João Mendonça Cortez
João Areosa D’Oliveira Mendonça Cortez, mais conhecido por João Mendonça Cortez, nasceu aos 22 de outubro de 1896, na cidade portuguesa de Coimbra, tendo sido naturalizado brasileiro. Era filho de João Gomes D’Oliveira Mendonça Cortes e de Sarah Areosa Mendonça Cortes.
Concluiu com classificação ótima, aos nove anos, a instrução primaria do 2º grau em sua cidade natal. Emigrou, em seguida, com seus pais para o Brasil, estabelecendo-se em Santos, onde finalizou em março de 1909, o 2º grau no Ginásio Santista, destacando-se particularmente nas disciplinas de português, francês e inglês.
Mudou-se com sua família em abril de 1909 para Sorocaba, onde cursou o Ginásio Sorocabano, e sobressaindo-se uma vez mais nos conhecimentos de idiomas.
Com apenas 17 anos diplomou-se pela Escola de Farmácia de São Paulo, em 1913. Trabalhou na Farmácia Cintra, na Consolação, ao lado de seu pai, e decidiu ser médico.
Graduou-se em 1923, com 27 anos, na sexta turma da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, que, em 1925 teve seu nome trocado para Faculdade de Medicina de São Paulo e, em 1934, para Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Como conclusão de curso apresentou a tese Das Uricemias Contribuição ao seu Estudo (1924), obtendo a nota mais alta que a instituição concedia.
João Mendonça Cortez foi contemporâneo de turma de colegas que se tornariam expoentes na medicina paulista, tais como Jairo de Almeida Ramos, Alípio Corrêa Netto, Adherbal Pinheiro Machado Tolosa e Matheus Santamaria , dentre outros.
Terminado o curso médico passou a trabalhar como clínico no velho Hospital São Joaquim da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficência de São Paulo (HSJ – RBSPB – SP), e assumindo também a direção do seu laboratório de análises, à Rua Direita, juntamente com Aristides Guimarães e Oscar Monteiro de Barros.
Em 1928, já com grande tirocínio e fama, tinha conquistado a condição de subchefe de clínica do HSJ – RBSPB – SP . Dedicou-se a esse nosocômio boa parte de sua vida profissional, onde galgou a condição de chefe clínico em 1935, dada à sua extrema dedicação aos doentes e à sua privilegiada inteligência. Aí, em 1940, constituiu-se ao lado de Adhemar Nobre, Eurico Branco Ribeiro , Jayme Rodrigues e Ney Penteado de Castro, redator da revista “Seara Médica”, órgão da Sociedade dos Médicos da Beneficência Portuguesa, fundada nesse mesmo ano por Juvenal da Silva Marques.
João Mendonça Cortez foi ao seu tempo um clínico excepcional, comparado a outros grandes nomes da medicina paulista como Diogo de Faria, Celestino Bourroul, Rubião Meira, Pinheiro Cintra, Eduardo Monteiro, Bernardino Tranchesi, Oscar Monteiro de Barros dentre outros.
Em 1935 foi eleito presidente do Departamento de Medicina da Associação Paulista de Medicina (APM). Aí participou de seminários15 e presidiu várias sessões de medicina16. Ocupou por diversas vezes a presidência da Sociedade dos Médicos da Beneficência Portuguesa de São Paulo e foi por muitos anos diretor clínico da antiga Caixa de Aposentadoria e Pensões da Estrada de Ferro Sorocabana.
Segundo Jayme Rodrigues, que lhe dedicou um necrológio, “João Mendonça Cortez era profundo conhecedor de língua portuguesa. Dono de uma capacidade didática excepcional, suas conferências despertavam o mais vivo interesse. Possuidor de ótima dicção, aliada a raros dotes de oratória, como por exemplo, o demonstrou ao saudar em nome da Beneficência o cardeal Cerejeira, Patriarca de Lisboa”.
Também foi palestrante em fóruns, tendo como alguns exemplos de suas apresentações: “Um Caso de Malária Quartã. Acidentes Transfusionais” e “Classificação das Leucemias. Indicações e Resultados das Quimioterapias nas Leucemias” .
João Mendonça Cortez escreveu numerosos artigos, quer em parceria com Aristides Guimarães, quer sozinho, tendo como ilustrações: “Dietética nas Moléstias Hepatobiliares”; “Disenteria Bacilar”; “Pereirina e Plasmódios”; “A Bilirrubinemia Normal e Patológica. Método de Determinação. Valor Clínico”; “Pneumococos e Processos Infecciosos das Vias Biliares”; “Cloropenia e Cloropexia. Valor Interpretativo Prático da Cloremia”; “Conceito Hodierno da Insuficiência Hepática”; “O Coeficiente de Weltmann nas Icterícias”; e “Icterícias por Coléstase e Icterícia por Hepatite. Diagnóstico”, dentre outros. É de sua lavra o livro Icterícias em coautoria com seu assistente e amigo João Manoel Rossi. João Mendonça Cortez ingressou na Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo em 24 de maio de 1933, permanecendo nesse silogeu por 45 anos incompletos (!) e de onde também recebeu o título de membro emérito. Atuou em diversos cargos, tais como: presidente da Secção de Ciências Aplicadas à Medicina, na gestão de Eurico Branco Ribeiro (1954-1955)19, em cujo mandato teve o nome da entidade modificado para Academia de Medicina de São Paulo; vice-presidente na gestão de Mário Ramos de Oliveira (1957-1958)20; 56º presidente desse sodalício (cinco lustros após o seu ingresso) num mandato anual entre 1958-1959; e na gestão de Carlos da Silva Lacaz (1962-1963) fez parte da Comissão de Patrimônio.
