José de Almeida Camargo
José de Almeida Camargo nasceu em 1o de outubro de 1903, na cidade de Amparo (SP). Era filho de Laudo Ferreira de Camargo (1881-1963) e de Noêmia Marques de Almeida Camargo (1881-1957). Teve mais seis irmãos: Adelaide, Maria Aparecida, Francisca, Moriza, Laudo e Áureo.
Fez seus primeiros estudos no Ginásio do Estado na cidade de Ribeirão Preto (SP), tendo sido presidente do Centro Ginasial desse município. Graduou-se, em 1926, pela Faculdade de Medicina de São Paulo, hoje, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), defendendo nesse ano a tese Introdução ao Estudo das Síndromes Extrapiramidais.
José de Almeida Camargo foi também um líder acadêmico, presidindo o Centro Acadêmico Oswaldo Cruz . Já formado, foi um dos idealizadores e fundadores da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (AAAFMUSP), efeméride ocorrida em 5 de junho de 1930. Auxiliou a primeira diretoria num mandato bienal, tendo como primeiro presidente Ernesto de Souza Campos .
Iniciou sua vida profissional como clínico da Sociedade de Beneficência Portuguesa e na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. A partir de 1929 tornou-se assistente da Faculdade de Medicina de São Paulo e nesses anos publicou o artigo “Freud e a Psicanálise”.
Em 1931 tornou-se secretário de seu pai que, na ocasião, era interventor federal em São Paulo.
José de Almeida Camargo foi um dos líderes da Revolução Constitucionalista de 1932. Participou das primeiras reuniões preparatórias, dentre elas a de 24 de fevereiro de 19325 , no salão do jornal “A Razão ”, à Rua José Bonifácio, na pauliceia, aonde acorreram diversos intelectuais motivados em criar uma organização política em face dos percalços da Revolução de 1930, que depôs o presidente Washington Luís. Essa reunião ocorreu sob a liderança de Plínio Salgado e serviu para organizar a Sociedade de Estudos Políticos (SEP), sendo o estopim da Revolução Constitucionalista de 1932, o maior movimento popular do Brasil republicano.
José de Almeida Camargo também esteve presente, com mais de uma centena de participantes, na assembleia da fundação da SEP, ocorrida no Salão de Armas do Clube Português, à Avenida São João, na capital paulista, em 12 de março de 1932. Aí foram apresentados nove princípios básicos da SEP elaborados por Plínio Salgado . José de Almeida Camargo além de ter participado da coordenação da SEP, atou no Setor de Higiene e Medicina Social.
Lutou como soldado na Revolução Constitucionalista de 1932, especificamente no Batalhão 14 de Julho, comandado pelo major Leite Penteado, sob as ordens do coronel Brasílio Taborda, que atuou na Zona Sul do estado de São Paulo.
José de Almeida Camargo foi um dos fundadores e presidente, em 1934, da coligação política Federação dos Voluntários de São Paulo, organização que se destacara durante a Revolução de 1932. Seu nome foi um dos indicados dessa entidade para concorrer, em maio de 1933, à Assembleia Nacional Constituinte na legenda da “Chapa Única por São Paulo Unido”. Elegeu-se como suplente, assumindo as funções de constituinte em novembro de 1933, em virtude da desistência de Valdomiro Silveira, que não chegou a tomar posse.
Assim, tornou-se deputado constituinte (Figura 1) na cidade do Rio de Janeiro. Em seu mandato defendeu o direito de voto para os maiores de 18 e menores de 21 anos, desde que tivessem o curso secundário completo. Outrossim, toda a sua bancada pregou incessantemente a anistia para todos os perseguidos políticos, com alusão específica aos prejudicados em 1930 e 1932.
Certa feita recebeu um telegrama de Benedicto Veiga França, um excombatente, que assim lhe dirigia: “Deputado Almeida Camargo – Rua Christovam Colombo, 3 – São Paulo. Como oficial civil, combatente do Batalhão ‘Fernão Dias Paes Leme’ na guerra de 32, hipoteco inteira e irrestrita solidariedade à Federação dos Voluntários de São Paulo – partido político – único à altura da dignidade e ideais ‘mocidade trincheiras’ São Paulo”.
Com a promulgação da nova Carta Magna, em 16 de julho de 193411, teve seu mandato estendido até 1935. José de Almeida Camargo colaborou com artigos em diversos jornais e revistas de São Paulo, além de ser de sua lavra a obra A Doutrina de Freud (1926).
De acordo com Guido Arturo Palomba, que lhe dedicou um artigo,José de Almeida Camargo “foi um semeador de grandezas. Amante da literatura, dominava línguas estrangeiras, entre elas, o inglês. Assim lhe foi possível traduzir a obra de rara abrangência, que se tornou um dos livros campeões de venda, o famoso ‘Conhece-te pela Psicanálise’ (How to Psycho-Analyse Yourself) de Josef Ralph (1932)13. Foi também um dos criadores, em 1930, da Associação Paulista de Medicina e seu primeiro diretor cultural.”
