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Biografia

João Vicente Torres Homem

João Vicente Torres Homem, ou barão de Torres Homem, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 23 de novembro de 1837. Era um dos sete filhos do médico e professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, dr. Joaquim Vicente Torres Homem, e de Bernarda Angélica dos Santos Torres . 

Seu pai ingressou em 24 de julho de 1830 na Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro; posteriormente Academia Imperial de Medicina e, hoje, Academia Nacional de Medicina, presidindo a instituição no quarto trimestre de 1932. 

João Vicente Torres Homem terminou seus estudos secundários em colégios particulares em 1852, e matriculou-se logo no ano seguinte na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde foi aluno de seu pai, Joaquim Vicente Torres Homem, então professor da cadeira de química mineral e mineralogia. Doutorou-se em medicina em 25 de novembro de 1858, pouco antes do falecimento de seu pai, apresentando, nesta ocasião, a tese intitulada Água, Quais os Corpos que a Tornam Impura e a Maneira de Reconhecer Estes Corpos; Dos Sinais Racionais da Prenhez e seu Valor Relativo; Hemoptises: Suas Causas, Sinais, Diagnóstico, Prognóstico e Tratamento; Raiva ou Hidrofobia.

Ainda como acadêmico foi discípulo de Manoel de Valladão Pimentel, barão de Petrópolis, amigo de seu pai e eminente professor de clínica médica, com quem viria trabalhar em 1858 na enfermaria de Nossa Senhora da Conceição. Nesse mesmo ano foi interno-residente no Hospital Militar da Guarnição da Corte. 

Logo após sua formatura, João Vicente Torres Homem iniciou-se na prática da medicina, clinicando no consultório que seu pai lhe deixara, na Rua do Rosário no 47 – 2 o andar, sendo um dos mais prestigiados na cidade. 

No ano de 1860 concorreu ao lugar de opositor da secção de ciências médicas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, sendo aprovado com a apresentação da Dissertação sobre a Coqueluche, e nomeado em 4 de julho daquele ano. 

Em 1865 se inscreveu para novo concurso para o lugar de lente da cadeira de higiene e história da medicina, apresentando a tese intitulada Do Aclimatamento, porém, o primeiro lugar foi conferido a Antonio Correia de Souza Costa. 

João Vicente Torres Homem foi médico adjunto no Hospital Geral da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro de 1860 até 1877, quando passou a ser facultativo clínico da secção médica, função exercida até seu falecimento em 1887. Em 1861 tornou-se chefe da clínica interna e, em 1864, foi novamente chefe de clínica. 

Em 1862, com Matheus Alves de Andrade, Antonio Correia de Souza Costa e Francisco Pinheiro Guimarães, fundou a Gazeta Médica do Rio de Janeiro, que é considerado o primeiro periódico médico não oficial, ou seja, não vinculado à Academia Imperial de Medicina, conseguindo-se manter de forma regular por um bom período.

João Vicente Torres Homem foi redator e colaborador do periódico, tendo apresentado como artigo de estreia um texto crítico intitulado “O Relatório do Gabinete Estatístico Médico-Cirúgico do Hospital Geral da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro e das Enfermarias Públicas”. 

Ainda escreveu dezenas de artigos em vários outros periódicos médicos, tais como: Revista Médica Fluminense, Annaes Brasilienses de Medicina, Revista do Ateneu Acadêmico, Archivo de Medicina Brasileira, Progresso Médico, Gazeta dos Hospitais, União Acadêmica, Revista dos Cursos Teóricos e Práticos da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e Brasil Médico. 

Ingressou como membro titular da Academia Imperial de Medicina 7 de dezembro de 1863, com a apresentação da memória intitulada Que Papel Representa o Baço na Economia Animal?, sendo recebido solenemente por Vicente Cândido Figueira de Sabóia e Nicolau Joaquim Moreira. Participou ainda de outras importantes sociedades científicas, nacionais e estrangeiras, como a Real Academia das Ciências de Lisboa e a Sociedade de Higiene de Paris, entre outras. 

Em 1866, candidatou-se à cadeira de clínica interna da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em cujo concurso também participaram Luiz Pientzenauer e José Joaquim da Silva. João Vicente Torres Homem apresentou a dissertação intitulada Das Sangrias em Geral e em Particular na Pneumonia e na Apoplexia Cerebral; e Três Proposições sobre cada Matéria do Curso Médico, sendo nomeado catedrático. 

