulatorial e internação.
Ainda no decorrer de 1969, outro entendimento importante para o ensino, pesquisa e assistência em pediatria foi realizado pelo professor Woiski com a Josiah Macy Jr. Foundation de Nova Iorque, para desenvolver programa de pediatria social. Com esse programa, o departamento passou a oferecer estágio a médicos recémformados em escolas do Norte e Nordeste do país, mas, logo depois, estendeu-se, também, a médicos formados em escolas do Sul.
José Romano Santoro, ex-docente da FMRP-USP, refere que Woiski “sempre se dedicou à pediatria geral e à puericultura. Seu interesse indisfarçável pela clínica pode ser destacado por quadro muito comum dentro do hospital: o de sempre estar nas enfermarias e nos ambulatórios com seu estetoscópio na mão, pronto para auscultar uma criança”.
Assim José Romano Santoro resumiu as qualidades do professor Woiski: “espontaneidade em suas atitudes; clareza no agir e no pensar; enérgico e não admitia certas falhas; confiava nas pessoas, indistintamente; fazia-se presente, participando da vida acadêmica, e era emotivo”.
Em 1983, ao ensejo dos 50 anos de sua formatura pala Faculdade de Medicina da Praia Vermelha do Rio de Janeiro, Woiski foi homenageado pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.
Quando se aposentou na FMRP-USP retornou a São Paulo e, em 1971, assumiu a cadeira do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSC-SP), onde permaneceu até 19784 , tendo sedimentado noções de puericultura e dietética, bem como publicado dois livros sobre nutrição infantil. Nessa instituição de ensino tornou-se o segundo diretor, sucedendo o cirurgião Emilio Athiê, fundador da FCMSC-SP. Posteriormente, foi também por pouco tempo, professor de pediatria da Faculdade de Medicina de Taubaté.
Jacob Woiski foi membro da American Academy of Pediatrics e, nos anos de 1980, atuou representando o Brasil como district chairmen. Publicou os seguintes livros: O Grande Livro das Mães (1980); Dietética Pediátrica (1981); Nutrição e Dietética em Pediatria (3ª edição 1988 e 4a edição 1994) e Livro para os Pais (1995, em coautoria com J. V. Castro Moura).
Assim se expressou Jacques Crespin, segundo ocupante da cadeira nº 37 da Academia de Medicina de São Paulo, que com ele conviveu como aluno: “Woiski, chefe de clínica na EPM, foi um grande pediatra e puericultor; polêmico e emocional, não era de trato fácil, mas foi possível manter com ele excelente relacionamento e até amizade. Deixou a EPM e a enorme clínica particular que granjeou e mudou-se para Ribeirão Preto, onde regeu, durante anos, o Departamento de Pediatria da recém-inaugurada faculdade, com excelente equipe de dedicação integral. Vítima da doença de Alzheimer, foi uma enorme tristeza visitá-lo e constatar suas condições.”
Jacob Renato Woiski faleceu em setembro de 2003, com 91 anos. Seu nome é honrado como patrono da cadeira no 20 da augusta Academia de Medicina de São Paulo e como patrono da cadeira nº 12 da Academia Paranaense de Pediatria. Dá também nome a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no bairro Jardim João Rossi, na cidade de Ribeirão Preto.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
As fotos e parte do material aqui consignado foram obtidas do Museu Histórico “Professor Dr. Wladimir da Prússia Gomez Ferraz” do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da Unifesp – Universidade Federal de São Paulo.
A Policlínica de Botafogo albergou, na década de 1930, a cátedra de pediatria da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, vínculo mantido até 1940.
Zeferino Vaz é o patrono da cadeira nº 84 da Academia de Medicina de São Paulo.
A chefia de pediatria até a nomeação, em 1971, do professor Renato Jacob Woiski, foi assumida provisoriamente pela dra. Maria Vitória Martin.