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Biografia

Luiz Migliano

Luiz Migliano nasceu no bairro do Cambuci, na cidade de São Paulo, em 24 de março de 1889, em pleno regime monárquico, mas seu pai o registrou como nascido aos 30 de dezembro 1889, no regime republicano. Era filho de italianos, ambos da província de Cosenza, na Calábria. Seu pai, Felisberto Migliano, era natural da cidade de Ioggi, e sua mãe, Assumpta Oliverio, da cidade de San Marco Argentano.

Luiz Migliano estudou as primeiras letras no Grupo Escolar Sul da Sé e diplomou-se como professor primário na antiga Escola Normal da Praça da República, posteriormente designada por Instituto de Educação Caetano de Campos. Graduou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1913, ocasião em que defendeu a tese de doutoramento intitulada Os Toxoplasmas (Figura 2).

Ainda enquanto acadêmico atuou e galgou a condição de codiretor do laboratório de análises clínicas do Hospital São Joaquim da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência (1909-1912).

Luiz Migliano, graduando em medicina.

Após a sua formatura retornou a São Paulo, onde atuou como clínico, mas, particularmente, exerceu a medicina laboratorial – análises clínicas. Fundou, em 1913, o Laboratório de Análises e Pesquisas Clínicas “Dr. Luiz Migliano”. Trabalhou simultaneamente como especialista químico-bacteriologista no Hospital Umberto I (1914-1916) e diretor do laboratório de análises clínicas do Hospital de Caridade do Brás (1918-1920).

Luiz Migliano casou-se em 9 de julho de 1914, na cidade de São Paulo, com Ursulina Martins Ferreira Migliano, matrimônio que perdurou por 53 anos (!) e proprocionou-lhes quatro filhos: Mario (22 de agosto de 1915); Luiz (30 de novembro de 1916); Carlos (27 de abril de 1919) e Max Ferreira Migliano (15 de julho de 1920). Idealista, participou como membro do conselho da Universidade Livre de São Paulo, ombreando com notáveis da época. Este conselho teve como presidente o grande jurista, o barão Brasílio Machado; e como membros, dentre outros: Eduardo Augusto Ribeiro Guimarães, Henrique de Magalhães Gomes, Spencer Vampré, Ulysses de Freitas Paranhos, Luiz Migliano, J. Jesuino Maciel, Adelino Leal, José Machado Filho, Valeriano de Souza e Raul Renato Cardoso de Mello.

Dedicou-se igualmente à vida acadêmica na Faculdade de Medicina da Universidade Livre de São Paulo, sendo professor da cátedra de fisiologia geral (1914-1915) e assistente do professor Ulysses Paranhos na cadeira de propedêutica, clínica e patologias médicas (1914-1917). Nessa condição atendeu gratuitamente inúmeros pacientes nas dependências da Policlínica localizada na Rua José Paulino.

Lecionou também, em 1933, histologia e microbiologia no curso de odontologia da Faculdade Livre de Farmácia e Odontologia do Estado de São Paulo.

Luiz Migliano (Figura 3) tinha gênio inventivo e classificou-se, em 1966, em primeiro lugar, em “Inventos da Atualidade”, no I Concurso Nacional do Invento Brasileiro organizado pelo Sedai – Serviço Estadual de Assistência aos Inventores.

Publicou 30 trabalhos científicos em revistas especializadas. Em 1943 desenvolveu a reação para o diagnóstico precoce da sífilis, que ficou sendo conhecida como “Reação de Migliano”. Essa descoberta e publicação foram motivos de outros 26 trabalhos feitos por diversos autores latino-americanos e europeus, além de inspirar três teses de formatura, sendo duas na Argentina (1954) e uma no México (1959). Ademais, lhe rendeu prêmios, como o Standard Oil de Honra ao Mérito, em 1951.