Na arte de ensinar, Torres Homem foi professor incomparável. Era no dizer de Armando Valente Júnior “vigoroso e preciso nas suas exposições. Meticuloso no exame dos doentes; possuía senso clínico apurado e pronto raciocínio.” 

João Vicente Torres Homem clinicou desde 1863 até seu falecimento na Casa de Saúde de Nossa Senhora da Ajuda, uma das mais conhecidas do Rio de Janeiro no período imperial. Clinicou ainda na Casa de Saúde de São Sebastião e foi também médico consultante da Casa de Saúde de Santa Teresa. 

Teve como famosos discípulos – seus alunos na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro – Francisco de Castro, Francisco de Paula Fajardo, João Carlos Teixeira Brandão e Miguel de Oliveira Couto. 

Durante sua carreira destacou-se também na área de higiene pública, sendo reconhecido como higienista. Estudou as febres endêmicas e epidêmicas que assolavam todo o Império, assinalando a existência da esteatose do fígado na febre amarela; a vigência clínica do reumatismo sob a forma visceral; e o enfarte do miocárdio, tratando ainda da morte súbita. 

João Vicente Torres Homem tinha grande cultura médica, abordando desde higiene até pediatria. Publicou em 1877 a obra Estudo Clínico Sobre as Febres do Rio de Janeiro, adotada amplamente na época, apresentando de forma discriminada e individualizada a febre tifoide e a febre amarela. 

Em 1882 publicou o primeiro volume de Lições de Clínica Médica, onde descreveu minuciosamente as afecções do aparelho respiratório, tais como pneumonia, asma, enfisema pulmonar, pleuris, gangrena do pulmão e tuberculose. No segundo volume dessa obra, publicado em 1883, apresentou capítulos referentes ao aparelho circulatório; às doenças orgânicas do coração: pericardite, sínfise do pericárdio, lesões aórticas, nevrose cardíaca e angina do peito. Ele surpreendeu ao tratar da morte súbita na referência à isquemia do coração por obliteração das artérias coronárias. Consignou também assuntos variados de medicina interna, assim como capítulos “Reumatismo Articular” e “Reumatismo Visceral”, onde descreveu de forma pormenorizada as formas de reumatismo, sua sintomatologia e terapêuticas. Demonstrou igualmente nesse volume seu interesse pelo comprometimento musculoesquelético em outras patologias. A publicação do terceiro volume se deu após seu falecimento, e por empenho de seu discípulo e assistente, Francisco de Castro, que assim se referiu a essa obra: “Em Lições de Clínica Médica se pode auferir a latitude excepcional daquele espírito que ficará como exemplo de um dos mais acabados tipos de adaptação providencial do indivíduo à sua vocação”. 

Em 1878 publicou Lições Sobre as Moléstias do Sistema Nervoso. 

Presidiu, no ano de 1881, uma comissão instituída pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro que deu voto contrário à criação de duas cadeiras – clínica e matéria médica homeopáticas – por entender que a homeopatia não era um sistema médico científico. 

João Vicente Torres Homem destacou a patologia celular, fundamentando-se nas bases científicas da obra de Rudolf Ludwig Karl Virchow (1821-1902). Para ele, “com a descoberta da anatomia patológica, a ciência do diagnóstico, com passos de gigantes, fez progressos incalculáveis.” 

Foi agraciado com os títulos de Dignatário da Ordem da Rosa e de Barão de Torres Homem, esse, em 14 de julho de 1887. Foi membro do Conselho do Imperador e Grande do Império. 

Torres Homem conservou-se sempre fiel ao princípio hipocrático de que o objetivo maior da medicina é a cura ou o alívio dos sintomas. No dizer do grande clínico e professor paulista, Antonio de Almeida Prado, ele “foi o médico por excelência; o maior médico do Brasil de todos os tempos”. 

João Vicente Torres Homem faleceu no Rio de Janeiro, em 4 de novembro de 1887, contando com 50 anos. É honrado como patrono da cadeira nº 8 da Secção de Medicina da Academia Nacional de Medicina, e patrono da Academia Brasileira de Reumatologia, fundada em 15 de outubro de 1981.

NOTAS: 

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Era neto por parte paterna de Vicente de Torres Homem e de Francisca Gomes Moreira, e por parte materna de João Lopes dos Santos e Angélica Teodora dos Santos, e sobrinho de Francisco de Salles Torres Homem (Visconde de Inhomirim), figura destacada no cenário da política no Império brasileiro.