Teve sua inscrição de número 1.349 efetivada no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) em 14 de março de 1957, na especialidade de moléstia interna. A propósito, foi também membro efetivo do Cremesp na gestão de Flamínio Fávero (1959-1953) .
Jayme Rodrigues referiu que “a moléstia que iria vitimar João Mendonça Cortez o apanhou em seu apogeu, quando desfrutava do mais alto prestígio no meio médico paulista, afastando-o por 14 anos até sua morte de sua amada medicina”.
Com o avançar da idade, João Mendonça Cortez tornou-se inativo no Cremesp em 12 de agosto de 1970. Faleceu na cidade de São Paulo em 21 de fevereiro de 1978, aos 81 anos, sendo enterrado no Cemitério São Paulo. Sua missa de 30º dia foi celebrada na capela do Hospital da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência, no dia 22 de março de 197826 .
Foi casado com Ana Clara da Cunha Bueno Mendonça Cortez, falecida aos 93 anos e enterrada no Cemitério São Paulo. Deixou filhos e netos. Teve um filho médico chamado João Amador Mendonça Cortez, que também trabalhou no HJS – RBSPB – SP.
Seu nome é honrado na Biblioteca Médica “João Mendonça Cortez” do HJS – RBSPB – SP, inaugurada em abril de 1976, portanto, homenagem essa recebida em vida!
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
A foto inicial e alguns dos dados aqui consignados foram obtidos na biblioteca “João Mendonça Cortez” do Hospital São Joaquim da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência, com a bibliotecária Elisandra Jacqueline Alfano Ribeiro nos Anais Paulistas de Medicina e Cirurgia 105 (1): 107-109, 1978.
Jairo de Almeida Ramos foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1939-1940, e é o patrono da cadeira nº 75 desse sodalício.
Alípio Corrêa Netto foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1947-1948, e é o patrono da cadeira nº 12 desse sodalício.
Adherbal Pinheiro Machado Tolosa foi presidente da Academia de Medicina de São Paulo durante um mandato anual entre 1960-1961, e é o patrono da cadeira nº 25 desse sodalício.
Matheus Santamaria foi um renomado urologista paulista.
Oscar Monteiro de Barros foi presidente da Academia de Medicina de São Paulo durante um mandato anual entre 1956-1957, e é o patrono da cadeira nº 69 desse sodalício.
O Estado de S. Paulo – edição de 2 de dezembro de 1928, página 17.
Eurico Branco Ribeiro foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1954-1955, e é o patrono da cadeira nº 114 desse sodalício.
Jayme Rodrigues foi o grande protagonista e primeiro diretor (1968-1973) da Faculdade de Medicina de Jundiaí.
A Sociedade dos Médicos da Beneficência Portuguesa de São Paulo foi fundada em 2 de agosto de 1932, tendo sido seu primeiro presidente José Barbosa de Barros.
Diogo Teixeira de Faria foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1904-1905, e é o patrono da cadeira nº 58 desse sodalício.
Celestino Bourroul foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante dois mandatos anuais entre 1917-1918 e 1938-1939, e é o patrono da cadeira nº 38 desse sodalício.
Domingos Rubião Alves Meira foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante meio mandato anual entre 1905-1906 e um mandato anual entre 1911-1912, e é o patrono da cadeira nº 51 desse sodalício.
Eduardo Monteiro foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1945-1946.
Como ilustração cita-se o Seminário sobre Eletrocardiografia realizado pela Academia de Medicina de São Paulo. In: O Estado de S. Paulo – edição de 14 de setembro de 1958, página 22.
O Estado de S. Paulo – edição de 6 de dezembro de 1935, página 4.
O Estado de S. Paulo – edição de 7 de de maio de 1953, página 4.
O Estado de S. Paulo – edição de 14 de setembro de 1954, página 10.
O Estado de S. Paulo – edição de 10 de março de 1954, página 4.
O Estado de S. Paulo – edição de 8 de março de 1957, página 8.
Carlos da Silva Lacaz é o patrono da cadeira nº 53 da Academia de Medicina de São Paulo.
O Estado de S. Paulo – edição de 13 de março de 1962, página 14.
O Estado de S. Paulo – edição de 29 de maio de 1959, página 9.
Flamínio Fávero foi o primeiro presidente do Cremesp, fundado, em 1954, como Conselho Provisório de Medicina. Com a Lei 3.268/57, embora a entidade perdesse o caráter provisório, ele continuou como presidente na gestão inicial de 1959-1963. Flamínio Fávero foi também presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, num mandato anual entre 1937-1938, e é o patrono da cadeira nº 10 desse sodalício.
O Estado de S. Paulo – edição de 22 de fevereiro de 1978, página 30.
O Estado de São Paulo – edição de 21 de março de 1978, página 42.
O Estado de S. Paulo – edição de 17 de junho de 1997, página 27.
Graduado em 1955 pela Escola Paulista de Medicina (EPM), hoje, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).