No governo de Abreu Sodré foi agraciado com o Prêmio Governo do Estado, em 1969, fazendo jus à medalha do valor cívico. Dentre outras comendas que recebeu salientam-se: medalha M. M. D. C. da Sociedade Veteranos de 32; medalha Defesa da Constituição, outorgada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo; e medalha Vital Brazil, oficialilizada pelo Governo do Estado de São Paulo.

Pertenceu também às seguintes entidades: Centro Independência – Sociedade Beneficente e Cultural (sócio honorário, 1944; e sócio benfeitor, 1946); Sociedade Médica São Lucas (sócio efetivo, 1949); Associação Paulista de Medicina (1951); e Sociedade Paulista de História da Farmácia e de Ciências Afins (sócio honorário, 1976).

Luiz Migliano ao microscópio em seu gabinete de trabalho, em 1975.

Luiz Migliano participou de diversos congressos na qualidade de ouvinte e de conferencista. Era autodidata e dotado de invulgar cultura. Além do idioma pátrio, falava e escrevia em italiano, francês e espanhol. Lia, diariamente, na íntegra, dois jornais paulistanos. Apreciava palavras cruzadas, óperas, teatrro e tinha uma discoteca com cantores clássicos italianos como Beniamino Gigli, Enrico Caruso, Tito Schippa, Giovanni Martinelli, Ferruccio Tagliavini e Gabriella Besanzoni Lage, dentre outros.

Por ocasião do cinquentenário de sua formatura pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, comemorado em 21 de dezembro de 1963, recebeu de seus colegas, amigos e familiares um pergaminho com 56 assinaturas contendo os seguintes dizeres: “Ao insígne médico Dr. Luiz Migliano, nosso respeito e admiração por tão sublime vida científica, cuja reputação permite que se diga ser um homem perfeito”.

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

As fotos assim como parte dos dados aqui consignados foram obtidas na biblioteca da Associação Paulista de Medicina. In: “Dr Luiz Migliano (1889-1977)” de autoria de Mario Ferreira Migliano. Imprensa Metodista – São Bernardo do Campo, 1980, 101 páginas.

A foto em epígrafe foi tirada por ocasião de seu 87º aniversário.

Felisberto Migliano chegou ao Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em 1870. Embora tivesse pouquíssimo dinheiro que mal dava para adquirir uma passagem de trem para São Paulo, foi instado por um cambista a comprar um bilhete da loteria federal, tendo a sorte de ganhar 1º prêmio!

Em São Paulo, Felisberto Migliano casou-se com Assumpta Oliverio, conúbio que lhes deram nove filhos: Luiz, Emílio, César, Ernesto, Theodoro, Maria, José (Maria e José eram gêmeos), Julieta e Roberto. Assumpta era viúva e já possuía um filho chamado Damiro. Felisberto Migliano era abolicionista e participou ativa e financeiramente da campanha pela abolição da escravatura. Em suas propriedades, no bairro do Cambuci, dava abrigo aos negros que, fugindo de seus patrões, procuravam a capital.

A Universidade Livre de São Paulo, instituição particular de ensino, foi primeira no gênero que surgiu no Brasil. Foi fundada pelos médicos Eduardo Augusto Ribeiro Guimarães (1860-1931), reitor; Luiz Pereira Barreto e Ulysses Paranhos, em 4 de dezembro de 1911. Começou a funcionar em março de 1912, num prédio da Rua Senador Queiroz. A entidade era apoiada por um grupo de advogados, engenheiros e farmacêuticos. Entretanto, a Universidade Livre de São Paulo desmoronou ante a negativa de seu reconhecimento pelo Conselho Nacional de Ensino por partidarismo político da época, sendo extinta em 1917. Antonio Carlos Pacheco e Silva, José Louzã e Paulo Raia dentre outros alunos, terminaram o curso médico no Rio de Janeiro ou na Bahia. In: “Médicos Italianos em São Paulo” de Carlos da Silva Lacaz. Gráfica Editora Aquarela S. A., 1989.

Vital Brazil Mineiro da Campanha é o patrono da cadeira nº 62 da Academia de Medicina de São Paulo.