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Biografia

José Martins Fontes

José Martins Fontes, mais conhecido simplesmente por Martins Fontes, nasceu em Santos, aos 23 de junho de 1884. Era filho do dr. Silvério Martins Fontes e Isabel Martins Fontes.

Os primeiros estudos foram ministrados pelo seu progenitor. Frequentou os principais colégios de seu tempo, entre eles o Colégio Nogueira da Gama, em Jacareí. Mais tarde foi para o Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio Alfredo Gomes. Conhecido carinhosamente pela população santista como “Zezinho Fontes”, começou escrever muito cedo. Aos oito anos de idade, Martins Fontes publicou seus primeiros versos num jornalzinho denominado “A Metralha”, dando os primeiros sinais do grande poeta que iria ser durante sua vida, do qual foram publicados 9 números, aos domingos, e cujo cabeçalho, em três cores, era feito por seu avô, o coronel Francisco Martins dos Santos.

Em 1º de maio de 1892, estreou o moço poeta, recitando um hino a Castro Alves no Centro Socialista, organização marxista-leninista criada por seu pai. Com dezesseis anos, ele lê uma ode de sua autoria na inauguração do monumento comemorativo ao quarto centenário do descobrimento do Brasil, levantado próximo à biquinha em São Vicente.

Matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, época em que morava na Pensão da Conceição, no Catete. Após brilhantíssimo curso, formou-se com distinção. Sua tese, Da Imitação em Síntese, defendida em 20 de dezembro de 1907, foi um sucesso tal o número de amigos e colegas que afluíram ao local de arguição. Tornou-se médico sanitarista.

Boêmio, irrequieto, marcava sua presença por onde passava. Poeta primoroso, foi amigo de Olavo Bilac, Coelho Neto, Emílio de Menezes, Goulart de Andrade, Oscar Lopes, Leal de Souza, dentre outros.

Durante o tempo de estudante trabalhou na “Gazeta de Notícias”, em “O País” e em outros órgãos da imprensa carioca. Enquanto aluno de medicina foi interno da Santa Casa do Rio de Janeiro e auxiliar de Oswaldo Cruz na campanha de saneamento do Rio de Janeiro (1910).

Simples e afável nas maneiras, tratava a todos com jovialidade e fidalguia que o tornaram popular. Possuidor de uma delicada sensibilidade e de uma esmerada educação, sabia fazer de cada criatura que encontrasse um admirador exaltado de suas qualidades de poeta, médico e ser humano.

Depois de formado foi médico da comissão das obras do Alto Acre. Voltou, em 1911, para sua terra natal que ele tanto amava. Aí trabalhou na Santa Casa de Misericórdia de Santos como tisiologista; na Beneficência Portuguesa da mesma cidade; como inspetor sanitário do Estado; delegado de saúde e diretor do Serviço Sanitário.

De simpatia irradiante, era sempre cercado pelos seus colegas, pois a prosa do poeta era sempre disputada. Paulo Fraletti em “Vocação Hipocrática” (1966) conta-nos que, certa feita, surpreenderam-no no pátio da Santa Casa de Santos, cercado de mulheres magras e doentias, apertando no peito seus filhos maltrapilhos e famintos. Mulheres que iam buscar leite pago com a exibição da miséria em que viviam seus rebentos. Leite que, pouco, não chegava para todos. E Martins Fontes nervoso, colérico, apoplético, de braços abertos para o céu, exclamava: Deus! Ó Deus! Se existis, porque ao me fazerdes médico e poeta, duas inutilidades absolutas, não me fizestes uma vaca holandesa e de úberes fartos?

Martins Fontes também foi médico das seguintes entidades: Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio; Companhia de Segurança Industrial; Companhia Brasil e Casa de Saúde de Santos.

Em 1914, mudou-se para Paris, e lá fundou, com Olavo Bilac, uma Agência Americana para serviços de propaganda dos produtos brasileiros, na Europa e em outros países.

Durante a epidemia de gripe de 1918, tornou-se um dos beneméritos da cidade de Santos, desdobrando-se para socorrer os bairros do Macuco e Campo Grande, e estendendo sua ação à localidade de Iguape.

