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Biografia

Luiz Venere Décourt 

Luiz Venere Décourt nasceu em Campinas, em 7 de dezembro de 1911. Era filho do também professor Paulo Décourt e de Alzira Venere Décourt. 

Graduou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Nessa mesma instituição obteve seus títulos de doutor e de professor livre-docente e, em 1950, tornou-se professor titular de clínica cardiológica e professor catedrático de clínica médica do Departamento de Clínica da FMUSP. 

Em 1968 chefiou o grupo clínico da equipe brasileira que realizou o primeiro transplante cardíaco no país e o segundo no mundo. 

Durante os últimos trinta anos em que exerceu suas atividades didáticas na Universidade de São Paulo, os professores Luiz Venere Décourt e Euryclides de Jesus Zerbini criaram as disciplinas de cardiologia clínica e de cirurgia cardíaca no Hospital das Clínicas (HC); os Serviços de Tratamento Clínico e Cirúrgico das Cardiopatias, que resultaram em janeiro de 1977, na fundação do Instituto do Coração do HC-FMUSP, no qual Décourt exerceu o cargo de diretor científico entre 1978 e 1981, até sua aposentadoria. 

Foi autor dos livros Lições de Patologia Cardiocirculatória (1945), Biópsia do Coração Humano (1965), Doença Reumática (1969) e Medicina Preventiva em Cardiologia (1988). 

Luiz Venere Décourt publicou 324 artigos científicos em revistas nacionais e internacionais e proferiu 306 conferências científicas no Brasil e no exterior (Argentina, Bélgica, Equador, França, Itália, Peru e Venezuela). 

Foi membro de 40 sociedades científicas nacionais e 21 estrangeiras. Coroaram sua carreira acadêmica duas distinções especiais: os títulos de doutor “Honoris Causa” das Universidades de Coimbra, Rio Grande do Sul e Paraná, trazendo-lhe o atestado de que seus ensinamentos e suas crenças existiram, foram ouvidos e deram frutos; e o Prêmio “Professor Emérito” com o Troféu “Guerreiro da Educação” – 2000, oferecido pelo Centro de Integração Empresa-Escola do Estado de São Paulo e pelo jornal O Estado de S. Paulo. 

Décourt recebeu outros 34 prêmios de sociedades médicas e do governo. Dentre eles destacaram-se o Prêmio Alfred Jurzkwoski da Academia Nacional de Medicina; o Prêmio Astra de Medicina e Cirurgia; e o Prêmio Moinhos Santista em Ciências da Saúde. 

Luiz Venere Décourt foi um homem muito especial. Chegou cedo à posição de professor titular e honrou o cargo como poucos. Dotado de rara inteligência, concentrou notáveis conhecimentos de clínica médica, sendo sempre visto como um grande médico. 

Em 1981, ao se aposentar compulsoriamente aos setenta anos de idade, tornou-se professor emérito. Além de suas obrigações regulares na faculdade de medicina, manteve um curso de especialização em cardiologia durante vinte anos, e curso de pós-graduação durante dez anos. 

Sempre foi um estudioso disciplinado, um leitor voraz que mantinha fichas pessoais dos artigos que lia. E não apenas de medicina – são lendários seus profundos conhecimentos de música, matemática, história e artes em geral. Sempre valorizou a cultura geral, não como um luxo de intelectuais, mas como um instrumento valioso de comunicação entre os homens, de aproximação entre médicos e pacientes. 

Amparou os jovens, incentivando-os com seu entusiasmo e mostrando-lhes caminhos. Foi ao mesmo tempo disciplinador, compreensivo e sensível; intolerante com falácias e preconceitos, com a maldade e a ignorância. Acolhia, no entanto, livremente a discussão de ideias e, sobretudo, tinha enorme compreensão pelo ser humano, aceitando suas limitações e diferenças. Graças a essa grande capacidade de compreensão dos homens, foi um agregador e um formador de equipes. Pelo seu serviço de cardiologia passaram 897 estagiários com pelo menos um ano de participação, de todo o Brasil e da América Latina. 

Sempre procurava o lado bom das pessoas e ajudou a muitos. Desde os tempos do Hospital das Clínicas cunhou a expressão “a mística da enfermaria”, para significar que a profissão médica tem um cunho sacrossanto, porque se dedica a preservar valores inalienáveis da pessoa humana, como a saúde e a vida. 

Luiz Venere Décourt faleceu em 20 de maio de 2007, com 96 anos incompletos. 

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.