Jair Xavier Guimarães
Jair Xavier Guimarães nasceu em 1918, em Pindamonhangaba (SP), no Vale do Paraíba, e sua família era de Cachoeira Paulista. Seu pai era farmacêutico, mas faleceu com 37 anos. Teve cinco irmãos: três farmacêuticos, uma pianista e outra professora, como sua mãe.
Cursou o primário em sua cidade natal, no colégio salesiano Liceu Coração de Jesus, auferindo uma sólida educação católica. Ingressou no ginásio com apenas 9 anos. Inicialmente teve intenção de estudar farmácia, mas prestou vestibular para a Faculdade de Medicina com 15 anos, ficando como excedente. Assim se referiu a esse episódio: “Fizemos vestibular para a única Faculdade de Medicina de São Paulo e, naquele ano, havia 70 vagas. Fiquei no septuagésimo lugar empatado com outros três candidatos e, numa decisão que considero justa, escolheram o mais velho. Acabei não entrando por ser mais moço. Ainda bem! Foi assim que cheguei aqui. Bom destino!”
Assim que foi inaugurada a Escola Paulista de Medicina (EPM) prestou vestibular e foi aprovado, sendo aluno da primeira turma. São suas palavras: “Então, em 23 de março de 1933, em ata manuscrita pelo dr. Octavio, foi fundada a EPM. Nela assinaram os futuros professores e alguns dos futuros alunos: minha assinatura está lá. Foi feito um novo vestibular e os professores se comprometeram a ensinar gratuitamente, além de entrarem com cinco contos de réis para que a Escola pudesse funcionar. Veja o que é idealismo! Passou a terem salário só depois; e eu já era assistente. Às vezes, o reitor ficava seis meses sem pagar e nos chamava no Leitão da Cunha. E perdoávamos a dívida…”
“Teve a aula inaugural no dia 15 de junho de 1933 pelo professor dr. Pacheco e Silva. A Escola ficava na Rua Oscar Porto e no andar térreo tinha a sala de aula e no subsolo o pavilhão da anatomia. Para não perdermos o ano, nós não tivemos férias e ainda tínhamos aula à noite de anatomia; os cadáveres eram puxados com correntes para serem postos nas mesas. Com a fundação, a comunidade catedrática reagiu violentamente contrária a abertura da EPM. Isso, aliado à influência política que eles tinham, fez com que a Escola só tivesse o reconhecimento oficial do Ministério da Educação quando estávamos no sexto ano. Apelidaram-nos ‘A Escolinha’ durante muitos anos, mas para nós era um apelido carinhoso.”
Jair Guimarães fez parte do Centro Acadêmico Pereira Barreto desde a sua fundação em 1933. Era sócio do Tênis Clube São Paulo, sendo nomeado diretor da natação, pois conseguia que os treinos lá ocorressem. Também participou da fundação do Departamento de Cultura Científica em 1936, que promovia mesas-redondas e congressos para alunos.
Dedicou-se a doenças infecciosas e já enquanto acadêmico frequentava o Salvamento, hoje Hospital Emílio Ribas.
Após sua formatura, por interferência de Assis Chateaubriand, dono do Jornal da Noite, conseguiu uma bolsa de estudos com o fundador da EPM, Otávio de Carvalho, o que fez com que permanecesse em São Paulo.
Ingressou na Associação Paulista de Medicina em 1939, à época, pequena, sendo sócio número 380.
Em 1942, em função de suas boas notas como aluno, foi convidado por Luis Pereira Barreto, professor e um dos fundadores da EPM, a se tornar seu assistente, começando a lecionar doenças infecciosas. Mesmo sendo jovem granjeou respeito de seus alunos, apesar de se considerar rígido. Luis Pereira Barreto aposentou-se em 1965 e Jair Xavier Guimarães tornou-se professor titular da disciplina de moléstias infecciosas e parasitárias em 1976, permanecendo no cargo até 1986. Assim, teve a honra de ocupar o cargo do neto do renomado médico, cirurgião e sanitarista que deu nome ao Centro Acadêmico da EPM.
Jair Xavier Guimarães foi integrante como secretário-geral da primeira diretoria do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, entre 1954 e 1959. Era portador da carteira com o registro no 3. Assim disse certa feita com orgulho: “Veja aqui os carimbos nas folhas internas, comprovando que votei nas eleições do Conselho. Esse documento já valia como carteira de identidade e tinha fé pública, como hoje”.
Jair Xavier Guimarães ingressou na Academia de Medicina de São Paulo em 1966, permanecendo nesse sodalício como membro titular e emérito por 42 anos.
Foi eleito duas vezes pela congregação para diretor da EPM, mas só assumiu o cargo uma vez, constituindo-se no primeiro caso da instituição. Foi dele a tentativa de federalização da faculdade, tendo em vista as dificuldades econômicas que sempre estiveram presentes. A primeira vez que foi eleito diretor ocorreu em 1974, mas seu nome foi recusado em Brasília em virtude da vigência da ditadura militar. Foi eleito pela segunda vez em 1978, mas levou meses para ser nomeado em virtude da política reinante. Juntamente com a função de diretor assumiu a presidência da Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) que era a mantenedora do hospital, e também a direção do Hospital São Paulo.
Enquanto diretor (1978-1982) conseguiu um espaço para 22 leitos dedicados a moléstias infecciosas, medida que não somente trouxe a disciplina para dentro EPM, como também foi decisiva para que ela progredisse com a pós-graduação.
São suas palavras: “Considero a Escola Paulista de Medicina minha casa. (…). Sempre defendi na Escola a manutenção de nossas origens, desde o começo, e procurei passar para meus alunos os preceitos que recebi dos professores fundadores, que era trabalho honesto, trabalho desinteressado e amor à Escola… Sempre procurei deixar essa marca na Escola; e existe isso nela até hoje… Infelizmente, hoje já se foram os que lutaram junto comigo por esse ideal, mas sigo lutando… (…). Luto para que aquele preceito cultural e científico continue, porque não há qualquer instituição que sobreviva, se sustente, sem esses preceitos… Isso não é discurso, é sentimento…”
Jairo Xavier Guimarães presidiu em 23 de agosto de 1971 a Assembleia Geral de Constituição da Unimed Brasil. Fez perícias médicas fora do ambiente universitário e exerceu vários cargos na Associação Paulista de Medicina e na Associação Médica Brasileira, na qual, na condição de vice-presidente presidiu-a interinamente por um período, em virtude do licenciamento do presidente por ter sofrido enfarte do miocárdio (1963-1965).
Foi casado durante 57 anos e assim falou da importância de sua esposa: “Era ela quem unia a família; como médico nunca tive muito tempo para a família…”
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.