João Paulo da Cruz Britto
João Paulo da Cruz Britto nasceu em Caxias, estado do Maranhão, em 26 de março de 1880. Foram seus pais, o médico, João Paulo da Cruz Britto e Veneranda da Cruz Britto.
Passou em sua cidade natal os primeiros cinco anos. Mudou-se então com a família para Recife, onde seu pai exercia a obstetrícia. Guardava alegres lembranças de Olinda, com suas ruas tortuosas, seus sobrado e
imponentes mosteiros.
Aos 14 anos foi enviado à Europa, havendo estudado na Suíça durante dois anos, no Instituto Minerva, em Zurique. A seguir passou para o Ginásio Landshut, na Baviera, onde desenvolveu o gosto pela matemática e a astronomia. Posteriormente estudou na Tau-Y-Brim School, no País de Gales, diplomando-se pela Universidade de Oxford, em 1899.
Regressou ao Brasil após cinco anos. Iniciou o curso médico em 1901, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Era aluno distinto; seus colegas se recordavam dele, caracterizando-o pela extrema modéstia, bem como pela profunda eficiência na dedicação ao currículo escolar. Desde o 4º ano frequentou a clínica oftalmológica dirigida pelo professor Abreu Fialho.
Formado, dirigiu-se novamente à Europa, trabalhando com o professor Ernst Puchs, na Universidade de Viena, onde permaneceu dois anos. A seguir permaneceu durante um ano com os professores Adams e Stickler, em Berlim. Completou sua formação no Moorfields Eye Hospital, em Londres.
Voltando ao Brasil passou a clinicar em São Paulo. Convidado pelo professor Arnaldo Vieira de Carvalho – fundador e primeiro diretor da Faculdade de Medicina – tornou-se o primeiro catedrático de clínica oftalmológica, em 1916. A faculdade funcionava na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e suas instalações foram completamente remodeladas pelo professor João Britto. Voltou à Europa para adquirir aparelhagem mais moderna para a nova clínica que se constituiu no berço da oftalmologia paulista.
As preleções de João Britto se caracterizavam pela clareza na exposição, denotando profundo conhecimento dos temas abordados. A par do curso de graduação ministrava outros que eram abertos a oftalmologistas, os quais, estando desligados da faculdade, exerciam suas clínicas particulares e estavam desejosos de atualização através de sua cultura médica especializada.
Em março de 1947 a clínica oftalmológica mudou-se da enfermaria Santo Antônio da Santa Casa de Misericórdia para o Hospital das Clínicas. Nova aparelhagem foi adquirida nos Estados Unidos da América
foram criados os serviços de neuro-oftalmologia, motilidade extrínseca, glaucoma, estrabismo e anatomia patológica.
Durante 34 anos de exercício em sua clínica particular, João Britto tirou férias por apenas duas vezes. Dedicava a semana aos seus alunos e pacientes; os domingos eram inteiramente reservados à família, quase sempre usufruídos na sua chácara em Santo Amaro. A propósito, dizia: “Dedico seis dias aos clientes e o domingo é o dia dos meus“.
Na intimidade de seu lar não gostava que fossem abordados dois temas: medicina e política. Considerava que o primeiro era assunto para as enfermarias e, o segundo, competia aos partidos.
O professor João Paulo da Cruz Britto faleceu em 8 de novembro 1947, aos 67 anos, no Hospital das Clínicas, exercendo seu trabalho rotineiro, pouco desfrutando das novas instalações. Nos 31 anos à frente da clínica oftalmológica formou inúmeros oftalmologistas e professores, que o sucederam ao longo dos vários lustros.
Legou um magnífico exemplo de cidadão, chefe de família, profissional responsável, dedicação a seus pacientes, pesquisador, professor e chefe de escola.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Jorge Alberto Fonseca Caldeira, Titular e Emérito da cadeira nº 27 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de João Paulo da Cruz Britto.
Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
Durante esse período foram seus assistentes junto à cátedra os doutores Pereira Gomes, Moacyr Álvaro, Jacques Tupinambá, Cyro de Rezende, Rogério Marcos da Silva, Durval Prado, Plínio de Toledo Piza, Paulo Braga de Magalhães, Sampaio Doria e Jorge Wilmersdorf, sendo Paulo Ferraz da Costa Aguiar o mais antigo.
Seu discípulo, Sylvio de Toledo, assim se referiu ao professor João Britto, em 1956: (…) “Tinha para com seus doentes e discípulos uma relação de sincera humildade. A bondade e a modéstia foram traços marcantes de sua personalidade. (…) Nós, como ex-alunos e colaboradores, pudemos vislumbrar no Mestre a busca do contínuo aperfeiçoamento; a constante dedicação a seus pacientes, alunos e assistentes; o afeto a seus entes queridos…”
Contudo, não se furtava de se interessar pelos destinos da pátria. Participou da Revolução Constitucionalista de 1932, prestando serviço na Cruz Vermelha.