Notabilizou-se como conferencista. Destacado humanista, lutou junto com Oswaldo Cruz na defesa sanitária de sua cidade. Dois dias por semana dedicava-se por completo ao atendimento, em seu consultório, de pessoas sem poder aquisitivo.

A partir de 1924 tornou-se correspondente da Academia de Ciências de Lisboa.

Quando Júlio Prestes, presidente do Estado e candidato à presidência da República, seguiu para a Europa e Estados Unidos, Martins Fontes foi convidado para acompanhá-lo como médico da caravana paulista, fazendo parte da comitiva oficial.

Muito viajado, conheceu o Brasil de norte a sul; a Argentina, Uruguai, Estados Unidos, França, Inglaterra, Espanha, Itália e Portugal.

Foi titular da Academia das Ciências de Lisboa e, ao longo de sua vida, recebeu os títulos de comendador da Ordem de São Tiago da Espada; Ordem de Cavalheiro da Espanha; Par da Inglaterra e Grã-Cruz da Ordem de São Tiago da Espada, conferido pelo presidente da República de Portugal.

Escreveu durante toda sua vida, trabalhando para os jornais: “A Gazeta” e “Diário Popular”, em São Paulo, e para o “Diário de Santos” e o “Cidade de Santos”. Sua obra, bastante volumosa, soma mais de setenta títulos publicados em poesia e prosa, além de algumas de caráter científico.

Dentre suas publicações destacam-se: Granada (poemas, 1899); Da Imitação em Síntese (1907), tese de doutoramento; O Acre, estudos de higiene rural (1908); Verão (versos, 1917 e 1921); A Dança (1919); A Gripe em Iguape (1920); A Transformação das Classes Parasitárias em Classes Produtivas (estudo social, 1920); Boêmia Galante (versos, 1920); Arlequinada (fantasia funambulesca, 1922); As Cidades Eternas (versos, 1923); Marabá (versos, 1923); Prometeu, também traduzido para o francês (versos, 1924); Santos (conferência, 1925); Pastoral (versos, 1925); Partida Para Citera (teatro, 1925); Volúpia (versos, 1925); Decameron (contos, 1925); Vulcão (1926); O Céu Verde (versos, 1926); Rosicler – Cancioneiro (versos, 1927); A Fada Bombom (versos, 1927); O Colar Partido (prosa, 1927); Poesias (1928); Escarlate (versos, 1928); Scheherazade (1929); A Flauta Encantada (poesias, 1931); Terras da Fantasia (prosa, 1933); Sombra, Silêncio e Sonho (1933); Paulistânia (poesias épicas, 1934); Guanabara (1936); I Fioretti (1936); “A Meningite Cérebro-Espinhal em Vila Bela”; A Laranjeira em Flor; Contos; Segredos Profissionais; A Cigarra e a Formiga; O Mar; A Terra; O Céu; A Alegria; A Cavalaria; No Templo e na Oficina; Sevilha; No Rosal das Estrelas; Nós, As Abelhas; Fantástica; Teatro; Sol das Almas; Canções do Meu Vergel e Tataoca (cerâmica brasileira).

Suas obras póstumas são: Indaiá (poesias, 1937); A Canção de Ariel (poesias, 1938); Nos Jardins de Augusto Comte (poesias, 1938) e Calendário Positivista (poesias, 1938).

Martins Fontes faleceu em Santos, aos 25 de junho de 1937, com 53 anos de idade, sendo sepultado no Cemitério de Paquetá, na mesma cidade.

O jornal “A Tribuna” de Santos, quando de sua morte, publicou, entre outras, estas palavras de homenagem: “A cidade de Santos vestiu-se de luto, porque acaba de desaparecer aquele que, na verdade, era o Sol da nossa terra” – Archimedes Bava. “Neste momento, só posso render ao meu queridíssimo Fontes a homenagem do silêncio” – Galeão Coutinho.

Devido à importância de sua obra, foi escolhido post-mortem para ser o patrono da cadeira nº 26 da Academia Paulista de Letras e para patrono da cadeira nº 77 da Academia de Medicina de São Paulo.

Na cidade de São Paulo seu nome é também honrado numa rua e numa Escola Municipal de Educação Infantil Martins Fontes (primeiro e segundo grau); e, na cidade de Santos, numa Escola Municipal de Ensino Fundamental Martins Fontes.

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.