José de Almeida Camargo foi um dos mais ilustres médicos dos primeiros decênios do século XX. A renomada pintora Anita Malfatti (1889-1964) o homenageou num retrato, no ano de 1936. Ele não se casou e tampouco deixou descendentes.
Faleceu precocemente, em 11 de abril de 1937, com apenas 33 anos. Seu nome é honrado como patrono da cadeira no 106 da augusta Academia de Medicina de São Paulo; dá nome a um Prêmio de Cultura Geral do Departamento Científico da Associação Paulista de Medicina, assim como a uma rua na cidade de São Paulo, no bairro de Vila Madalena.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
A foto inicial e parte do material aqui consignado foram obtidas pelo primeiro ocupante da cadeira no 106, acadêmico Francisco Domenici Neto, com a historiadora e sobrinha de José de Almeida Camargo, a professora doutora Ana Maria de Almeida Camargo, segunda ocupante da cadeira nº 24 da Academia Paulista de História, cujo patrono é Simão de Vasconcelos.
Laudo Ferreira de Camargo foi advogado, magistrado, jurisconsulto, interventor federal em São Paulo, em 1931; ministro (1932-1951) e presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).
Oswaldo Gonçalves Cruz é o patrono da cadeira nº 99 da Academia de Medicina de São Paulo.
Ernesto de Souza Campos é o patrono da cadeira nº 118 da Academia de Medicina de São Paulo.
Nessa mesma data uma enorme multidão comprimida na Praça da Sé, no Centro de São Paulo, participava do comício promovido pela Liga Paulista Pró-Constituinte para celebrar o quadragésimo primeiro aniversário da Constituição de 1891, suspensa pelo presidente Getúlio Vargas desde a sua ascensão ao poder, em novembro de 1930.
O jornal “A Razão” foi fundado por Sousa Aranha, na capital paulista, e teve Plínio Salgado como redator a partir de junho de 1931, pouco tempo após a sua fundação. Nele, Plínio Salgado desenvolveu intensa campanha contra a constitucionalização do Brasil. Como resultado atraiu o ódio de ativistas contrários a ditadura, os quais, em 23 de maio de 1932, atearam fogo à sede do jornal pouco antes da eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932.
Plínio Salgado (1895-1975) foi jornalista, escritor, teólogo e político paulista. Fundou a Ação Integralista Brasileira (AIB), partido de extrema-direita, inspirado nos princípios do movimento fascista italiano. O fascismo italiano caracterizou-se como um movimento político e filosófico estabelecido por Benito Mussolini, em 1922, onde fazia prevalecer os conceitos de nação e de raça sobre os valores individuais, sendo representado por um governo autocrático, centralizado na figura de um ditador. Plínio Salgado pertenceu a Academia Paulista de Letras.
A Sociedade de Estudos Políticos (SEP) tinha como objetivo ser uma organização que, partindo do estudo da realidade e dos problemas brasileiros, bem como dos ensinamentos de grandes pensadores nacionais e estrangeiros, visava estabelecer um novo rumo para o País; salvá-lo da sanguinolenta balbúrdia que nele imperava desde o fim do Império e reconduzi-lo à sua vocação histórica.
Plínio Salgado propôs, em 6 de maio de 1932, a criação de uma secção cujo fim seria o de difundir em todas as classes sociais, o programa político regenerador da SEP. Tal secção chamar-se-ia Ação Integralista Brasileira e suas diretrizes foram reunidas num documento chamado “O Manifesto”, aprovado numa outra reunião realizada em junho. Contudo, esse documento só foi impresso e distribuído em 7 de outubro de 1932, após o término da Revolução Constitucionalista, que terminou com a derrota militar das forças constitucionalistas, em 2 de outubro daquele ano, com a assinatura do armistício na cidade vale-paraibana de Cruzeiro (SP). O documento ficou conhecido como “Manifesto de Outubro”, apesar de ter sido redigido em maio e aprovado em junho. José de Almeida Camargo foi um dos membros da SEP encarregados de distribuir o “Manifesto de Outubro” na cidade de São Paulo.
Carlota Pereira de Queiroz é a patronesse da cadeira no 71 da Academia de Medicina de São Paulo.
A Assembleia Nacional Constituinte foi instalada em 15 de novembro de 1933, ficando reunida até maio de 1935, mesmo após a nova Carta Magna ter sido promulgada em 16 de julho de 1934, e Getúlio Vargas ter sido eleito presidente da República.
Guido Arturo Palomba presidiu a Academia de Medicina de São Paulo por dois mandatos bienais entre 2003-2004 e 2007-2008, e é membro titular e emérito da cadeira no 1 desse sodalício, cujo patrono é Luiz Pereira Barreto.
Essa obra encontrava-se, em 1949, na sétima edição.