José Barros Magaldi
Jose Barros Magaldi nasceu em 23 de maio de 1913, em Tatuí (SP). Era filho de Antonio Magaldi e de Marieta Barros Magaldi. Graduou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP, Figura 1), em 1937, instituição na qual se dedicou à carreira universitária, galgando todos os postos.
Seus estudos sobre hipertensão arterial, iniciados em 1941, são clássicos na literatura mundial da especialidade. De arguta visão científica, liderou em nosso meio as investigações sobre as doenças renais. Chefiou o grupo de médicos que difundiu o emprego da diálise através do rim artificial e criou a infraestrutura básica da Unidade Transplantes Renais do Hospital das Clínicas da FMUSP. Os mais de 50 trabalhos que publicou, com a mais escorreita probidade científica, atestam sua pródiga vida de pesquisador.
José Barros Magaldi ingressou, em 1944, na Faculdade de Saúde Pública da USP, onde, a convite do professor Francisco Antonio Cardoso, participou dos programas do Departamento de Nutrição, galgando aí a condição de professor-adjunto. Nessa importante instituição de ensino também atuou prestimosamente na Comissão de Publicações da Revista de Saúde Pública.
Pari passu teve promissora carreira acadêmica na FMUSP, tornando-se professor de clínica médica e o primeiro professor titular da disciplina de nefrologia, após concurso de provas e títulos realizados em 1977, além de atingir a chefia do Serviço de Nefrologia do Hospital das Clínicas.
Dedicou-se durante 40 anos ininterruptos às atividades de ensino, contribuindo de forma lúcida e segura na formação de centenas de alunos, através de suas notórias qualidades de mestre e educador.
Oswaldo Paulo Forattini – um dos mais brilhantes intelectuais da saúde pública, que conviveu com José Magaldi – refere que ele “tinha personalidade ímpar e era muito dedicado nos seus afazeres. Foi um homem de ciência e de ensino, sempre revestindo o desempenho dessas atividades com a mais alta significação propiciada pelos inexcedíveis dotes de inteligência e bondade de que foi portador. Foi o exemplo de uma vida toda dedicada à dignidade do homem”. José Barros Magaldi teve, outrossim, influente vida associativa, tornando-se fundador e o primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (1960-1962).
Prefaciou o livro “Insuficiência Renal Aguda” de Emil Sabbaga e Eleonidas Vasconcelos, ambos da Unidade de Doenças Renais do Departamento de Clínica Médica da FMUSP. Seu último artigo publicado foi Calcium and Phosphate Transport in Isolated Segments of Rabbit Henle’s Loop – Rocha AS, Magaldi JB, Kokko JP. J Clin Invest: 59 (5): 975-83, 1977.
De acordo com Yaro Ribeiro Candra, “a vida de José Magaldi, no exercício da medicina, foi um verdadeiro sacerdócio. Médico exemplar aliou à sua renomada competência profissional as virtudes de homem bom. Todos os seus incontáveis pacientes, fossem quais fossem, desfrutaram da ciência e da arte do médico e da afetuosa dedicação do amigo, recebendo tratamento eficaz e humano. Viveu como o melhor dos cristãos: amou ao seu próximo muito mais do que a si mesmo. Dedicou-lhe a sua existência, mesmo com prejuízo do aconchego familiar, de suas horas de descanso e momentos de lazer”
José Magaldi foi exemplo de pai, esposo e de cidadão, sabedor de suas responsabilidades sociais. Exerceu sua cidadania de modo consciente e se caracterizou por ser persistente defensor da liberdade, da justiça e dos direitos humanos. Foi um dos pioneiros e grandes vultos da nefrologia em nosso meio. Como professor e investigador, ele honrou e projetou a FMUSP no meio científico nacional e internacional através de sua obra.
Yaro Ribeiro Candra ainda dele assim se expressou: “A vida de José Barros Magaldi – exemplo digno de ser seguido – constituiu a aplicação do ensinamento contido nesta frase milenar de Hipócrates: ‘vida é curta, mas a arte é longa’, e para dominar a arte e acrescentar-lhe ao patrimônio humano alguma coisa, é necessário, antes de tudo, que a brevidade da vida se multiplique no trabalho; se enriqueça no amor, se ilumine no ideal e se tempere na luta”.
José Barros Magaldi faleceu subitamente, em 9 de fevereiro de 1978, aos 64 anos. Seu nome é honrado como patrono da cadeira no 50 da augusta Academia de Medicina de São Paulo. A Sociedade Brasileira de Nefrologia instituiu um prêmio que leva seu nome, assim como dá nome, na cidade de São Paulo, a uma Unidade Básica de Saúde (UBS), no bairro do Itaim Bibi, e a uma rua, no bairro Jardim Novo Santo Amaro; dá também nome a uma avenida na cidade de Tatuí (SP), no bairro Jardim Lucila.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
José Barros Magaldi exerceu o cargo somente até 1978, quando veio a falecer subitamente. Sucedeu-o, inicialmente como professor interino e, depois, em 1985, após concurso de provas e títulos, como o segundo professor titular da disciplina de nefrologia, Marcelo Marcondes Machado. Nessa ocasião, a disciplina sob sua direção funcionou na Divisão de Clínica Médica I do Instituto Central do Hospital das Clínicas.
A Sociedade Brasileira de Nefrologia foi fundada em 2 de agosto de 1960, alguns meses antes da fundação da Sociedade Internacional de Nefrologia. Sua Ata de Fundação foi assinada por 42 médicos, nem todos nefrologistas.
Emil Sabbaga é membro titular e emérito da cadeira nº 50 da Academia de Medicina de São Paulo, cujo patrono é José Barros Magaldi.